No dia 02 de outubro de 1992 aconteceu o massacre no Carandiru onde foram mortos 111 apenados. É um fato emblemático e uma ferida aberta que não pode ser esquecida. Este fato, entre outros do passado e dos recentes, revelam os múltiplos desafios relacionados com o sistema prisional. É certo que não existem soluções simplórias, mas também é verdade que a gravidade do assunto merece uma atenção bem maior da sociedade e, principalmente, das autoridades competentes.
Um dos objetivos do sistema prisional é reduzir e interromper o ciclo da violência. Os estudos e o senso comum mostram que é alto o índice de condenados que reincidem no crime após o cumprimento da pena. Portanto, os presídios estão produzindo efeitos contrários aos desejados, isto é, fomentam, potencializam e mantêm o ciclo vicioso da violência e da criminalidade. O grande e real medo dos brasileiros de se tornarem, a qualquer hora, vítimas, não sofrerá significativas alterações sem uma efetiva mudança no sistema prisional. Os fatos e as estatísticas são suficientes para chegar a esta conclusão.
Em tempos de campanha eleitoral o tema da segurança pública está em pauta e não poderia ser diferente, talvez devesse ocupar mais espaço. Não se pode exigir dos candidatos respostas bem elaboradas e projetos prontos em curtas entrevistas. Além disso, as medidas a serem adotadas passam pelos três poderes constituídos. Porém, pode-se perceber nas respostas, mesmo resumidas, o ponto de vista sobre a violência e os caminhos essenciais da superação da mesma. É um tema a ser dialogado com franqueza com os candidatos, pois serão os representantes da sociedade e terão a possibilidade de implementar mudanças.
Uma das medidas da redução da violência é cumprir o que a legislação prevê para a recuperação dos apenados. Cumprindo o que está previsto já seria um passo significativo. Tratar com dignidade os apenados não é conceder privilégios. Investir na sua qualidade de vida, na educação, na saúde e em outras medidas de recuperação não são recursos mal investidos. Se o apenado volta a reincidir, o gasto que a sociedade teve durante a sua permanência na prisão foi inútil. Além disso, exige mais investimento em aparatos de controle, de maior efetivo policial e prender novamente.
A Igreja através da Pastoral Carcerária está presente nos presídios. São poucas pessoas ativas nesta pastoral, mas de uma grande dedicação. Disse Jesus: “Estava na prisão, e fostes visitar-me” (Mateus 25,36). É a motivação de fé que leva os voluntários da pastoral carcerária visitar os presos para estarem junto a estas pessoas privadas de liberdade. Convivem, estabelecem laços fraternos e escutam os presos. Procuram olhar o preso na sua totalidade que tem uma família, tem sonhos, torce por um time, tem religião, etc. Enfim, buscam ser uma presença de Cristo e da Igreja atendendo religiosamente aos presos anunciando o Evangelho e promovendo a sua dignidade. O desejo é ajudar aqueles que são justamente condenados a se recuperarem para que vivam e não reincidam no caminho que os levou para a prisão. A Pastoral Carcerária é desenvolvida por pessoas que tem este dom e se preparam para realizar bem o trabalho. É preciso reconhecer que se faz pouco e é preciso fazer muito mais.