OPINIÃO

Teclando

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Preconceito religioso
De tempos em tempos, aparece alguém para incitar a intolerância religiosa. O estopim para as diferenças é o desrespeito às doutrinas. Pois não é que, agora, tramita na Câmara Federal um projeto de lei que tenta proibir a utilização de animais pelas religiões afro-brasileiras? A finalidade da proposta não é a proteção dos animais. O texto do projeto não traz novidades em relação às normas já existentes em defesa dos bichinhos. Mas fica explícito e objetivo o intuito preconceituoso em relação às religiões afro. A proibição é exclusiva, de acordo com o próprio texto, “em virtude da realização de rituais religiosos”. Opa! Então, se aprovada, a lei também valerá para toda e qualquer festa religiosa. Ou seja, para todas as religiões. Assim, estarão proibidas as festas de igrejas com aquelas mesas fartas em galinhas, perus, porcos, ovelhas e vacas. Até mesmo os jantares de massa com galinha, se promovidos por alguma instituição de cunho religioso, também estarão enquadrados como crime. Se as galinhas e vacas foram abatidas para uma festa religiosa, então, obviamente foram sacralizadas. Ou seja, como no texto do projeto “em virtude da realização de rituais religiosos”. Se a proibição valerá para uns, também deverá valer para todos. Isso, claro, por absoluta, justa e indispensável isonomia.

Discriminação
Essa proposta, ao primeiro olhar, até poderia parecer como se estivesse em defesa dos animais. Mas, na verdade, utiliza os bichos como apelo. Dá a entender que os animais seriam “sacrificados”, passando uma falsa ideia de sofrimento ou de supostos maus-tratos. Mas não há maus-tratos. Ao contrário. As galinhas abatidas em frigoríficos vivem pouco e nunca enxergam sequer uma estrela, pois são criadas com iluminação artificial para se alimentarem à noite. Depois, até lembram as sardinhas em lata durante o transporte. Muitas chegam machucadas aos frigoríficos, outras morrem no percurso. Já as galinhas destinadas à sacralização em rituais afros são criadas com muito espaço, recebem atenção especial, crescem naturalmente e vivem por muito mais tempo. E são muito, mais muito mais bonitas. A diferença está na dignidade com que foram tratadas. Ora, então o problema não está nos terreiros.

Falta de ética
Sabemos que o país passa por uma crise institucional, um momento delicado especialmente para a classe política. Há muito para fazer em busca da igualdade, do entendimento e da evolução da sociedade. Ora, então não é época adequada para atiçar o preconceito religioso. Além das mordomias e imunidades no cargo de deputado federal, o autor da proposição teria muito mais com o que se preocupar. Principalmente com a ética, especialmente por se tratar de um parlamentar religioso por ofício. Ora, essa é mais uma proposta discriminatória, que já provoca mobilizações em todo país. Amanhã, em Porto Alegre, haverá uma manifestação denominada Tamboraço. É o Povo de Axé na rua para lutar pelos seus direitos com o tema “a tradição alimenta, não violenta”. Chega de intolerância!

Trilha sonora
Bons tempos aqueles em que a música orquestrada tinha espaço no dial. Era assim em 1972, quando o maestro francês Paul Mauriat gravou Taka Takata
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