Cerca de 5 mil leitores do norte do estado participam do Jornada em Movimento

Passo Fundo recebeu, nesta quarta-feira, 4 de julho, o último dos três encontros com escritores realizados na região nesta semana

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O último Encontro com os Escritores desta semana ocorreu nesta quarta-feira, 4 de julho, em Passo Fundo, Capital Nacional de Literatura e sede das Jornadas LiteráriasO último Encontro com os Escritores desta semana ocorreu nesta quarta-feira, 4 de julho, em Passo Fundo, Capital Nacional de Literatura e sede das Jornadas Literárias
O último Encontro com os Escritores desta semana ocorreu nesta quarta-feira, 4 de julho, em Passo Fundo, Capital Nacional de Literatura e sede das Jornadas Literárias
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O Jornada em Movimento, projeto organizado pelas Jornadas Literárias da Universidade de Passo Fundo (UPF), promoveu o Encontro com os Escritores nos municípios de Passo Fundo, Marau e Lagoa Vermelha, no norte do Rio Grande do Sul. Cerca de 5 mil jovens leitores de 40 escolas da região estiveram pertinho dos escritores Anna Lee, Antonio Schimeneck e César Obeid, nos dias 2, 3 e 4 de julho. O último encontro ocorreu nesta quarta-feira, 4 de julho, em Passo Fundo, Capital Nacional de Literatura e sede das Jornadas Literárias.
 
Antes de encontrar com os escritores, os jovens se preparam. “A gente lê os livros, fizemos trabalhos sobre eles e agora estamos pertinho do escritor que escreveu as histórias que lemos. Podemos interagir com ele e aqueles que quiserem escrever recebem um grande incentivo. Para mim, é um privilégio estar aqui”, revela o jovem leitor do 6º ano, Lucas Zanetti, de 11 anos, que participou do Encontro com os Escritores em Passo Fundo.
 
Nesse processo de formação de leitores, há algumas pessoas que são essenciais: os agentes de leitura das Jornadas Literárias. Os professores recebem uma formação prévia e recebem sugestões de como trabalhar a literatura em sala de aula. “Ser agente de leitura é fazer a propagação do exercício de ler, de ler o mundo e as várias formas de enxergar a vida. Os nossos alunos conseguem sair do ambiente da sala de aula e fazer esse contato com o escritor. Ter contato com todos esses projetos que a Jornada fornece ajuda a desmistificar essa distância de quem escreve e de quem lê. Eles se misturam e os alunos também se tornam agentes de leitura e protagonistas”, ressalta a agente de leitura, professora Vanessa Dalpaz Ribeiro, que trouxe seus alunos do 7º e do 9º ano para o Encontro com os Escritores em Passo Fundo.
 
As Jornadas Literárias disponibilizam ainda um Caderno de Atividades com várias ideias de ações com os livros dos autores. “Trabalhamos com o conto ‘Uma lágrima na parede’, do livro ‘As setes histórias de gelar o sangue’ do Antonio Schimeneck e os alunos gostaram bastante por se tratar de um suspense. Utilizamos as propostas do Caderno de Atividades e fizemos uma encenação na escola a partir da história. O conto acaba do nada e eles queriam saber o que aconteceu com a personagem principal. A proposta foi continuar o conto. Além da leitura, os alunos escreveram o próprio conto”, comentou a professora Renata Andreolla.
 
Todo esse trabalho culmina no Encontro com os Escritores. “Todo movimento que a gente faz em torno da literatura é válido, porque estamos em um país em que ainda se lê muito pouco. Ver esses alunos dessas cidades tão preparados para nos receber, lendo os livros antes, é muito bacana. É bom para qualquer escritor saber que seu livro foi lido, que os alunos se envolveram com essa leitura. Considero muito positivo o que está acontecendo aqui”, declara o escritor gaúcho Antônio Schimeneck, que é formado em Letras e tem quatro livros publicados para o público infantil e juvenil e atualmente é vice-presidente da Associação Gaúcha de Escritores.
 
O relato de uma professora de Lagoa Vermelha, Joandra Padilha, sobre a emoção de reencontrar o autor César Obeid e de levar os seus alunos para conhecerem o autor, revela a importância dessa aproximação entre leitor e escritor. “Foi possível observar por conta do bom humor do autor, os olhos das crianças brilhando, por terem a grande oportunidade de conhecer um autor de livros pessoalmente, oportunidade essa que, para muitas crianças, significa muito, por serem apaixonadas por livros e pelo mundo da leitura e por não terem muito acesso à cultura ou a atividades semelhantes. Cabe a nós educadores possibilitar e proporcionar momentos em que as crianças possam criar e se expressar, estimulando desde cedo o gosto e o amor pela leitura”, relatou a professora.
 
