OPINIÃO

Vicente

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O Hospital São Vicente de Paulo de Passo Fundo está centenário e tem programado para 25 próximo o lançamento do livro box “100 anos de história” no auditório da Faculdade de Medicina. Compreende 04 fascículos que retratam a criação e o crescimento dessa potência que orgulha a nossa sociedade. Neste 18 de outubro, dia consagrado ao médico, tivemos um coquetel de confraternização e, mais uma vez, percebo quanto deixamos as nossas vidas passar sem o devido compartilhamento dos bons momentos com os colegas. Devíamos trabalhar menos e prazeirar mais. Pude tietar os colegas Rudah, Paulo Crusius, Luis Carlos Manzato, Adroaldo Malmann e senti saudade de Ruy Donadussi, Carlos Madalosso, Julio Teixeira entre tantos outros - gente que me formou, gente que me moldou, gente que tento me espelhar, sem sucesso em boa parte das vezes. Juntos, São Vicente e seus extraordinários médicos credenciaram a cidade, que me abraçou, à excelência.

 

Olho no caderno de plantões noturnos e percebo que hoje é meu plantão 592, desde 2008. Quase seiscentas noites fora de casa. Como faço plantões há 39 anos, essa conta está pra lá de defasada. Nem contei as noites de Unimed, do Hospital Cesar Santos, Postão, Samur...E o que se faz nos plantões? Tratamos de gente que nem a gente, cuidamos suas dores, angústias, temores e medos, principalmente medo de morrer. Hoje há plantão para todas as especialidades, não era assim há 40 anos. Muitas coisas mudaram, grande parte para melhor. Queria mostrar esses números a meus filhos que estão trabalhando pra caramba, graças a Deus e dizer a eles que o velho já trilhou e ainda trilha essa estrada, essa boa estrada.

 

Vicente de Paulo (Vincent DePaul, 1581-1660) era um religioso Francês que tinha entre suas marcas a humildade e caridade e foi canonizado pelo papa Clemente XII em 1737 e em 1885 foi declarado patrono de todas as obras de caridade da Igreja Católica. Humildade e caridade são características que junto com humanidade deveriam nortear a população médica. A eterna busca do saber é inerente à profissão, não conta, é obrigação. E nessas quatro paredes, dezenas de corredores, centenas de leitos contamos histórias, hospital e nós, nesses cem anos. A maioria delas com finais felizes, outras nem tanto. Mas, não faltou luta, nem garra e mesmo diante do imponderável da morte resta o desatino a grande parte de nós, por perder vidas, por não ter logrado êxito.

 

No coquetel olhava para Deonir de Marco, que conheço desde 1972 quando realizamos curso de teologia nos fundos da catedral sob a batuta do Padre Eli Benincá (ganhei a inscrição de Marco Mattos como presente de quinze anos). Olhava também para Ilário de David, irrequieto, empreendedor. Nestes 100 anos de história crescemos juntos, misto de estruturação e competência, presente da área da saúde a nossa região. Que bom que te vejo da minha sacada em parte de seu esplendor, em cujas entranhas há almas trabalhando intermitentemente e almas em agradecimento. Vicente DePaul deve estar orgulhoso porque aquilo que meus mestres ensinaram ainda vive. Que bom que há hospitais que proporcionem que exerçamos o melhor que cada especialidade necessita em benefício de quem padece.

 

Por isso tudo e por tudo isso parabéns a todos.

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