Em seus 161 anos, Passo Fundo serviu de berço para centenas de iniciativas importantes a nível nacional, especialmente no âmbito agrícola. Neste setor, há 50 anos, o município via nascer a primeira associação de produtores de sementes de pessoas físicas de todo o Brasil. Fundada em 1968, a Associação dos Produtores e Comerciantes de Sementes e Mudas do Rio Grande do Sul (APASSUL) foi um divisor de águas para o setor sementeiro. Criada com o intuito de defender e representar os interesses da categoria, foi somente a partir de sua organização e participação junto às Comissões Estaduais de Sementes de Trigo e de Soja que os produtores autônomos conquistaram a autorização oficial do Ministério da Agricultura para a produção de sementes – tarefa que, antes, ficava à cargo exclusivo das cooperativas e de postos agropecuários do governo.
Sempre focada em congregar produtores autônomos de sementes, cuidar dos interesses dos associados, trocar informações técnicas, promover o uso de semente certificada e fiscalizada e produzir novas variedades de sementes de soja e trigo, a APASSUL consolidou-se como um modelo para todo o Brasil. Hoje, ela conta com 107 associados, mas este número já chegou a 300. Em diversos estados, associações semelhantes começaram a surgir e muitas contaram com a ajuda da própria entidade gaúcha para que fossem criadas, como é o caso da Associação Brasileira de Sementes e Mudas (ABRASEM), fundada em 1972. “Nós participamos da criação, lá em São Paulo. O primeiro vice-presidente da ABRASEM foi aqui de Passo Fundo: o produtor Henrique Stedile, um dos mentores da APASSUL”, destaca o diretor administrativo da APASSUL, Antonio Eduardo Loureiro da Silva.
Uma série de conquistas fundamentais para o setor sementeiro e agrícola foram alcançadas nessas cinco décadas. Trabalhando para levar mais tecnologia aos campos, promover a pesquisa em sementes e melhorar os processos de beneficiamento genético, a APASSUL teve papel ativo nas discussões que levaram à elaboração de três leis de sementes: a Lei de Sementes de 1977, Lei de Proteção de Cultivares de 1997 e Lei sobre os Organismos Geneticamente Modificados (OGM) de 2005. Também conseguiu a criação de linhas de crédito específicas para a produção de sementes; a obrigatoriedade do uso de semente fiscalizada nas operações de crédito rural; o estabelecimento de preço mínimo para as sementes; a isenção do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para exportação de sementes para outros estados brasileiros; e o aumento da taxa de uso de semente legal de soja no RS.
Também foram firmados convênios com a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e a Universidade de Passo Fundo (UPF) e editados boletins informativos para difundir notícias relativas ao setor. “Lecionamos, durante oito anos, a cadeira de Tecnologia em Sementes na UPF, porque havia muitos filhos de produtores estudando aqui e não tinha gente especializada para lecionar, na época, essa matéria”, conta Loureiro. Ainda segundo ele, também foram propiciados inúmeros cursos e treinamentos. “Parece que foi ontem que nós começamos. Hoje, eu olho para trás e vejo que a associação cumpriu efetivamente o motivo pelo qual foi criada. É uma associação consolidada e respeitada em todo o país e no exterior”.
Sede em Passo Fundo
Até hoje, a sede da APASSUL está localizada em Passo Fundo, no Bairro São Geraldo, em uma área de 1,2 hectare. O local foi adquirido em 1977 e serviu para a edificação de uma Unidade de Beneficiamento de Sementes (UBS), que contou com máquinas e equipamentos modernos, com o objetivo de oferecer treinamentos e mostrar aos produtores de sementes as evoluções disponíveis. Em seguida, na mesma área, foram construídos o Laboratório de Análise de Sementes e a sede administrativa, que passaram a contar com uma grande equipe nos departamentos técnico e de economia rural. “Outra coisa em que trabalhamos arduamente foi na implantação de laboratórios de análise de sementes. Criamos um laboratório em Santo Ângelo e outra sede própria em Porto Alegre, de modo que pudemos atender todas as necessidades dos nossos associados, referente à análise de sementes”, destaca Loureiro.
Justamente por estar instalada no município, o diretor administrativo diz perceber que, muitas vezes, os passo-fundenses não se dão conta de que a APASSUL se trata de uma associação estadual, atendendo todos os municípios gaúchos. “Ainda nos perguntam por que a associação ficou em Passo Fundo. É parte da história dela. As primeiras lideranças de setores estavam aqui porque aqui tinha também o Laboratório de Análise de Sementes e a Estação Experimental de Passo Fundo, ambos pertencentes ao Ministério da Agricultura. Hoje, essa Estação é a Embrapa. Então, a APASSUL ficou aqui”.
Tom de despedida
Em meio às comemorações pelo cinquentenário - marcadas por uma festa com a presença de figuras importantes ligadas ao setor sementeiro, no Gran Palazzo Centro de Eventos, realizada nessa sexta-feira (30) -, o ano de 2018 marca também a despedida dos atuais vice-presidente e diretor administrativo da APASSUL, Narciso Barison Neto e Antonio Eduardo Loureiro da Silva, respectivamente. “Eu estou na associação há 44 anos. É uma vida que a gente viveu nesse setor, mas eu pretendo sair porque temos que observar e dar lugar para pessoas mais jovens, com novas ideias e novas perspectivas. Saio sabendo que cumpri meu dever e fiz o máximo que pude, mas você tem que ter a visão de que o mundo não para e de que tem uma hora que você precisa parar, para que outras pessoas venham com uma visão diferente e propostas diferentes e enfrente essas lutas”, Loureiro declara.