OPINIÃO

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Feliz fiquei ao receber curtições à simples homenagem a meu pai no face. Exibi foto em que meu velho estampa uma das indumentárias que mais apreciava, a pilcha. A outra, a farda, usou-a diuturnamente por dezoito anos. Fiz um texto simples, reconhecimento e exteriorização do orgulho pela convivência familiar, pelos exemplos, pela superação. O velho Jorge dizia não conhecer as sensações de tristeza, depressão ou melancolia pelo simples fato de não ter tempo para essas coisas. Verdade, com seis filhos para alimentar levantava uma hora mais cedo para trabalhar vinte e cinco horas por dia. Gago, por solidariedade a um irmão mais velho sobre o qual se zoava, como zoa-se fanhos, instintivamente compartilhou esse distúrbio da fala e diluía-a fraternalmente. Jamais se abalou à falta de grana, não tinha tempo para isso, também. Entristecido? Sim, às vezes, quando o Gaúcho, Guarani de Cruz Alta e Grêmio perdiam; sim, quando um filho adoecia, quando tinham dificuldades, quando minha mãe combaliu no final de sua vida. Então, por trabalhar no que gostava, tal qual eu – seu filho mais velho, que trabalha no que gosta – não era usual se entristecer e muitas vezes nem se sentia estar em labor. Quem está feliz com o que faz não trabalha nunca.
Era imperativo não ofender ninguém, apenas tocava flautas, flautinhas diria. O mundo de Jorge era extremamente simples, como o de Neca – minha mãe. Se vivos fossem era bem capaz de entender o face como imensa ferramenta para notícias boas, mensagens construtivas, compartilhamento de velhas músicas, lembranças dos grandes filmes e músicas. Nada de fakes, nada de injúrias, nada de agressões fortuitas.


Mas, o mundo mudou, as coisas deles também. Melhor, o mundo continua o mesmo, as pessoas mudaram. Mudaram suas perspectivas, tornaram-se mais imediatistas, os relacionamentos tornaram-se mais tênues, as pessoas ficaram mais solitárias. Alguns usam a rede social para revelar aquilo que não tem coragem de dizer pessoalmente; outros pintam-se com cores artificiais mostrando faces distintas do que são; outros se exibem com bens materiais. Os perfis também podem parecer exóticos tal qual a descrição de autobiografia – livro que o camarada escreve contando como gostaria de ser.


Percebo extremismos em relação à política; parece que aquela fera que habita no interior de cada um de nós é libertada na possibilidade de externar aquilo que não teríamos coragem de fazer pessoalmente. É pena que não saibamos dominar para o bem essa ferramenta; aos meus instintos mais primitivos que possa desconfortar opiniões alheias peço desculpas e cito um velho amigo de infância, especialista na faculdade da vida: erremo mas, se assim aconteceu, consertemo.

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