Um levantamento da Google apontou, no início do ano, que o brasileiro, que até 2015 passava 8 horas por semana assistindo vídeos por streaming , hoje assiste quase 16 horas por semana. É praticamente dois episódios de série ou um filme por dia - um número que nivela aqueles que só assistem esporadicamente daqueles que, todos os dias, passam horas em frente à plataformas como Netflix, Hulu, Amazon Prime, Google Play e outros.
A Netflix lucra no Brasil mais de 1,2 bilhões de reais. Segundo matéria da revista Exame, são mais assinantes do que tem a TV paga Sky e um faturamento 30% maior que o do SBT, por exemplo. Nosso país é o quarto maior consumidor do serviço no mundo, entre streamings de vídeo e de música.
Entro de novo nesse assunto a partir da crescente constatação das inversões que o serviço oferece. Quanto maior a quantidade oferecida, menor espaço oferece para os acervos e mais o passado se distancia. Streaming no conforto do lar é ótimo, mas ele escolhe o que vamos ver e, assim como nas redes sociais, nos coloca em uma bolha formada por algoritmos e interesses comerciais. E nas quase extintas locadoras, as sessões de filmes essenciais do cinema acumulam poeira.
Prova do investimento massivo que veio com a ampliação das redes de alta velocidade é o constante investimento das plataformas. A Amazon Prime, um serviço ainda bem mais barato do que a Netflix e pouco conhecido, está lançando novas séries. “The Romanoffs” e “Homecoming”, conduzido por ninguém menos que Julia Roberts. A grande aposta da Amazon ainda é a futura série O Senhor dos Anéis, prevista para durar cinco temporadas e estrear em 2021, naquele que deve ser a maior produção da história para uma série de TV.
Já a NETFLIX, líder mundial do setor, tenta dar a resposta numa moeda parecida: anunciou na última semana a adaptação – sem data ainda para lançamento – de “As Crônicas de Nárnia”, de CS Lewis, para sua plataforma. A Netflix ainda tem mais propriedade na produção de filmes originais, algo que a Amazon ainda está longe de acompanhar. Ambas, com certeza, já pensam no futuro, quando perderão os direitos a vários filmes por conta do investimento de estúdios como Paramount e Disney em seus próprios serviços de streaming.
O serviço, em si, não é algo que não se tenha pensado anos atrás – a possibilidade de escolher o que ver a qualquer momento, em qualquer lugar. Só continuo me questionando do espaço para qualquer coisa feita antes dos últimos dez anos. Há um serviço chamado OLDFLIX que reúne clássicos e séries “antigas”, mas ele é uma exceção.
PERSONA EM DEBATE
O assunto das plataformas me surgiu quando pensei na ação que vamos realizar na próxima terça no Auditório da Biblioteca Central da UPF, Campus I. Estarei na companhia dos professores Gerson Trombetta e Francisco Santos para exibir e debater PERSONA, de Ingmar Bergman. Não é um filme fácil –na verdade, é um dos mais complexos filmes do cinema. Por isso – e por sua qualidade narrativa e audiovisual – está constantemente listado entre os maiores filmes da história do cinema. Na terça, iremos lançar sobre ele três olhares: o audiovisual (ampliando um pouco para falar sobre o cinema de Bergman), a filosofia e a psicanálise. Estou ansioso para ouvir os colegas sobre aspectos filosóficos e psicanalísticos no filme, que eu adoro. O questionamento veio a partir da constatação que, longe da programação da TV e das plataformas, é ainda menor a chance de qualquer um das novas gerações ter contato com a filme a menos que, propositalmente, empreenda uma busca por ele.
Todos à UPF na terça à noite, então, a partir das 19h20min.