Devido às dimensões que a Copa do Mundo tem, ela recebe e merece tanta atenção e gera tantos desafios. Mesmo quem não tem afinidade com o futebol não pôde ignorar a da Copa do Mundo de 2018, que começou com as eliminatórias e classificou 32 países para competirem na Rússia. É um evento mundial que envolve diretamente milhares de atletas, organizações, profissionais das mais diferentes áreas até milhares de voluntários.
A Igreja Católica, através do “Dicastério para os leigos, a família e a vida”, publicou no dia 01 de junho de 2018, um documento designado “Dar o melhor de si”. Não trata diretamente da Copa do Mundo, mas da perspectiva cristã do esporte e da pessoa humana. É uma reflexão que pretende contribuir para a construção de um esporte autêntico e orientado para a promoção humana.
Para alcançar o objetivo de ganhar a copa ou de conseguir o melhor resultado possível são empenhados os melhores esforços. Trata-se de selecionar os jogadores, da melhor organização, do melhor condicionamento físico, do equilíbrio emocional, do melhor planejamento estratégico, entre outros empenhos necessários. A alegria, a satisfação e a realização profissional são decorrência do empenho e da dedicação dispensada.
A competição que envolve o mundo inteiro é possível pelo respeito às regras do esporte. Elas possibilitam trabalhar em equipe e realizar a competição jogando contra a seleção de outro país. As regras permitem criar um ambiente de confraternização, de convivência e de paz entre povos diferentes. As diferenças de línguas, costumes, credos religiosos não impedem de realizar o espetáculo esportivo quando suas regras são respeitadas. Elas colocam todos em situação de igualdade. Neste sentido, uma Copa do Mundo é uma oportunidade de pensar o mundo e criar condições de respeito entre todos os povos. Se no futebol temos regras iguais para todos os países, o mesmo não acontece nas relações de poder, de economia, de desenvolvimento e nas condições sociais.
É da natureza do futebol ser um jogo e uma competição. No final somente uma equipe pode ser campeã. A vencedora e seus torcedores experimentam a alegria, o triunfo, a euforia pela conquista. Os progressivamente eliminados voltam para casa tristes e sofredores por não terem alcançado o objetivo e esperam a próxima oportunidade. Quando isto fica no âmbito esportivo, esta metodologia eliminatória é compreensível e até necessária. Porém isto não pode valer para as outras realidades humanas e o cotidiano da vida. Considerando o princípio social do bem comum faz-se necessário que todos sejam premiados tendo acesso as condições necessárias de uma vida digna.
É significativa a fala do papa Francisco feita a um grupo de atletas num centro esportivo italiano em 2014. “É importante, queridos jovens, que o desporto permaneça um jogo! Só se permanecer um jogo faz bem ao corpo e ao espírito. E precisamente porque sois desportivos, convido-vos não só a jogar, como já fazeis, mas a algo mais: a pôr-vos em jogo na vida como no desporto. Pôr-vos em jogo na busca do bem, na Igreja e na sociedade, sem medo, com coragem e entusiasmo. Pôr-vos em jogo com os outros e com Deus; não se contentar de um «empate» medíocre, dar o melhor de si mesmos, usando a vida para o que vale a sério e dura para sempre. Não se contentar destas vidas tíbias, vidas «mediocremente empatadas»: não, não! Ir em frente, procurando sempre a vitória!”