OPINIÃO

Rede de Intrigas

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Sempre apreciei cinema, principalmente em ler as resenhas dos filmes. Em 1976 lia Hiron Goidanich (intelectual) no suplemento de variedades de ZH, assim como gostava de ler Janer Cristaldo (doutor em filosofia pela Sorbonne) na Folha da Tarde. Esse tipo de lazer (leitura) jogava-me num patamar que me sublimava sobre minha própria existência e resplandecia na alma. Um pouco antes, entre 1971-72 lia tudo o que me aparecia, de Machado de Assis-José de Alencar a Herman Hesse-Gibran Kalil ou Hemingway-Guy de Moupassant. Ler acrescenta, seja romance, biografias, história...Em 1976 tivemos o premiadíssimo O Predileto (de Roberto Palmari), baseado no romance Totônio Pacheco (de João Alphonsus), em que brilhou o ator Jofre Soares; ao mesmo tempo a América produzia Taxi Driver (Martin Scorsese), Rocky, um lutador (John Alvidsen) e Casanova de Fellini. Mas, o que me marcou foi o filme de Siney Lumet Rede de Intrigas em que a baixa audiência de um programa de TV sugere ameaça de demissão de seu protagonista e gera ameaça de suicídio ao vivo; esse nonsense faz a audiência aumentar.


Rede de Intrigas é o que constatamos nessa última eleição no Brasil, fato que chamou a atenção do mundo sobre nosso país. Nunca antes existiram tantos fakes e tantas manipulações de frases, vídeos, informações de institutos de pesquisas, uma panaceia de jornalistas engajados ideologicamente. Bom, acabou por ora, ainda bem, mas repercutiu de forma inusitada entre grupos familiares estabelecendo cizânia em razão de posicionamentos políticos, como na peça de Guarnieri Eles Não Usam Black-Tie (1958). Jamais imaginamos que preferências políticas sobrepujassem relacionamentos sanguíneos pretensamente consolidados. Onde está a verdade? Não sei, somente sei que não é na rede social. Aliás, esta é mais destrutiva do que construtiva e cito como exemplo a criação de grupo de WhatsApp de minha turma de formatura, agora que completamos 35 anos de titulação acadêmica. Criada que foi para aproximar teve efeito contrário, o da dispersão porque a turma começou a falar de críticas sociais, de comportamento, mensagens existenciais e de cunho espiritual. Esse desnudamento, por assim dizer, retirou a curiosidade e a saudade, se é que existia e, de repente, não havia mais motivos para o reencontro pois tudo havia sido dito e revelado e, além disso, criado desconforto entre alguns membros do grupo. E o mais grave, o grupo era composto de pessoas que conviveram por alguns anos.

 

Na rede social as pessoas nem se conhecem, na maioria das vezes e se ofendem e se digladiam, adotam opiniões geradas em fakes, assimilam comentários de jornalistas comprometidos e na ansiedade não suportam divergências de opiniões. A rede social bestializou as pessoas quando deveria ser extremamente construtiva. Pensemos nisso antes da exposição pública da opinião para não pagarmos mico.


PS – tocante a crônica de ontem de Gilberto Cunha e somos assim, graças a Deus, sem fakes ou ideologias. Somos tocados na alma por dramas, por históricos de superações, por encontros sucessivos que nos recolocam nos caminhos que devemos trilhar. O homem muitas vezes tropeça na verdade...mas, levanta...olha envergonhado para os lados...e sai correndo.

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