A passagem do Evangelho da liturgia católica, deste final de semana, tirada do evangelista São Marcos 6,30-34, ressalta que Jesus teve compaixão da multidão. A sua compaixão é decorrente da constatação de que “eram como ovelhas sem pastor”. E toma como atitude para aliviar a multidão “ensinar-lhes muitas coisas”.
O dicionário Aurélio define a compaixão como: “Pesar que em nós desperta a infelicidade, a dor, o mal de outrem; piedade, pena, dó, condolência”. Etimologicamente a palavra compaixão significa “sofrer junto com” alguém. É a virtude de compartilhar o sofrimento do outro gerando proximidade. A dor do outro desacomoda, tira da indiferença e desafia a tomar uma atitude, a encontrar uma resposta para aliviar o sofrimento.
O ser humano, devido as suas limitações, necessita viver de forma coletiva, em sociedade. Desta forma as suas necessidades são satisfeitas mais facilmente. Neste modelo de viver, a liderança ocupa um espaço muito importante. Na linguagem bíblica, as lideranças, tanto civis como religiosas, muitas vezes, eram denominadas de “pastores”. Hoje o nosso modelo de organização da sociedade, reconhece como legítimas as lideranças que ocupam os poderes executivo, legislativo e judiciário, mas também todas as instituições e forças vivas que influenciam nos rumos da humanidade. A palavra pastor ficou mais restrita ao ambiente religioso.
Jesus viu que a multidão que corria atrás dele “eram como ovelhas sem pastor”. Olhando a realidade presente, pode-se dizer que a multidão vive uma situação semelhante. Vivemos “uma mudança de época”, com profundas mudanças nas mais diferentes áreas: nas ciências, na técnica, na cultura, nos critérios de compreensão da vida, nos valores. São grandes mudanças acompanhadas de grandes incertezas. Acrescenta-se a isto, uma grave crise de confiabilidade nos poderes constituídos. A pergunta que se escuta com tanta frequência: “Votar em quem”? “Confiar em quem”?
A atitude de Jesus Cristo, como Bom Pastor, foi ensinar a multidão. Em outras passagens, as pessoas reconhecem que Ele ensinava com autoridade, que era verdadeiro, que dizia o que as multidões precisavam ouvir e não simplesmente o que queriam ouvir, enfim que não ludibriava ninguém. Em tempos de insegurança, de falta de rumo as multidões estão fragilizadas e confusas. É frequente, neste contexto, que lideranças adotem “ensinamentos” revestidos de falsidade gerando expectativas impossíveis de serem concretizadas. São as famosas “promessas” irrealizáveis, ou por não dependerem de quem as faz ou mesmo por falta de recursos.
Toda fuga da verdade em tempos “ovelhas sem pastor” é extremamente prejudicial. “Os homens estão obrigados de modo particular a tender continuamente à verdade, a respeitá-la e a testemunhá-la. Viver na verdade tem um significado especial nas relações sociais: a convivência entre os seres humanos em sua comunidade é efetivamente ordenada, fecunda e condizente com a sua dignidade de pessoas quando se funda na verdade. Quanto mais as pessoas e os grupos sociais se esforçam por resolver os problemas sociais segundo a verdade, tanto mais se afastam do arbítrio e se conformam às exigências objetivas da moralidade” (Compêndio da Doutrina Social da Igreja n. 198).