A história é famosa nas internas em Los Angeles: em 1987, uma secretária da Fox recebeu pelo correio um embrulho e, ao abrir, encontrou, antes de outro pacote, uma folha de papel com os dizeres “Isto é uma bomba”. O tal pacote mexeu com a rotina de todos no prédio, até perceberem que o texto não era literal: era um roteiro, assinado por um cara chamado Jeb Stuart. Stuart não estava brincando: ele sabia que o que tinha em mãos era uma fórmula perfeita em um tempo que precisava de mudanças no cinema de ação hollywoodiano. Esse cinema estava tomado por marmanjos musculosos encarnando o exército de um homem só ou de lutadores em tramas policiais. Não que não houvesse bons exemplares de ação, mas a fórmula estipulada pelo roteiro de Stuart, que se chamaria “Die Hard” no lançamento nos cinemas, inventou um novo estilo: mudou uma das máximas do cinema de aventura (a de ampliar as locações para ampliar a sensação de movimento da narrativa) e inseriu, em apenas um lugar, um herói hesitante e falho (como Indiana Jones), trazendo ação incessante, carisma e humor. “Duro de Matar” custou 28 milhões e rendeu 140 milhões. Depois dele, a fórmula gerou inúmeros imitadores, e não raro a crítica resumia-os da mesma forma: “Duro de Matar em um avião” (A Força em Alerta, Momento Crítico), “Duro de Matar em um navio” (A Força em Alerta 2, Velocidade Máxima 2), “Duro de Matar num estádio de hóquei” (Morte Súbita), etc, etc, etc.
O filme, que tornou Bruce Willis um astro do cinema de ação (condição que ele usufrui até hoje, com bons e maus filmes) iniciou uma franquia que teve quatro continuações e comemora, em 2018, 30 anos. Se a data não reserva o lançamento de um novo filme da franquia, pelo menos traz um híbrido que tem sido elogiado por fazer o que se propõe: “Arranha Céu – Coragem sem Limite”, em exibição (apenas cópias dubladas, sorry) no Centerplex. Até o ambiente é semelhante – um grande arranha-céus – e, já que o astro da vez é Dwayne Johnson, faz bem o roteiro em colocar no musculoso astro uma dificuldade a mais: seu personagem não tem uma perna. Johnson, como já escrevi uma vez, alterna bons e maus momentos (se o novo “Jumanji” é divertido e surpreende, “Rampage” é uma bomba constrangedora) e, aqui, pelo menos na homenagem ao espírito do filme de 1988, presta uma bela homenagem: tem clichês, situações inverossímeis e muita ação. No somatório de tudo, um filme para consumir com bastante pipoca e refrigerante.
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O SESC Passo Fundo anuncia, para a segunda metade de agosto, uma mostra especial para comemorar os 100 anos de Ingmar Bergman (assunto das últimas duas colunas). Serão exibidos, gratuitamente ao público, nove filmes do mestre sueco, nos dias 14, 16, 21, 22, 28, 29 e 30 do mês que vem. “O Sétimo Selo”, “Persona”, “Morangos Silvestres”, “Sonata de Outono”, “Vergonha”, “Na presença de um palhaço”, “Face a Face”, “Fanny & Alexander” e “A hora do Lobo”. Não vi apenas um deles, “Na Presença de um Palhaço” e posso garantir que a seleção é ótima. Lamento, apenas, a ausência de pelo menos um filme da trilogia do silêncio, dos anos 60, um dos momentos mais marcantes da carreira de Bergman, mas falo mais de cada filme na coluna anterior a cada exibição. O horário de quase todas as exibições é ótimo, 19:30, com exceção, infelizmente, de dois dos mais representativos trabalhos de Bergman, “O Sétimo Selo” e “Morangos Silvestres”, que serão exibidos ás 9:00h.
É raro poder ver um filme de Bergman na tela grande – e a projeção no SESC é formidável – e mais lamentável é o fato de as mostras em Passo Fundo terem pouquíssimos interessados. Em uma mostra dedicada a Welles, há três anos, havia 5 almas assistindo à exibição de “A Marca da Maldade”. Enquanto aqui essas chances surgem e ninguém aproveita, temos uma mostra de Bergman acontecendo com casa cheia em São Paulo e um curso, acompanhado de uma mostra e uma exposição, sobre Hitchcock acontecendo no Rio de Janeiro, também com grande público. Não dá pra reclamar da falta de oportunidades no interior se, quando elas surgem, ninguém dá as caras.