Chutando a bola
Durante a Copa do Mundo respiramos futebol, enxergamos por um tubo e ouvimos a voz do ufanismo. Época oportuníssima para compreender os giros que a bola deu. Nas últimas décadas o futebol mudou. E muito. As alterações nas regras foram poucas e surgiram evoluções táticas, mas a bola está cada vez mais longe. A emoção que fervilhava nas arquibancadas foi substituída por motivadores televisivos. É bem verdade que, hoje, o dinheiro da televisão é a salvação para o cofre dos clubes. Mas, há pouco, éramos nós que estávamos bem próximos ao espetáculo, grudados nos alambrados ou comendo amendoim nas singelas arquibancadas. Bons tempos em que Grêmio e Internacional jogavam em Passo Fundo todos os anos. Os jogos com a dupla Gre-Nal eram grandes acontecimentos, eventos com conotação regional. Agora o futebol é da TV. Confesso que minha relação com a televisão nunca foi um mar de rosas. Até curtia o Apito Final na Band, com Luciano do Valle, Sílvio Luiz e Toquinho. Ou, ainda, o Extra-Ordinários com Peninha e Maitê Proença. Mas até isso acabou, comprovando que eu sou mesmo um contra telespectador.
A casca do amendoim
A TV nos traz o futebol de muito longe, mas também nos distancia do autêntico futebol. Na emoção virtual falta o cheiro de futebol. Hoje, para evitar a sujeira nos estádios, o amendoim já vem descascado. Há, ainda, uma polêmica proibição da venda de bebidas alcoólicas nos estádios. Ora, comer amendoim sem quebrar a casca não ajuda a acalmar os nervos em dia de jogo difícil. Ah, e aquela cerveja gelada que tínhamos na copa do Estádio Wolmar Salton? Mas nesses casos a culpa não é do amendoim, nem da cerveja e muito menos da televisão. É uma simples questão de educação. Alguém já viu a sujeira que deixamos nas arquibancadas? Imaginem as cascas de amendoim esparramadas pelo vento? Nada contra a cervejinha, muito pelo contrário. O problema são os bebedores mal preparados que criam confusão. Assim, enquanto nos vendem até a marca da própria bola, não damos mais bola à nossa conduta como expectadores. Somos mal-educados e por isso viramos telespectadores.
Terapia das prateleiras
Um encontro com o pediatra faz bem para os pimpolhos, mas também é tranquilizante para os grandes. Rui Wolf, que atendeu as minhas filhas, sabe muito bem disso e exerce com maestria a terapêutica do bom papo. Sábado, nos cruzamos no Bourbon. Mesmo en passant, falamos sobre o Guilherme que nos deu tchau. Logo mostrei para ele uma manteiga Président com preço convidativo. Ainda expliquei como preparo os cogumelos castanhos para um risoto. Ele pegou a manteiga e aproveitou para me indicar outra barbada na prateleira, um vinho alemão da classe kabinett. Esses rápidos encontros não são meras casualidades, pois trazem energias que permitem a reciprocidade de vibrações. Talvez pelo encanto das suas prateleiras, uma visita ao supermercado pode ser terapêutica. Abraços ao Tio Rui e ao Tio Chico. Quando abrir o riesling kabinett, erguerei um brinde ao Guilherme.
Trilha sonora
O Guarda-Costas, filme de 1992, com Kevin Costner e Whitney Houston - I Will Always Love You
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