Amanhã será um dia importante para o destino de todos nós. Talvez seja o momento para pensarmos além de nossas ideologias, ódios e ranços. Não pode ser que um país com tamanha riquezas naturais, com extensão continental, com uma miríade de povos que emigraram para cá esteja passando por momentos econômicos tão ruins e descrédito moral e político dessa magnitude. Os rumos serão dados pelos nossos votos. Que Deus ou em que entidade que você acredite nos abençoe.
Quero escrever sobre duas perdas do mundo artístico dessa semana que encerra. Quero falar sobre Abelim e Charles Aznavour. Abelim é o nome de Ângela Maria; teve que ser assim para que pudesse cantar no rádio dos anos 1940-50. A sociedade da época acreditava que artistas e jogadores de futebol viviam numa espécie de antro da perdição e essas profissões de gente da noite pertenciam a um submundo das bebidas, tabaco e outras drogas. Nada de gente decente ali, por isso Abelim se tornou Ângela Maria, para que ao cantar, na surdina, seus pais não soubessem que era a filha. E ela veio num mundo dominado por Dolores Duran, Elisete Cardoso, a divina e estonteante Dóris Monteiro, as irmãs Batista e, é claro, Dalva de Oliveira. Veio e ficou, sua voz emprestava classe às músicas da época, boleros e guarânias, dor de cotovelo, amores desfeitos, abandonos e amarguras. Eram músicas tristes, tipo as que Maysa Matarazzo cantava, Maysa que morreu na ponte Rio-Niterói em 22 de janeiro de 1977 e deu no JN – morreu Maysa, a mulher que não conseguiu ser feliz. Minha mãe chorou e eu chorei pela minha mãe.
Ângela Maria tinha em sua voz a arte, como tinham os cantores de voz possante como Francisco Alves, como o novato Cauby Peixoto, Carlos Galhardo. Depois vieram Dick Farney, João Gilberto que estimularam Roberto Carlos. De todos os que conheci nunca ouvi ninguém como Emílio Santiago. O motorista de Ângela gravou também, ora vejam; seu nome, Agnaldo Timóteo.
Do outro lado do mundo quem brilhava era Charles Aznavour que em sua carreira vendeu 180 milhões de discos. Tínhamos Frank Sinatra, Elvis que impactaram enormemente mas, Charles...ah, Charles com aquelas músicas francesas. A gente estudou francês no Cenav, dois anos, e as professoras colocavam Salvatore Adamo e Charles; elas mostravam Yves Montand e Mireille Mathieu e a gente ía e voltava para Paris com as garotas dos nossos sonhos, garotas que nem olhavam para as nossas caras imberbes. Dance in the Old Fashioned Way, La Bohème, Que C’est Triste Venise (que ele gravou para um amor que se desfez com Amália Rodrigues)... e a gente curtia. Mas, a paulada veio no programa de Hélio Ribeiro, na Band. Hélio apresentou She que dizia todas as coisas que gostaríamos de dizer para nossas namoradas, tudo o que elas representavam, para nós. Elvis Costello regravou She em Notting Hill (aquele filme bacana com Julia Roberts e Hugh Grant).
Hoje é um novo dia...amanhã vai ser outro dia...será menos belo do que já foi porque ao partirem, os artistas que embelezaram nossas vidas, levam um pedaço de nós, talvez os melhores pedaços...o romantismo, a ingenuidade, o amor verdadeiro...