Buscando sugestões de bons filmes de 2018, à parte as obras do circuito alternativo que não chegam aqui – falo mais delas em outro momento – segue uma pequena relação de filmes que valem a pena lembrar lançados em 2018 (essa série segue nos próximos finais de semana).
Para quem gosta de uma comédia, uma das grandes surpresas do ano foi “A Noite do Jogo”, com Jason Bateman e Rachel McAdams. A ideia do filme de Jonathan Goldstein é, basicamente, uma série de erros de comunicação que descamba para uma situação incontrolável. No caso, um jogo de faz de conta em que bandidos de verdade surgem no meio de uma brincadeira com bandidos de mentira e iniciam uma noite repleta de mal entendidos e confusões para um casal. A premissa ultrapassada mistura boas sacadas de outras obras do gênero e também de obras sérias, como “Vidas em Jogo” de David Fincher. Há uma óbvia falta de verossimilhança que é necessário aceitar para embarcar na brincadeira, e, como habitualmente acontece, o filme se torna sério demais a partir de um momento, mas é uma baita surpresa trazendo, de quebra, um dos melhores planos-sequência do ano, imitando o jogo PAC-MAN, citado anteriormente no filme. Ninguém no filme é melhor do que Jesse Plemons, mais conhecido como a nova versão de Matt Damon, como o vizinho policial desconfiado do casal. Vale muito a pena.
Em termos experimentais, “Buscando” (Searching) é um filme que ainda não alcançou o merecido boca a boca entre o público. Ele faz uso de uma estética que não é nova: se passa apenas em telas de aplicativos ou aparelhos. É a história de um pai viúvo que precisa criar sozinho a filha adolescente, até o dia em que não tem mais notícias dela. Vasculhando seus perfis nas redes sociais, conversando por vídeo com amigos da filha ou autoridades, ele começa a descobrir mais sobre a personalidade e os hábitos da filha e começa a se desesperar à medida que o tempo passa e ela não aparece. É uma investigação policial recontada a partir das múltiplas telas que permeiam o dia a dia de todos hoje, o que traz uma boa dose de reconhecimento com nossas rotinas diárias em facebook, whatsapp, vídeo-chamadas, emails, instagram e afins, construído com bom ritmo – o que surpreende, já que a primeira impressão é que o filme poderá sofrer justamente por se ambientar apenas em segundas telas.
“Um Lugar Silencioso”, como já escrevi em outro momento aqui na coluna, é um filme feito de contrariedade: sua premissa é baseada no silêncio, mas para funcionar bem é preciso assistir com o volume alto. A estreia promissora do ator John Krasinski (ator de outra boa sugestão deste ano, a minisérie “Jack Ryan”, disponível na Amazon Prime) na direção se passa em um futuro não estipulado, quando o planeta foi tomado por uma raça de seres que não enxergam, mas têm uma audição poderosa e estraçalham suas vítimas. Krasinski, sua esposa e seus três filhos – um deles surdo – precisam sobreviver no absoluto silêncio. É o motivo perfeito para um filme que supera as expectativas iniciais, apesar de resvalar mais próximo do final. Sua metade inicial é maravilhosa e, lembre-se, precisa ser visto com bom volume, apesar de ser silencioso na maior parte do tempo.
DUAS DICAS NA NETFLIX
Não vi ainda, mas preciso ver porque estão em alta na NETFLIX: “CAM”, um filme “pequeno” de terror sobre uma garota, uma “cam girl” de canais eróticos, que descobre que existe outra pessoa igual à ela se passando por ela nas webcams dos usuários. A outra opção é “A Balada de Buster Scruggs”, uma antologia de seis curtas com elenco de peso ambientados no velho oeste. A grande indicação aqui não vem nem do elenco, e sim da direção: quem assina o filme são os irmãos Coen, que dividem sua filmografia entre filmes mais sombrios, como “Onde os Fracos Não Têm Vez”, com comédias de humor negro e altas doses de ironia, como “Fargo”. Seu novo filme, feito para a Netflix, ambienta seus curtas em um território que os irmãos já conhecem, o velho oeste (eles são responsáveis pelo ótimo “Bravura Indômita”, refilmagem do western de 1969). Fica a dica: eu devo colocar os olhos neles nesse final de semana.