Da racionalidade à docilidade
Ainda pequeninos, tudo aquilo que se passava em nossas mentes já chegava embalado pelos costumes e rotulado pelas forças do bem ou do mal. A embalagem na maioria das circunstâncias era compulsória. Ainda é, pois as crianças continuam recebendo informações já adequadas aos grupos sociais de origem. São condicionamentos para moldar nossas condutas religiosas, políticas e até mesmo esportivas. Os ancestrais continuam determinando como deverá ser o nosso comportamento em sociedade. Não questiono a validade da hereditariedade na boa educação dos filhos. O ruim é que, dentro dessas embalagens, o raciocínio lógico fica amordaçado e não permite o desenvolvimento do senso crítico. Somos moldados, ou seja, modificados pelas palavras que ouvimos em casa e na rua. O molde vai endurecendo e, com o passar dos anos, assume a condição de uma armadura intransponível. Consequentemente, a nossa cadeia de neurônios perde a sua disposição natural para questionar. Ora, assim ocorre o arrefecimento da curiosidade na personalidade. Ganhamos antolhos que não nos permitem olhar para os lados e perdemos nossa natural disposição em contestar. Desta forma há uma diminuição na capacidade de raciocínio. E essa diminuição na racionalidade acaba compensada por um aumento da docilidade.
O bem e o mal
Convivemos entre bons e maus, mas somos dóceis, controláveis e aceitamos as rotulações impostas pela sociedade. Deglutimos pacificamente uma razão asséptica que é pulverizada sobre o coletivo. Não contestamos a divulgação massiva. Ao contrário, nós acreditamos em tudo, pois fomos doutrinados para abominar o mal e agir pelo bem. Porém, não buscamos uma razão própria, pois a nossa capacidade racional já está embalsamada. Desta forma, em períodos eleitorais, encontramos pela frente uma prateleira de nomes com os rótulos do bem e do mal. E é exatamente aí que reside o grande perigo. Além da data de validade, necessitamos conhecer a autenticidade desses rótulos. São imagens feitas por seres humanos que tanto podem ser bons como maus. No mínimo necessitamos raciocinar para saber de onde eles vieram. Sem raciocínio não há senso crítico e, assim, é impossível saber quem representa o bem e quem representa o mal.
Iracélio
Figurinha reforçada e carimbada do Bar Oásis, Iracélio circulou pela Capital no final de semana. Antes de assistir a vitória do Grêmio na Arena, foi visitar a Estátua do Laçador. Iracélio, mais conhecido por Turcão, carrega no sangue uma disposição compulsória para um brique. Sua próxima investida será propor uma troca de monumentos: o Laçador de Porto Alegre pela Caravela de Passo Fundo. Iracélio ainda pretende levar uma grana de volta na transação, pois entende que a Caravela pode carregar vários laçadores. Tem lógica. Vai que dá?
Barulho
O circo foi embora e levou seus barulhentos carros de som. Mas não deu tempo de esgotar os ouvidos, pois já chegaram os alto-falantes da campanha política. Uma pena que não apareçam políticos dispostos a acabar com a barulheira.
Trilha sonora
E dizer que lá por 1966 a gente ligava o rádio e escutava Dusty Springfield -
You Don't Have To Say You Love Me
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