Depois de dez dias de locaute, ou coisa semelhante, as dificuldades vão se acumulando, ou por outra, a gente percebe problemas. A paralisação espalhou-se pelo sistema rodoviário do país, como rastilho de pólvora. Portos e aeroportos passarem a depender da chama propulsora do transporte rodoviário, inclusive os passos do próprio governo que demorou a tomar atitudes. Mais grave é saber que o governo nem é governo. Temer é pífio! Foi assim que se mostrou. A paralisação é dos motoristas transportadores, mas a paralisia já era a constante governista, principalmente pela falta de credibilidade. De Temer, pouco se esperava e não deu outra: não saiu nada! Há mais de uma semana estamos vendo carências como fraturas expostas na força de trabalho e produção do país. São tantos os problemas, desde o diesel e gasolina, até o escandaloso custo do gás de cozinha. Esse preço vem pesando demais há mais tempo, mas é problema de pobre, que não possui frota de caminhões. Por isso ficou esquecido, o pobre botijão de gás, necessário e imprescindível para fazer a comida em todos os ranchos. Isso mesmo, pouco se falou do preço absurdo do gás de cozinha.
Vermelhos na mira
Impressionantes são as elucubrações sobre as causas da crise brasileiras. A polícia secreta descobriu que havia interesse paredista de empresários, para lucrar em cima da força trabalhadora. Para tanto não precisava investigar, pois sempre será assim, com interesses manipuladores. O mais curioso, no entanto, ressurge das mentes iluminadas aristocráticas que temem a invasão comunista. Se for rubente é indigitado como subversivo. A aporia de alguns observadores fundamentalistas do ódio apontou infiltração comunista na greve. De tantas suspeitas resolvi olhar pela janela. E fiquei perplexo. Contei, na manifestação de motos e caminhões, muitos vermelhos, “comunistas”, portanto. Quase liguei para o Geddel, o deputado Cunha, Padilha e outros caçadores de comunistas para algemar os caminhões vermelhos infiltrados! Então, se você enxergar um veículo vermelho no acostamento, cuidado! Comunismo! Essa paranóia parece não ter fim.
Inevitável
Diante da súbita mobilização no Brasil inteiro e o esperado rescaldo com algumas medidas governamentais, pouco claras, seria ingenuidade demais esperar que se encerrasse completa e monolítica. As citadas e inevitáveis infiltrações são hipóteses muito prováveis e toleráveis.
Governo bandido
Insistir, no entanto, que estamos diante de uma intentona comunista pelas infiltrações é inadmissível. Cegueira demais. O povo vinha aplaudindo os caminhoneiros por muitas e muitas razões de decepção e justificada rebeldia. A burguesia inerte, no entanto, prefere tapar os ouvidos ao clamor do povo que sofre. Retorna ao torpor social pedindo a volta da ditadura militar. É a forma fingida de calar a necessidade de nova consciência política. Para isso os fundamentalistas liberais lançam mãos dos meios odiosos sacramentando elucubrações do tal perigo comunista. As manifestações dos que se dizem esquerdistas são rechaçadas por uma fala retrógrada e pusilânime, clamando por intervenção militar. Isso nem os militares mais conseqüentes admitem, principalmente os que conhecem os momentos de bárbara exceção, verdadeiro banditismo oficial do século passado. Isso merece ser rejeitado como argumento, embora a memória seja um alerta. É absurdo defender uma ditadura em vez de enfrentar democraticamente o alvoroço dos inconformados com o desemprego que degrada as relações. Desprezar a soberania igualitária das urnas e pedir o emprego de força arbitrária é atentar contra a liberdade.
Punidade
Nelson Meurer, PP, é o primeiro parlamentar condenado pela Lava Jato. O fato mostra que combate à corrupção não parou no presidente Lula.
Caiado
O senador Ronaldo Caiado, DEM, foi à tribuna e apregoou a renúncia de Temer para antecipar pleito presidencial.
Perdidos
O país parou e desafiou teses de dominação, quando uma única categoria transportadora mobilizou-se. O Brasil é um gigante que não investe em transporte alternativo e coletivo. O sistema rodoviário, especialmente o automóvel, esgotou-se, por ser individualista. Sem mudança estamos perdidos.