Pintar borboletas brancas pelas ruas e avenidas onde jovens perderam a vida em acidentes, foi uma das maneiras que a presidente da Fundação Thiago de Moraes Gonzaga, Diza Gonzaga, encontrou para alertar motoristas e pedestres sobre a violência no trânsito. O ato também é uma forma de homenagear os familiares dessas vítimas. Desde o surgimento do Borboletas pela Vida, em 2004, o símbolo já foi estampado mais de mil vezes no Rio Grande do Sul. Em Passo Fundo, são seis borboletas, duas delas pintadas ontem à tarde.
A primeira, na Avenida Brasil, sentido bairro-centro, logo acima do cruzamento com a rua Ângelo Preto, lembrou Victor Finatto Buffão. No ínico da madrugada de 8 de novembro de 2013, o jovem, que dentro de três dias completaria 18 anos, estava em casa, concentrando para participar de uma competição de motocross, no dia seguinte, em Tapejara, quando um amigo ligou e o convidou para 'dar uma volta'.
"Ele não queria ir, mas o amigo ficou insistindo até que aceitou. Saiu por volta da 0h40min, 19 minutos depois sofreu o acidente", recorda o pai, Edgar Stein, que já havia se encarregado de pintar algumas borboletas pequenas, e também fixar a foto do filho no poste em que ocorreu a colisão.
Além de Victor, outros quatro jovens ocupavam um veículo Celta. O motorista seguia pela Brasil, sentido centro, quando perdeu o controle do carro, que rodou e bateu contra um poste. Com a violência do choque, Victor morreu no local.
Stein disse que já conhecia o trabalho da Fundação Thiago Gonzaga, mas a aproximação veio após a perda do filho. "Ela faz um trabalho ímpar. Para quem perde um filho, assim como nós perdemos, sabe do valor e importância da Fundação. O material de apoio deles, nos ajuda muito", diz emocionado.
A segunda borboleta foi pintada na avenida Presidente Vargas, em frente ao estádio Vermelhão da Serra, em homenagem ao jovem Rafael Pansera da Conceição, 22 anos, morto em um acidente em 22 de março deste ano. Segundo o pai, Érico Fagundes, o filho trafegava de moto, sentido trevo do Ricci, quando teve a frente cortada por um veículo. Com o impacto, a moto incendiou. O rapaz, que havia passado no concurso da Brigada Militar, e sonhava em ser militar, morreu no local. Na semana passada, o próprio Érico ligou para a Fundação em busca de informações sobre o projeto. "Uma amiga descobriu na internet e passou para nós", conta.
Uma palavra de incentivo
Sempre que pode, Diza Gonzaga está presente durante as pinturas das borboletas pelo Estado. A cada encontro com os familiares das vítimas, ela divide a própria dor de ter perdido o filho, Thiago, em um acidente de trânsito. Uma semana antes de completar 18 anos, na madrugada de 20 de maio de 1995, ele retornava de uma festa, quando o carro em que estava de carona chocou-se contra um contêiner, em Porto Alegre. "Esquecer a gente nunca vai esquecer. O negócio é aprender a lidar com a perda. São 22 anos de Vida Urgente, temos que continuar viajando, fazendo a verdadeira cruzada pela vida", afirma.
Sobre a escolha pelas borboletas como símbolo do projeto, ela contou que a ideia surgiu durante a conversa com uma mãe que havia perdido o filho. "Ela pediu para pintarmos uma cruz no local do acidente, na avenida Goethe, em Porto Alegre. Respondi que cruz era coisa de velho, e sugeri uma borboleta, e aí ficou. Ela representa a mudança, a vida, a transformação. Costumo chamá-las de cicatrizes brancas no asfalto. O que vai mudar esse cenário é a fiscalização, a punião, mas, antes de tudo, a educação. O Brasil é o 4º país com maior número de mortes no trânsito", diz.
Novo vilão
Diza chama a atenção para um novo vilão das estatísticas de acidente de trânsito, não somente no Brasil, mas em todo o mundo: o uso do aparelho celular ao volante. Segundo ela, o aparelho tem sido responsável pelo aumento de 30% dos acidente com mortes. "Estamos conseguindo reduzir os índices de acidentes envolvendo motoristas embrigados. Entretanto, as pessoas estão perdendo a vida por usarem o celular enquanto dirigem. Não dá para fazer as duas coisas ao mesmo tempo. O risco é muito grande. O celular é o novo vilão dos acidente' observa.
Audiência Pública
Ontem de manhã o Cetran-RS realizou em Passo Fundo a última audiência pública sobre o pública sobre o Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões no Trânsito. A Polícia Rodoviária Federal - PRF, a Secretaria de Modernização Administrativa do RS, CETRAN-RS, DETRAN-RS, CRBM (Comando Rodoviário da Brigada Militar) e o Instituto Zero Acidente participaram das atividades. As audiências públicas foram previstas na Lei 13.614, de autoria do ex-deputado Beto Albuquerque, que também participou do debate. O objetivo da lei é reduzir em 50% os índices de mortes e lesões em acidentes de trânsito. O principal ponto do programa busca a resposta para a seguinte pergunta: "Qual é o trânsito que você quer?" Para atingir o objetivo, evidentemente que envolve Educação e Mudança de Comportamento.