Percorro a Livraria da Vila, no Shopping Higienópolis, e vejo a exposição da vários títulos do falecido autor americano Philip Roth, do qual li somente O Complexo de Portnoy. Interessei-me por esse autor quando pesquisava O Violinista do Telhado, de Gogol, numa fase em que queria me aprofundar sobre a questão inenarrável da fé judaica. Tanto O Violonista quando Portnoy mostram a questão do desiderato da religiosidade ou da missão ou superação das armadilhas da vida tendo como cláusula pétrea o ser superior que nos submete a desafios que serão superados na exata proporção da dimensão da compreensão dos desígnios divinos. Portnoy, com severos problemas familiares envolvendo sua mãe, cai em desgraça pessoal quando deriva de sua linha de conduta moral por abalos dos instintos sexuais primitivos. Muitos gostam de ler os autores quando são póstumos, engraçado isso. É como dissessem: Jorge, só estou esperando você morrer para começar ler tuas crônicas.
Percebo ilhas de pessoas postando cartazes de protestos contra os três poderes. O executivo fraco, derivado de uma aliança entre o partido dos trabalhadores vendilhão de esperanças e o movimento democrático brasileiro, eterno aproveitador do exercício do poder. O que poderia resultar dessa composição (Baloy e Fábio Bilica)? A queda é iminente, aparentemente. O legislativo repleto de canalhas em que a minoria não está enredada em locupletações ou desvios de dinheiro público. O judiciário nessa eterna onda de condenar-inocentar, de prender-soltar, palco odioso de vinculações políticas-ideológicas em que reverberações sofismáticas envergonham o cidadão comum, aquele que acorda antes das seis e volta depois das dezenove horas e pela TV percebe mais um escândalo envolvendo os poderes que nos representam, escândalo de hoje maior do que de ontem.
Ao enxergar as ilhas de revoltosos lembrei de Heron Domingues e seu personagem Papaéo (Botelho Pinto Papaéo), aquele que tinha o corpo fechado e que nada de mal poderia acontecer a ele. Somos assim, vamos levando na pilhéria todas as empulhações que os engravatados de Brasília vão destilando a nós. E de uma maneira natural vamos sendo apresentados aos candidatos à presidência, ainda a serem homologados: Ciro (o inexpressivo), Marina (a cíclica), Bolsonaro (que muitos admiram mas, têm vergonha de admitir). Para espanto de nós mas, não dos que habitam o andar de cima, há uma aliança costurada entre o PSDB (de FHC) e PT (do presidiário) – chamado de centrão - para interromper a curva ascendente de Jair Bolsonaro. O tempo de exposição nos veículos de comunicação para os pretendentes de cargos executivos não tem grande importância diante da mídia social. Podemos escolher entre o chega-disso-tudo-que-aí-está ou continuarmos Papaéo, o do corpo fechado, o da pilhéria.