OPINIÃO

Brasil ame-o e fique

Por
· 3 min de leitura
Você prefere ouvir essa matéria?
A- A+

Pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha e publicada no Jornal Folha de São Paulo, os resultados da pesquisa apontam que se pudessem 62% dos jovens brasileiros iriam embora do país e que 56% dos adultos com nível superior gostariam de deixar o Brasil. O resultado demonstra que 70 milhões de brasileiros com 16 anos ou mais deixariam o Brasil se pudessem segundo a pesquisa do Datafolha. Para entender a dimensão da pesquisa, seria como se a população dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná simplesmente desaparecesse do país.


A pesquisa, feita em todo o Brasil no mês passado, 43% da população adulta manifestou desejo de sair do país. Entre os que têm de 16 a 24 anos, a porcentagem vai a 62%. São 19 milhões de jovens que deixariam o Brasil, o equivalente a toda a população de Minas Gerais.


A falta de esperança com o futuro pode encontrar sintonia com o resultado das eleições suplementares do Tocantins, neste último domingo, onde os “não votos” superaram apoio a candidatos em eleição ao governo do Tocantins. O Governador eleito recebeu 75,1% dos votos válidos contra o segundo colocado com 24,9% dos votos válidos. O “não voto” (soma de brancos, nulos e abstenções) foi de 527.868 votos (51,84%).


Com o objetivo de compreender tanto desalento, com relação ao futuro do Brasil, o Relatório de Desenvolvimento Humano do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), elaborado em 2016 com informações de 2015, mostra que o Brasil figura na 22ª colocação em média de anos de escolaridade da população adulta com 25 anos ou mais. Ocupa a 24ª posição quando é avaliado o percentual de alunos matriculados no ensino superior em relação ao grupo populacional entre 18 e 24 anos. Já em relação à expectativa de anos de estudo a partir do momento em que se entra na escola, o país está um pouco melhor: 14º lugar.
Para o Diretor de relações institucionais do Quero Bolsa, plataforma de distribuição de bolsas para alunos de estabelecimentos privados de ensino superior, Marcelo Lima atribui os resultados pífios apresentados nos rankings à falta de investimento adequado no desenvolvimento da educação básica. O país gasta, anualmente, US$ 3,8 mil (R$ 11,7 mil) por aluno no primeiro ciclo do ensino fundamental (até o 5º ano).


Esse é um dos piores índices mundiais, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O cenário é um pouco melhor em relação aos gastos com estudantes universitários. Nesse caso, o Brasil investe US$ 11,7 mil (R$ 36 mil), se aproximando de alguns países europeus, como Portugal e Espanha, com despesas, respectivamente, por aluno, de US$ 11,8 mil e US$ 12,5 mil, e até ultrapassa países como a Polônia (US$ 9,7 mil).


Na avaliação dos gastos com educação em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), o Brasil tem posição de destaque, no 7º lugar, à frente de muitos países desenvolvidos, como Alemanha, que investe 4,9% de seu PIB e Japão (3,8%). Cabe destacar, que os países desenvolvidos investem em educação básica 2,5 vezes mais que o Brasil. Para podermos ingressar definitivamente na educação do século 21, faz-se necessário deixar para trás os entulhos do século 20, que é a falta de adequada infraestrutura escolar, efetivar a oferta de escolas com tempo integral, valorizar os professores em todos os aspectos seja no financeiro quanto no reconhecimento da sua relevância bem como trabalhar a interdisciplinaridade dos conteúdos, deixando claras as necessidades relacionadas as habilidades e competências exigidas pelos avanços da Revolução Industrial 4.0.


Ao contrário do que se pregava na década de 70 no século passado, onde o governo pregava “Brasil ame-o ou deixe-o”, precisamos fazer um esforço para que o “Brasil ame-o e fique” seja uma constante na vida dos brasileiros. Lembrar que somos uma República prestes a completar 130 anos com uma constituição que possui 30 anos somente e que as mudanças obedecem os ciclos e as necessidades do seu povo. Conhecer o Brasil de fato, assumir a existência das desigualdades regionais e propor avanços de curto, médio e longo prazo, possibilitando que a população faça parte desse processo é a saída para construir o país do futuro.

Gostou? Compartilhe