A coreografia 'Esportes - evolução através dos tempos' coordenada pelo grupo Timbre de Galo e Baillar, e o tradicional desfile dos grupos convidados, abriram oficialmente o XIV Festival Internacional de Folclore ontem à noite, no Casarão da Cultura, no Parque da Gare. A solenidade contou com as presenças do vice-presidente mundial do CIOFF, Alejandro Camacho, do presidente da entidade no Brasil, Marcos Pereira, além do representante da Federação Internacional de Dança Folclórica (FIDAF), Regis Bastian. Duas entidades parceiras do Festival receberam homenagens. O Hospital São Vicente de Paulo, pelo centenário, e a Universidade de Passo Fundo, que completou 50 anos em 2018.
Durante nove dias, estarão no palco do Casarão e nas ruas da cidade, 12 grupos internacionais, três de outros estados brasileiros, e 59 de Passo Fundo e região. São 160 voluntários envolvidos há pelo menos seis meses na organização. Para assistir aos 10 espetáculos que acontecem no turno da tarde, a organização espera aproximadamente 38 mil crianças. São estudantes de mais de 300 escolas distribuídas em 50 municípios da região norte do estado, que já garantiram presença através de agendamento prévio.
Idealizador dos festivais, Paulo Dutra diz que esta edição tem a marca da inclusão. Na segunda-feira, uma professora de libras vai auxiliar os deficientes auditivos durante a programação. Na terça-feira, 30 deficientes visuais terão tradução do espetáculo através de áudio. No palco, uma das novidades é a presença de dois grupos indígenas da etinia caingangue. Poucas horas antes da abertura de ontem, Dutra resumiu o sentimento. "A cada edição é uma emoção diferente. O frio na barriga é inevitável". Sobre a escolha pelos esportes como temática de abertura, o coordenador justificou ser uma atividade tradicional entre os povos.
"O amor é a essência deles"
O relógio marcava por volta das 14h30min, na sexta-feira à tarde, e os integrantes do grupo colombiano Cia Artística Estímulo, dividiam espaço sentados entre duas camas em um dos quartos da Casa de Retiro, onde estão hospedados. Já com a roupa da apresentação da abertura à noite, eles aguardavam para serem maquiados.
"É uma maquiagem profissional, precisa ser feita antecipadamente com todo cuidado", enfatizou o coreógrafo e responsável pelo brilho no rosto dos dançarinos, Jenner Solon Obando R.
Dos 29 integrantes que vieram para o Festival em Passo Fundo, seis deles convivem com a síndrome de down. O grupo existe desde 1990, na cidade de Cali. O projeto funciona dentro de uma escola fundada há 78 anos, e que realiza um trabalho de inclusão com pessoas especiais.
Enquanto vai decorando o rosto de uma das meninas, Jenner fala com orgulho sobre o currículo da Cia. "Já viajamos por vários países da Europa, França, Alemanha, Itália, Espanha, e para outros lugares como México, Argentina, Peru, e agora Brasil". Enquanto busca na memória a lista de outros lugares por onde andaram, o integrante Nicolas Delgado, 37, acompanha atentamente e completmenta. "França e Estados Unidos, também". Além de dançar, ele toca flauta e clarinete, mais diz que o sonho é ser coreógrafo "Quero criar coisas novas", revela, sorrindo para Jenner. Experiente em festivais, afirma estar feliz em Passo Fundo representando seu país.
Outro feito no currículo e que os integrantes fazem questão de lembrar é da apresentação ao Papa Francisco, durante visita à Colômbia no ano passado. Conforme Jenner, a Cia é um dos grupos folclóricos mais requisitados da Colômbia, com mais de 50 apresentações durante o ano.
Mas nada se compara a emoção de Jenner quando perguntado sobre a importância de trabalhar a música e a dança com pessoas especiais. Ele interrompe a pintura na sombrancelha da menina e dispara. " Não tenho palavras, não há dinheiro. Não tem presente melhor para um artista, para um ser humano. O amor é a essência deles. Estão sempre sorrindo. São extremamente profissionais. Trabalhamos de segunda a sexta, das 8h às 15h, com música, dança, artes plásticas, ciências sociais. Estão a altura de qualquer artista. São profissionais da arte. Realizam coreografias complexas", diz pausadamente.
Uma das mais experientes da Cia, Lorena Cardona, 49, tinha apenas 10 quando ingressou na escola. "Sou uma das fundadores. Gosto muito de viajar", revela.