Encontro interativo e com novidades em Passo Fundo
O encontro em Passo Fundo reuniu 1,5 mil alunos de 13 escolas. Em tempos em que a concentração é um desafio, o escritor César Obeid, autor de mais de 30 livros para jovens e crianças, parece ter o dom de prender a atenção dos jovens. O encontro com os leitores foi feito com muito humor, poesia, repente e histórias. “Acredito que a literatura deva ser mais natural. Ler é difícil. A tecnologia trouxe muitos benefícios na nossa vida cotidiana. Negar isso seria beirar à estupidez. Mas ela também trouxe um grande treino para a distração. As pessoas não conseguem se concentrar por mais de três minutos. E a literatura é exatamente o oposto, precisamos nos concentrar. Então, precisamos falar sobre concentração”, analisou o escritor.
 
O escritor Antônio Schimeneck contagiou os alunos que o aguardavam no Centro de Eventos da UPF, em Passo Fundo. Assim como nos outros municípios que esteve nesta semana, o autor contou para os jovens a primeira história que lhe causou medo na vida: a história de Maria Angula. Dessa vez, a história foi contada no escuro, para dar um clima a mais para a trama. O escritor também revelou detalhes sobre a sua nova obra, que está em produção há três anos, e a temática do medo continua. “Estou produzindo mais um livro de lendas que se chamará ‘Horas Mortas’, um conto pra cada hora da madrugada. Tentei escrever esse livro de madrugada. Acordava às cinco da manhã e o lugar que eu morava quando comecei a escrever esse livro era um sítio, em um espaço de vidro com vista para um mato. Em alguns momentos, fiquei com medo. Acho que o medo é importante tanto pra gente produzir quanto pra gente ler. Precisamos viver o medo”, comentou Schimeneck.
 
Sentada no palco, a escritora mineira Anna Lee contou detalhes sobre a vida de um escritor e também sobre as suas obras. “Estar sentada no meio de vocês é estar no melhor lugar do mundo. Sempre digo que venho mais para escutar do que para falar”, destacou a escritora, vencedora do Prêmio Jabuti 2004, com o livro o “Beijo da Morte”, categoria Reportagem e Biografia, que é um romance-reportagem sobre a morte misteriosa de JK, Jango e Lacerda, escrito em parceria com o escritor Carlos Heitor Cony. Em breve, a obra ganhará nova edição, revista e atualizada. “No final de 2013, teve a exumação do corpo do Jango e várias coisas aconteceram, arquivos foram abertos e tal. E o Cony levou a obra dele para a Nova Fronteira e agora estamos lançando uma reedição, revisitada, com várias coisas novas. Quando Cony morreu, no início deste ano, estávamos trabalhando nisso e agora estou com essa responsabilidade nas mãos de terminar esse livro. A obra se chama “Operação Condor: o beijo da morte”, salientou Anna.
 
Projeto Jornada em Movimento segue durante o ano
O projeto tem o objetivo de dar continuidade às atividades realizadas pelas Jornadas Literárias, com foco na formação permanente de leitores. Em 2018, o projeto está sendo desenvolvido em Passo Fundo e nos municípios de Marau e Lagoa Vermelha, em três momentos que incluem a formação dos agentes de leitura, as Estações de Leitura e o Encontro com os Escritores. A programação segue até o final do ano e pode ser conferida no site www.upf.br/16jornada.
 
Uma das coordenadoras das Jornadas Literárias, Fabiane Verardi Burlamaque, destaca que a Jornada é uma movimentação cultural permanente. “Continuamos com a mesma essência de formar novos leitores. Essa movimentação literária neste ano é uma prévia do que nos aguarda na Jornada Nacional de Literatura em 2019”, enfatizou Fabiane.
 
O projeto Jornada em Movimento está sendo acolhido pela comunidade. “Transitamos por três cidades e percebemos o quanto a comunidade se envolve quando é chamada e o quanto os alunos se envolvem quando são apresentados aos livros dos autores em dinâmicas que tornam o leitor protagonista, abrindo possibilidades de construção de representações como as que têm se apresentado, principalmente, por meio dos trabalhos dos alunos”, pontuou o também coordenador das Jornadas Literárias, Miguel Rettenmaier.
 
A iniciativa conta com o apoio das prefeituras de Marau, Lagoa Vermelha e Passo Fundo, das editoras Besourobox, Moderna e Nova Fronteira e com o apoio cultural do Sesc.
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