Tenho atividades além da cirurgia e uma delas é atender casas de pacientes idosos. Essa semana chamou a minha atenção o fato de que durante o jornalístico Bom Dia Brasil, em que se noticiava alagamento no Laos e incêndios na Grécia, os idosos, uns com Alzheimer e outros simplesmente senescentes, fixavam os olhos na telinha, mesmo que o volume do aparelho estivesse baixo. Eles prestavam atenção porque a TV falava com eles e mesmo que não pudessem responder e argumentar com os locutores havia a ponte da comunicação num mundo alheio onde poucos se aventuram a falar com pessoas velhas ou pessoas velhas-doentes. Há em cada ser humano, mesmo que de forma velada, a ideia de sermos importantes e para essa certeza há a necessidade precípua de alguém que testemunhe, ou seja, precisamos de um parceiro(a) que nos considere importantes tanto quanto nós pensamos ser. É por isso que casamos, é por isso que buscamos alguém na multidão. Então, estamos no futuro onde, desobrigados de aturar os velhotes colocaremos a mídia, o robô para conversar com eles, tipo o computador HAL de Stanley Kubrick em 2001, Uma Odisseia no Espaço. Há uma vantagem nisso tudo: a máquina por não ter ressonâncias humanas pode ser exata e não causar decepções, nem amarguras e nem abandonos.
Sou um cara tal qual você, com qualidades e defeitos tal qual você. De umas coisas me orgulho e de outras teria vergonha de contar; tenho a esperança de ter mais pontos positivos do que negativos e minhas cicatrizes levam histórias de superações. Sou filho da superação da menos valia, sou filho de pessoas pobres. Temos, no outono da vida, causos para serem ouvidos. Os causos que interessam são aqueles em que necessitamos superar entraves. Minha mãe foi ao cinema pela primeira vez em 1941, quando tinha nove anos. E foi assistir um filme de 1931 chamado Luzes da Cidade (Chaplin); minha velha que estaria de aniversário dia 25 de julho, ouvia a radionovela O Direito de Nascer (aquela estória de uma mulher que entregou seu rebento para uma cozinheira negra criar e o rebento cresceu, estudou em escolas e universidades públicas e se tornou um médico famoso) e sonhava em ter um filho com trajetória parecida. Por que sei disso? Porque ela me contou, assim como me contara milhares de sonhos e expectativas nunca atingidos. As nossas lidas somente têm valor quando são noticiadas para nossos descendentes.
PS -Roger Machado caiu como profetizei há dois meses quando estava em São Paulo. Primeiro porque não se faz um time com a contratação de jogadores a granel; segundo porque jogador não entende de overlapping e ponto futuro. Jogador entende ordens simples e grande parte does treinadores segue um academicismo teórico que não se aplica no dia-a-dia. Treinador tem que ter o atleta sob controle e ler sua mente; senão é melhor criar um dispositivo semelhante à TV da casa dos idosos e hipnotizá-lo sem maiores explicações.