Jurassic World – Reino Ameaçado está em cartaz nos cinemas, e tem pontos em comum com seu equivalente na primeira trilogia de Jurassic Park (1993-1996-2000). Quem dirige o filme é o talentoso J. A. Bayona, cineasta que entregou anos atrás o excelente filme de terror O Orfanato, do qual sou fã. Bayona é mais diretor do que Colin Trevorrow, diretor do primeiro Jurassic World, de 2015. Pesa para Trevorrow, um diretor insípido, o mérito de ter renovado o interesse nos dinos, e a estratégia que ele usou e abusou foi apelar para a nostalgia. A estrutura, a trilha e diversas cenas de Jurassic World fazem referência direta a Jurassic Park, de 1993, o primeiro e ainda melhor de todos, dirigido por Spielberg. Digo que Trevorrow é insípido porque ele faz uma mímese desprovida de emoção, regida pelo CGI e pelo deslumbramento visual e ritmo. Jurassic World – Reino Ameaçado, que está em cartaz em Passo Fundo, repete os erros da continuação de Jurassic Park, e até nisso parece que a série está incorporando a original.
Em The Lost World (1996), uma equipe volta à uma segunda ilha para documentar dinossauros que sobreviveram sem auxílio dos cientistas do parque, e são surpreendidos por um time de caçadores que consegue levar um T-Rex para San Diego, na Califórnia.
No filme em cartaz, os protagonistas de Jurassic World voltam à ilha para salvar os animais sobreviventes de uma catástrofe natural, e o filme dedica toda sua segunda parte para mostrar – não vou falar mais – as consequências de tentar levar o que é selvagem por natureza para a civilização. A ideia de explorar mudanças genéticas nos dinossauros é mais uma vez explorada e o que, na primeira metade, ainda parecia ser uma divertida aventura, descamba para um filme indeciso em seus ritmo, desenvolvimento e interesse. E novamente, surgem as referências como forma de mascarar, nos efeitos, nas explosões, nos novos dinossauros, no deslumbramento, as indecisões do roteiro. Nostalgia e referência são legais, mas querer que um filme sobreviva disso é mostrar o lado mais fraco da criatividade na indústria de hoje.
Mas não tenham medo: adolescentes e crianças malucas pelos dinos – como meu filho – vão ficar maravilhados, mas também mais assustados: é provavelmente o filme mais sombrio da série até agora.
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Para quem ama cinema, é um tempo confuso. O fim cada vez mais iminente das locadoras – algumas ótimas em Passo Fundo resistem bravamente apoiadas pela cinefilia dos clientes mais fervorosos – convive lado a lado com a ascensão do streaming e o download de filmes na internet, uma prática que é difícil de impedir. O problema é que, sem a locação, resta apenas o cardápio restrito de serviços como Netflix ou Amazon (escassos em clássicos e filmes cult) ou a ilegalidade e a menor qualidade. A solução tem sido apostar no trabalho que distribuidoras têm feito pensando nos colecionadores. Duas distribuidoras fazem a alegria dos fãs de cinema aqui no Brasil. A primeira é nacional. A Versátil (www.versatilhv.com.br/) aposta em packs reunindo a obra de diretores, movimentos ou gêneros, já pensando justamente no público colecionador. Em junho, por exemplo, um pacote aborda os filmes sobre a Guerra do Vietnam no cinema (a primeira e a segunda guerra já foram abordados em packs lançados nos meses anteriores com filmes, inclusive, nunca lançados comercialmente no Brasil) e em um pacote com filmes menos conhecidos do diretor Richard Fleischer. Os preços são atrativos: a famosa coleção FILM NOIR da Versátil, traz em cada pacote 6 clássicos, ao preço de R$ 79,00. Filmes cultuados também podem ser adquiridos pelo site, alguns inéditos no Brasil. “A Paixão de Ana”, do mestre Bergman, que completaria 100 anos em Julho, pode ser adquirido por R$22,00, inclusive contando com registros de making off.
A segunda opção é internacional, a aclamada CRITERION COLLECTION (www.criterion.com) que há mais de uma década é especializada em restaurar e relançar clássicos do cinema em novas versões impecáveis. Para setembro, a Criterion já anunciou o relançamento de ANDREY RUBLEV, clássico em P&B de Andrei Tarkovski, com versão restaurada, A FONTE DA DONZELA, de Bergman, DRAGON INN, do mestre wuxia King Hu, cineasta pouco conhecido no Brasil mas que influenciou o cinema de artes marciais a partir dos anos 60, e um que fez meus olhos brilharem: a versão restaurada digitalmente de EL SUR, de 1983, meu filme preferido do espanhol Victor Erice, diretor de poucas obras, mas contribuição marcante na história do cinema espanhol (seu filme mais famoso é O ESPÍRITO DA COLMÉIA, de 1973). Os filmes da Criterion têm preços mais salgados, mas para quem é colecionador, vale a pena ficar de olho nos sites para guardar seu dinheirinho e investir na própria estante.