OPINIÃO

A depressão

Por
· 2 min de leitura
Você prefere ouvir essa matéria?
A- A+

Pouco se falava, até os tempos recentes, sobre a saúde psíquica no cotidiano. Hoje se transformou em pauta obrigatória para o estudo da ciência médica e psicologia. A queda abrupta de postos de trabalho e renda é a causa mais saliente. A concentração urbana tem sido um processo acelerado na modernização. As comodidades, benefícios, e a onda consumista desenfreada, infelizmente, produziram dificuldades no discernimento. As diferenças sociais de renda afligem. País gigante produz desequilíbrios gigantes. Os números apontam uma população de doze milhões de depressivos, afetados pelos transtornos de ansiedade. E mais, a venda de remédios sem acompanhamento médico, acelera tudo perigosamente. Dados sobre o crescimento no consumo de antidepressivos apontam crescimento de 52%. Nesse sintoma observa-se que grande parte dos que acessam remédios fazem isso mediante consulta na internet. Profissionais da área são convocados a dizer sobre este quadro, que afeta a produtividade em muitos setores, principalmente de serviços. Espanta o contingente de professores em licença de saúde por depressão.

 

Dívidas
O endividamento e inadimplência individual teimam em patamares preocupantes. Premidos pelo desemprego, profissionais qualificados e de menor qualificação, jogam tudo na aventura de microempresas ou empresas individuais. O Brasil registra cinco milhões de empreendimentos em vermelho. Na contramão dessa saga criativa nacional até investimentos de boa qualidade deparam-se com a incapacidade do consumo. Nichos aparentemente viáveis morrem na praia perante um fluxo esgotado na competição.

 

Energia cara
Parte dos gastos no custo da energia vem da demanda em Roraima que importa eletricidade da Venezuela. A insuficiência de fontes geradoras, com baixa no nível das águas afeta as regiões do nordeste e Centro-Oeste, obrigando acionamento de termoelétricas. Além disso, a alta do dólar, os benefícios de programas sociais de baixa renda e a incorrigível onda de gatos (roubo de energia), tornam a conta de energia mais cara para o cidadão contribuinte. Este circuito afeta diretamente o custo de vida doméstico e pesa no setor de produção. O gás de cozinha mais caro aflige diretamente a subsistência de considerável parcela das famílias. Tem sido cruel, e persistente.

 

O primeiro gestor
É citado com frequência o exemplo de escolas no município de Picada Café. Há cinco anos o sistema escolar do município, essencialmente de escolas públicas estaduais e municipais, apresenta índices efetivos de desempenho. Ouvi uma avaliação, ainda que empírica, que deposita a confiança do êxito na atuação dos professores. Logicamente há o envolvimento comunitário, especialmente dos pais. Certamente o desempenho comemorado resiste ao problema de remuneração do magistério no ensino básico. Ao mesmo tempo é fruto de empenho apreciável, de corpo e alma, com gestão de recursos dos professores. O estado gaúcho é avaliado em 15º lugar (pelo Ideb) entre os estados brasileiros, alguns ditos mais pobres. O Brasil investe mais do que a grande maioria dos países da América do Sul, mas não responde no mesmo nível com índices de escolaridade. As perdas na afirmação de conhecimentos básicos do ensino geral, básico e médio, preocupam. Português e matemática com lamentável aproveitamento. Ler textos simples e interpretá-los é essencial para o contexto do conhecimento. Na formação do potencial evolutivo de um país, o primeiro gestor é o professor. Teremos ou não teremos lideranças políticas, se tivermos desempenho de professores.

 

Incêndio na memória
As chamas vulcânicas que arrasaram milhões de objetos de nossa memória vincou definitivamente a narrativa de nossa história. Tudo o que era matéria virou cinza. Escombro apocalíptico é, a partir de agora, nosso cenário real. Alguém mencionou o comparativo, imaginando que seria mais percebido pela multidão nacional, se a destruição fosse no estádio Maracanã. Talvez a falta de apreço por nossa existência ao longo de cinco séculos seja mais preocupante que as chamas que devoraram o Museu Nacional. Neste aspecto a comparação não parece esdrúxula.

Gostou? Compartilhe