Índios devem deixar sede da Funai nos próximos dias

Direção da entidade ingressou com pedido de reintegração de posse. Prazo encerrou na sexta-feira (29)

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Umas das moradoras mais antigas de Votouro,  Tereza Loureiro, completou ontem, 96 anos de vidaUmas das moradoras mais antigas de Votouro,  Tereza Loureiro, completou ontem, 96 anos de vida
Umas das moradoras mais antigas de Votouro, Tereza Loureiro, completou ontem, 96 anos de vida
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O grupo de índios acampado na sede da Funai, em Passo Fundo, há 50 dias, deve deixar o local provavelmente na próxima terça-feira. Ontem, venceu o prazo estabelecido no pedido de reintegração de posse, encaminhado à Justiça Federal pela própria direção da entidade.


A alternativa para solucionar o problema, que se arrasta há quase dois meses, surgiu durante reunião realizada ontem à tarde, na delegacia da Polícia Federal de Passo Fundo. O encontro contou com a presença de representantes dos caingangues e servidores da Funai.


Segundo Neri Francisco Refey, pai do índio Vitor Hugo dos Santos Refey, 22 anos, assassinado dentro da reserva, no município de Benjamin Constant do Sul, no dia 8 de março, a possibilidade mais viável é levar o grupo para a reserva de Serrinha, por um curto período. Também cogitou-se a possibilidade de locação de uma casa, em Passo Fundo, até encontrar uma saída para o confito em Votouro. "O cacique não admite o retorno de cinco famílias para a reserva. Tem outras famílias expulsas por ele, e que estão espalhadas em outras aldeias como Charrua, Forquilha e Serrinha. Elas esperam uma garantia de segurança para voltarem", afirma.
Acampamento
As cerca de 70 pessoas estão em Passo Fundo desde o dia 11 de maio. Eles deixaram a reserva de Votouro, dias após o assassinato do jovem. Outras duas pessoas foram feridas na ação. Pelo menos uma casa foi destruída dentro da reserva. Pertences, como roupas e mobília de algumas famílias foram encaminhados para outras reservas sem autorização dos proprietários.


Sem segurança para retonarem a Votouro, as famílias montaram acampamento no prédio da Funai. Crianças, adultos e idosos dividem espaço entre a garagem e um dos andares do edifício. Enquanto termina de almoçar, o jovem Cleomar Francisco Reis, 23 anos, conta que estava com o primo Vitor Hugo no momento em que os autores do crime desembarcaram de três carros, armados com espingardas, e disparam. Cleomar foi atingido na perna. "Temos medo de voltar, não existe segurança lá. O grupo que o cacique apoia tem muita arma", afirma, mostrando a cicatriz do ferimento na coxa direita.


O jovem Lucas Garcia, 22, sobrinho do cacique, conta que há cerca de 15 dias, duas mulheres, três homens e três crianças que estavam com o grupo em Passo Fundo, retornaram para Votouro e foram punidos pela liderança da reserva. "Os homens ficaram 15 dias presos e as mulheres, com as crianças, 10 dias. A casa do meu pai foi queimada" relata.


A passagem dos dias longe da reserva, deixa a espera de Simele Pedroso, 25 anos, ainda mais angustiante. Prestes a entrar no nono mês de gravidez, ela disse ter deixado Votouro, junto com o marido, apenas com algumas peças de roupa. "Nossas coisas estão todas lá. As roupinhas do nenê também. Não pegamos nada", lamenta.


Apesar da apreensão em razão da decisão que seria tomada na reunião que ocorria na delegacia, o clima entre os acampados era festivo. A matriarca da família Loureiro, Tereza Loureiro, estava completando ontem, 96 anos de vida. Mãe de Neri e avó do índio assassinado, ela lamenta o clima tenso que se espalhou pela reserva, onde vive há mais de 50 anos. "Quando entrei lá era tudo capoeira, meu marido e meu filho cultivaram a terra, compraram máquinas, desenvolveram trabalhando duro. Agora meu filho passou a ser perseguido pelo cacique. Querem que a gente saía, mas lá é o nosso lugar", afirmou.


Investigação

O Ministério Público Federal (MPF) de Erechim ofereceu denúncia contra 10 indígenas suspeitos de envolvimento na morte de Vitor Hugo dos Santos Refey, 22 anos. O crime aconteceu em 8 março passado, dentro da reserva de Votouro, no município de Benjamin Constant do Sul. O MPF também solicitou a prisão preventiva de todos os acusados. A intenção é preservar a integridade física das testemunhas dos crimes e reestabelecer a ordem pública dntro da reserva.


Caso
O assassinato do jovem ocorreu no dia 8 de março. Na oportunidade, um grupo de indígenas armados com espingara, foi até a residência do pai do rapaz, Neri Francisco Refey, e atirou contra as vítimas. No local, havia mulheres, crianças e uma idosa. Atingido nas cosas, Vitor foi levado pelo próprio pai até o hospital de Benjamin Constant e posteriormente transferido para Erechim, mas não resistiu. Outras dois índios ficaram feridos.


No mesmo dia, o MPF requisitou à Polícia Federal que apurasse a autoria dos crimes por meio de inquérito policial. Também solicitou que a PF atuasse, com outras forças policiais, para garantir segurança dentro da reserva de Votouro.

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