A sucessão presidencial entra em julho com um grau de imprevisibilidade ainda bastante elevado. Em meio à pulverização de pré-candidatos, cinco nomes são mais competitivos: Jair Bolsonaro (PSL), Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (REDE), Geraldo Alckmin (PSDB) e o candidato do PT, provavelmente Fernando Haddad.
Como nas eleições deste ano não haverá financiamento empresarial de campanha, a estrutura partidária, os palanques estaduais, o tempo de TV e o controle da máquina administrativa terão um peso maior que o habitual. Quem dispuser de tais recursos não significa que vencerá a eleição, e sim que terá instrumentos essenciais para definir um pleito que promete ser o mais disputado desde 1989. Nesse sentido, nomes como Ciro, Alckmin e Haddad têm um bom espaço de crescimento. Além do crescimento do PDT nas eleições municipais de 2016, Ciro parte de uma sólida base eleitoral: o Ceará, segundo maior colégio da Região Nordeste.
Alckmin, mesmo começando nas pesquisas de intenção de voto com um patamar abaixo dos 10%, controla o PSDB, legenda bem estruturada em todo o país. Alckmin é forte em São Paulo, maior colégio eleitoral, Estado em que se elegeu governador quatro vezes. Haddad, ainda que largue com cerca de 1% a 2%, conta com a força do lulismo. Segundo as pesquisas, o apoio de Lula levaria 30% do eleitorado a votar “com certeza” no candidato apoiado pelo ex-presidente. Ou seja, há espaço para Haddad sonhar com o segundo turno.
Bolsonaro e Marina, que hoje lideram as pesquisas nos cenários em que o ex-presidente Lula não aparece como candidato, carecem de estrutura partidária, de palanques e de tempo de TV. Contudo, por conseguirem “surfar” na onda da “antipolítica”, são atores que podem surpreender por conta da excepcionalidade do cenário deste ano. A fraca estrutura de tempo de TV de Bolsonaro e Marina pode ser compensada com a utilização eficiente das redes sociais, principalmente se tiverem uma estratégia eficaz de comunicação por meio de WhatsApp, Facebook, Instagram, Twitter e Youtube.
As pesquisas mostram que, neste momento, o eleitorado das regiões Norte e Nordeste, onde se concentra a força do lulismo, segue Lula no cenário em que ele aparece como candidato. Ou então se divide entre seus herdeiros (Ciro, Marina e PT) nas simulações em que o nome do ex-presidente não consta da lista de alternativas.Por outro lado, as regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste hoje se dividem entre Bolsonaro e Alckmin. Bolsonaro hoje tem uma vantagem, mas, nas três regiões, o PSDB possui uma estrutura partidária consolidada.
Fora isso, o provável tempo de TV que Alckmin terá tende a permitir o crescimento do ex- governador de São Paulo, em especial a partir de agosto, com o horário eleitoral gratuito. No tabuleiro sucessório, siglas como PSB, PCdoB, DEM, PP, PR, PTB, SD, PRB, PSD e PPS terão um papel importante. Ex-aliados históricos do PT, tanto o PSB quanto o PCdoB estão mais próximos hoje de apoiar Ciro, embora haja também a possibilidade de apoio a Haddad.
A incógnita é sobre o destino de DEM, PP, SD e PRB, que podem vir a apoiar um nome em bloco, em função de sua unidade em torno da pré-candidatura de Rodrigo Maia (DEM). Esses quatro importantes de partidos tendem a ficar com Alckmin. Ciro é uma segunda opção. Alckmin ou Ciro também deve ser o destino do PR, principalmente depois que o senador Magno Malta (PR) desistiu de ser o vice de Bolsonaro.
Apesar do desgaste pelo qual passa o governo Michel Temer, o MDB terá novamente peso na sucessão, sobretudo pela força regional da sigla. Henrique Meirelles ainda luta internamente para concorrer pelo partido, mas a maioria dos emedebistas está inclinada a não apresentar candidato próprio nem fazer parte de coligação. A opção preferencial é dar liberdade aos diretórios estaduais na questão do apoio.O caminho a ser tomado pelo centro será significativo nos rumos da sucessão. Mesmo que Alckmin seja o nome com maior potencial nesse campo, a desconfiança em relação a ele continua elevada, dentro e fora do PSDB. Até mesmo um “plano B”, como o apoio a Marina ou a Álvaro Dias (PODEMOS), é especulado, em função do enfraquecimento do centro nesta pré-campanha.
A capacidade de articulação do centro vai acabar mostrando se será possível viabilizar um candidato com uma agenda reformista e modificar o cenário de hoje, em que os indignados com a política tradicional se alinham a Bolsonaro, e os lulistas se dividem entre Ciro, Marina e PT. Enquanto as indefinições das eleições de 2018 permanecerem, o ano de 2018 está praticamente perdido e o ano de 2019 será uma incógnita. Precisa-se de líderes e de um grande projeto nacional capaz de unir o país. Somente será possível sair dessa crise se resolvermos a política, fora disso é mais do mesmo.