OPINIÃO

Um brinde, Minella!

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Ignoro se, em algum lugar do mundo, no meio de conversações animadas de mesa de bar, com pilhas de bolachas de chope ou de garrafas vazias enfileiradas ao redor, ou por ocasião do delicado processo de harmonização de uma comida especial com uma cerveja artesanalmente produzida com esmero de ourives, algum dia, alguém tenha lembrado de erguer um brinde aos responsáveis pela inovação da matéria-prima que é a base dessa bebida milenar: a cevada. Até porque, a maioria de nós, não faz a menor ideia de quem sejam as pessoas que, no dia a dia, se dedicam a melhorar geneticamente a planta de cevada, de cujos grãos é derivado o malte que, em última instância, é o principal ingrediente da tão apreciada bebida. De certa forma, ainda que simbolicamente, esse tipo de brinde que faltava, foi erguido pela AmBev, que, no dia 20 de outubro desse ano, concedeu a Euclydes Minella, pesquisador responsável pelo programa melhoramento genético de cevada na Embrapa, a distinção PERSONALIDADE 2018, como reconhecimento pela sua contribuição para o negócio cevada no Brasil.


Afinal, você que aprecia cervejas especiais e chopes cremosos, e, não raro, se alça ao papel de mestre-cervejeiro produzindo a sua marca própria de cerveja, sabe quem é Euclydes Minella e o que ele fez para merecer essa honorável deferência da AmBev? Muito provavelmente, não. Então, permita-nos apresentá-lo.


Euclydes Minella é engenheiro-agrônomo formado pela Universidade Federal de Santa Maria – UFSM (1974), cumpriu programas de mestrado (M.Sc.), na University of California/Davis (1979), e de doutorado (Ph.D.) em melhoramento genético vegetal na Cornell University (1989). Ingressou na Embrapa em 1975. Iniciou trabalhando com trigo, em Passo Fundo, e, durante breve pesagem, atuou no Cerrado, em Planaltina, DF. Mas, indiscutivelmente, foi o trabalho de Euclydes Minella, à frente do programa de melhoramento genético de cevada da Embrapa, ao primar pela criação e cultivares adaptadas ao ambiente brasileiro, com foco em produtividade elevada, resistência a doenças, tolerância a estresses abióticos e perseverar na indefectível aptidão cervejeira, que o levou a merecer a distinção de PERSONALIDADE 2018, dada pela AmBev.


O programa de melhoramento genético de cevada da Embrapa, como parte do “Programa Nacional de Auto-Suficiência (sic) de Cevada e Malte”, criado, em 1976, pelo Governo Federal, teve início em 1977. Desse trabalho, saíram as cultivares BR 1, que não alcançou padrão cervejeiro e, portanto, não chegou a ser usada em lavouras comerciais, e a BR 2, a primeira cultivar efetivamente cervejeira da Embrapa. Ao todo, Minella participou da criação de 29 cultivares de cevada, pela Embrapa, e mais nove em parceira com a AmBev. No elenco de cultivares elite, que ocuparam e ainda ocupam lugar de honra nas lavouras brasileiras: BR 2; Embrapa 43; BRS 180; BRS 195; BRS Brau; BRS Cauê; BRS Elis; BRS Sampa; BRS Manduri; e BRS Itanema.


Euclydes Minella também foi Chefe-Geral da Embrapa Trigo, entre 04/08/1990 e 10/05/1995. Nesse período, destacam-se como principais legados da sua gestão: o primeiro Plano Diretor da Unidade; a primeira norma de identidade e qualidade do trigo brasileiro; o primeiro curso de pós-graduação stricto sensu em Passo Fundo (Mestrado em Agronomia, parceria Embrapa-UPF); e o projeto METAS, que impulsionou a transferência de tecnologia para o sistema plantio direto no sul do Brasil.


O consumo de malte no Brasil, somente pelas cervejarias, é estimado em 1.300.000 toneladas por ano. Desse montante, produzimos cerca de 560.000 toneladas (43%), usando cevada nacional (40%) e importada. A produção de toda a cevada e malte que o País necessita seria possível com o cultivo de 660.000 ha, admitindo-se rendimento médio de 3 t/ha e quebra de 20%, e a duplicação da capacidade da indústria de malteação. Esses números indicam o quanto ainda nos falta para o atingimento da meta da autossuficiência planejada em 1976. Euclydes Minella permanece luta para que essa meta seja atingida. Ein Prosit, Minella!

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