A 12ª Reunião da Comissão Brasileira de Pesquisa de Trigo e Triticale, realizada essa semana (3 a 5 de julho de 2018), em Passo Fundo, além da apresentação de novas tecnologias, em genética e manejo de cultivos, que irão constituir as informações técnicas para a produção desses cereais no País em 2019, nessa edição, ampliou, por meio de palestras e painéis de discussão, o debate sobre a construção de novos modelos de negócio visando à ampliação, especialmente, da produção de trigo no Brasil.
Há muitos anos que se discute a viabilidade da produção do trigo no Brasil e a resposta ao questionamento, assaz conhecida, frise-se, tem sido a mesma: SIM. O Brasil possui condições de ambiente, domínio tecnológico e estrutura de produção que permitiriam, imediatamente, uma produção de trigo muito maior do que atualmente estamos obtendo. E isso se levando em consideração apenas a região tradicional de cultivo, no Sul do País, independentemente da ocupação de áreas no bioma Cerrado, que poderia alterar substancialmente a geografia de produção desse cereal no mundo. Mas, por que isso não acontece? Resposta elementar: porque não temos conseguido posicionar competitivamente os nossos custos de produção frente aos principais países exportadores de trigo no mundo. Ignoramos que somos tomadores de preço no mercado mundial e que fazemos parte de um bloco econômico chamado Mercosul, cuja competividade do trigo nacional com o trigo argentino acaba sendo definida pela paridade do preço de importação, que faz com que, pelas dificuldades de escoamento desse cereal das regiões de produção para a zonas de consumo, nossa competição mercadológica fique limitada ao redor de um raio de 500 km.
O caminho a ser seguido, nesse caso, seria a redução dos nossos custos de produção e assim se ganhar em margem. Quando se toca nesse ponto, muitos se alvoroçam, alegando que vai implicar em menor uso de tecnologia, que seria um retrocesso no processo produtivo, etc. Evidentemente, essas alegações apressadas não procedem. O que se propõe, nesse caso, é melhorar o uso de tecnologia por uma gestão efetiva da produção em substituição ao modelo, que tem ganhado cada vez mais adeptos, de práticas agronômicas calendarizadas, que envolvem o uso de insumos caros, nem sempre embasadas em critérios técnicos justificáveis e, não raro, visando ao alcance de resultados duvidosos.
Há um ponto que não se discute, pois não há alternativas: temos que primar cada vez mais pela qualidade tecnológica do trigo brasileiro. Evoluímos muito nesse quesito. Nossos obtentores vegetais fizeram, em pouco mais de duas décadas de trabalho, o que em outros países do mundo se mede em séculos. Não há espaço para crítica, mas para elogios nesse tema. Mas, não podemos ignorar que a construção de uma identidade para o trigo brasileiro, que seja respeitada pelo mercado, exige cuidados permanentes, pois, além da interação genótipo x ambiente, que não raro tem sido subestimada, outros segmentos do complexo agroindustrial do trigo no Brasil, especialmente no tocante a segregação do trigo e no padrão de armazenagem (infestação de pragas, por exemplo) podem comprometer o produto colhido no campo.
O caminho da exportação, embora pareça algo visionário, tem sido realidade nos últimos anos, especialmente quando suportado por algum mecanismo de apoio à comercialização do Governo Federal. O desafio é produzir trigo para a exportação, competitivamente, aos preços tomados do mercado mundial. Esse novo modelo de produção de trigo para exportação vem sendo desenvolvido pela Embrapa Trigo com o apoio de algumas cooperativas gaúchas, que têm validado a proposta nos seus campos de produção. Os resultados obtidos nas validações a campo têm sido alvissareiros, mostrando a plausibilidade desse modelo de produção.
E, por fim, não podemos ignorar o potencial de uso do trigo para o consumo animal, quer seja para produção de silagem, pastejo direto, duplo propósito (pastejo e produção de grãos) ou como ingrediente de rações.