Ele já realizou muito mais do que ensaia hoje em sua proposta de escoimar nomes da elite política brasileira, acusados de corrupção. Carlos Eduardo Xavier Marun, ministro de Temer, quer reeditar o episódio que evitou o processo contra seu presidente. Sabe que tudo pode ser articulado com o MDB e este Congresso Nacional. Seu argumento francamente apresentado seduziu deputados que juraram a inocência de Temer, prestes a ser processado pelo Supremo. Ele mesmo, que parecia sem jeito, sabia puxar rédeas da consciência parlamentar usando o sempre inabalável argumento de persuasão, denominado “ad crumenam” (através do dinheiro). Sua proposta enviada aos deputados emedebistas e ao pré-candidato presidencial do partido resume tentativas já conhecidas, especialmente em reduzir o poder do STF criando um tribunal acima da atual Suprema Corte. A proposição tumultuadora pode ser dita ousada, no estilo Calígula, imperador romano que repetia: o que se diz se faz!
Anistia
Num país onde a lei garantiu a escravidão por mais de 300 anos, e os costumes sedimentados pelas oligarquias garantiam a impunidade suserana, sobram motivos para os que ainda agem como donos dos feudos. A sugestão de anistia para políticos denunciados no Caixa – 2 não é fala de louco. Na verdade repete tentativas no Parlamento na calada da noite. E mais, o interesse em livrar a cara de políticos envolvidos em processos não é apenas do MDB. São vários partidos que pretendem minar efeitos das investigações da Lava Jato e outras incursões policiais. A idéia de aprovar uma leniência do Estado, não é novidade. Seria desastroso retrocesso perdoar a corrupção parcialmente apurada.
Registro
Há notícias de que o ministro Marun é mais ligeiro do que parece. É citado no escândalo do Registro Espúrio, que aponta irregularidade nas cartas sindicais do Ministério do Trabalho. Marun é citado por ingerência.
Estado de justiça
É preciso falar nas estratégias das oligarquias que firmaram avassaladora cultura de dominação a partir da escravidão. Nestes séculos todos se instalou o pérfido costume de acionar a polícia contra escravos, ex-escravos e toda a gente pobre. Bastava ter aparência de desprovido para ter também a suspeita oficial. A graduação em relação ao poder tem sido o ponto de partida para ação policial. A isso se denominou estado policialesco, com vigência de uma cultura perversa. O combate ao crime era deflagrado no campo favelado, e nada mais. A novidade que surge é o estado de justiça, onde a polícia ineditamente chega ao asfalto. Agora, após séculos de guerra campal nas favelas, o combate atinge também o crime de colarinho branco. Isso deixou perplexo o setor dominante que se diz sensibilizado com o estado policialesco. Só agora, com a condução coativa de investigado de elite, a alta câmara legislativa percebeu! Quanto tempo sem perceber!
Estado de justiça - II
Neste sentido, da atenção investigatória razoavelmente igualitária (também na alta sociedade), o ministro Luís Roberto Barroso, do STF, qualifica de estado de justiça. E só agora surge a preocupação do poder que nunca existiu em favor dos maltrapilhos, favelados e desfavorecidos, sempre os primeiros na alça de mira da investigação.
O continuísmo
De repente surge o discurso continuísta alardeando exemplos de exceção, onde a justiça falha. Vemos até surto de garantismo, nunca antes lembrado, mas insurgente ante a singela realidade em que a lei combate o crime também da gente graúda.
Ambiente
É lamentável que a horda escroque continue prejudicando o meio ambiente. Nos últimos anos tem sido alucinante a agressão ambiental na mineração, agroindústria, com uso das águas, ou reservas de fauna e flora. A ONG Global Witness observa que o Brasil, além do Peru e Nicarágua, apresenta mortes de defensores ambientais. Em 2017 cresceu o número de assassinatos contra líderes ambientalistas. Foram 57 mortes no Brasil. Isto se torna mais grave pela falta de punição dos criminosos.