Privacidade escancarada
A privacidade deve ser preservada. É, certamente, a mais rica propriedade de um individuo. Qualquer gesto que a coloque em risco é classificado como uma invasão. Nos últimos anos, acompanhando os avanços cibernéticos, multiplicaram-se os acessos às informações. Diante de tanta acessibilidade, também me sinto desnudado no meu íntimo. A internet é um grande emaranhado sem ponta e sem nó. E nem me refiro aos hackers ou infinitos golpes que se multiplicam. Observem que através de redes sociais, sites de compras, instrumentos de pesquisas ou de buscas, nós deixamos rastros. São enormes pegadas que permitem que sejamos rastreados. Definitivamente, somos monitorados. Não importa a relevância das informações, pois é a nossa privacidade que está sendo invadida. Meus hábitos, gostos, preferências, necessidades ou aspirações não são da conta de ninguém. Os algoritmos e outros instrumentos podem limitar e direcionar os acessos. Obviamente fazem isso tendo como base algumas informações que fornecemos. Cruzam conhecimentos obtidos em nossas navegações e oferecem mercadorias que procuramos recentemente. Ao usarmos um computador ou um smartphone, a cada toque deixamos mais uma pegada que propicia rastros virtuais. Seriam instrumentos para facilitar nossas vidas, buscas, compras etc. Apenas isso?
Somos ficção
Podemos navegar pela internet sem deixar rastro, através de janelas anônimas. Devemos evitar sites de risco, não clicar em tudo que aparece etc. Mas, mesmo com todos esses cuidados, não enxergamos as ramificações das conexões. Até onde somos donos do nosso nariz? Ou, pior, até onde enxergam o nosso rabo? E qual o valor dessas informações? São dados de um conjunto que é determinante na tomada de decisões, beneficiando empresas, governos ou grupos extremistas? Aquilo que considerávamos ficção hoje é realidade. Os instrumentos inovadores, os inacreditáveis meios de controle da sociedade ou as fantásticas máquinas que adivinham pensamentos, saíram das telas do cinema e dos gibis. Hoje nós somos caricatas personagens, mesmo sem sabermos quem escreveu o roteiro ou quem está dirigindo a série sobre nossas próprias vidas.
As inteligências
Nessa invasão de privacidade somos utilizados para consolidar informações consistentes e de altíssimo valor. O problema não seria um simples perfil numa rede social. O que vale é o perfil traçado por uma nova inteligência virtual. Porém, por trás disso, claro, há inteligências humanas. Então fico preocupado, pois não sei quem são esses controladores. E é óbvio que não temos controle diante dessa explosão binária. Somos usuários de serviços, manuseamos uma tecnologia que determina as suas próprias regras e as nossas ações estão limitadas. Nós enviamos informações, mas não sabemos para onde elas vão. Ora, funciona com sentido único. Será que já não haveria um imenso controle central nos monitorando? Eis o grande perigo. Normalmente a ficção de ontem é a realidade de hoje e um alerta para o amanhã.
Trilha sonora
Um quarteto alemão que virou quinteto. É dedicado ao novo tango, mas também ataca de jazz, world music e muita nostalgia. Quadro Nuevo: Paroles, Paroles
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