Quem foi Sabina Farias?

Túmulo no cemitério Vera Cruz recebe visita e homenagens todas as semanas

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Professora Gisele Zanotto: "O cemitério é a reprodução de uma pequena cidade, com suas ruas e bairros mais nobres e simples"Professora Gisele Zanotto: "O cemitério é a reprodução de uma pequena cidade, com suas ruas e bairros mais nobres e simples"
Professora Gisele Zanotto: "O cemitério é a reprodução de uma pequena cidade, com suas ruas e bairros mais nobres e simples"
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O mistério em torno da personagem chamada Sabina Farias, sepultada na quadra W, terreno 28, do cemitério da vila Vera Cruz, tem chamado a atenção de pesquisadores da faculdade de história da Universidade de Passo Fundo. O túmulo dela é visitado semanalmente e recebe homenagens.


Até o momento, tudo que se sabe ao certo se limita às informações registradas na lápide. Sabina nasceu em 2 de novembro de 1866 e faleceu em 14 de maio de 1943, aos 77 anos. Logo abaixo das duas datas consta a seguinte inscrição: “Uma homenagem do filho, nora e irmã”. Um retrato mostra o rosto de uma mulher negra.


“Quem foi essa mulher que recebe essas homenagens?” Essa é pergunta que a coordenadora do projeto Museu a céu aberto: Cemitério Vera Cruz, Gizele Zanotto, passou a fazer após a descoberta. Ela soube das visitas através de funcionários do cemitério e começou a investigar. “Ouvi apenas alguns relatos de que seria uma ex-escrava. As pessoas costumam deixar cachaça, charuto e moedas no túmulo dela. São devoções de culto afro-brasileiro”, explica.


Trabalhando há três anos no local, além de zelar pela segurança, Alexsandro Vicente dos Santos, 33, também é um observador atento. Ele conta que as pessoas visitam o túmulo para pedir e agradecer por alguma graça alcançada. Segundo ele, uma mulher frequenta o local semanalmente. “É ela quem cuida da limpeza, traz flores e outras oferendas”, afirma. Quando questionado sobre a história de Sabina, repete o que todos suspeitam. “Dizem que era uma ex-escrava, provavelmente benzedeira”, comenta.


Projeto
A busca de informações da vida de Sabina Farias, é mais uma iniciativa do Museu a céu aberto. Criado em 2013, o projeto tem parceria da Universidade de Passo Fundo, Arquivo Histórico Regional e Instituto Histórico Regional. A intenção é usar o cemitério como espaço para educação patrimonial, histórica e cultural.


“Aqui é a reprodução de uma pequena cidade, com suas ruas, seus bairros. Alguns mais nobres, outros mais simples. Cemitério é para os vivos. As famílias constroem grandes mausoléus para serem vistos e referenciados pelos outros. Tem um poder simbólico”, explica Gisele.

 

Entre as ações já realizadas pelo projeto, está a criação do Guia de Visitação do cemitério. Disponibilizado nos formatos impresso e digital, o material traz um histórico sobre o Vera Cruz, mapa, imagens de estátuas, localização dos túmulos onde estão sepultados personagens considerados importantes, além de informações sobre a trajetória deles.


No ano passado, o projeto foi aprovado na 3ª edição do Fundo Municipal de Cultura (Funcultura), da prefeitura de Passo Fundo, através da secretaria de cultura. O prêmio, no valor de R$ 10 mil, será investido em ações previstas ainda para 2018. Segundo Gisele, será lançada a segunda edição do Guia de Visitação. Também haverá, no mês de outubro, a publicação de um livro com várias abordagens sobre o cemitério, visitas guiadas, além de uma encenação homenageando personalidades marcantes que lá estão sepultadas.


Visita guiada

Integrando a programação da semana do município, o Museu a céu aberto realiza nesta segunda-feira, às 9h, mais uma visita guiada no Vera Cruz. A atividade é gratuita.


Durante o percurso, o visitante tem a oportunidade de conhecer um pouco sobre a vida de algumas pessoas que tiveram atuação importante nos mais diversos setores da sociedade. Um destes exemplos é o túmulo do italiano Emílio Borghetti. Após passagens por vários países, ele acabou ficando em Passo Fundo. Conforme a professora, trata-se de um importante pensador, sistematizador do fascismo italiano. Ele foi sepultado em fevereiro de 1926.


Outra figura marcante é o vigário José Ferreira Guedes, conhecido como Padre Guedes. Ele faleceu em novembro de 1902, onze meses após inauguração do cemitério. Pela quantidade de pessoas presentes no sepultamento, o ato foi considerado uma segunda inauguração.
A professora também lembra de uma passagem envolvendo Maria Elizabeth. A menina que passou a ser chamada de santa popular faleceu em 28 de novembro de 1965, aos 14 anos, e foi sepultada em uma gaveta. Em razão da movimentação das pessoas, mais tarde o corpo acabou sendo levado para o jazigo na entrada do cemitério. “O traslado do corpo teve de ser feito durante a noite para evitar comoção. Contam que o peso do caixão era o mesmo de quando havia sido sepultada e havia odor de rosa no local. São descrições característica dos santos católicos, corpo incorruptível e odor de santidade”, explica.

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