Um Papai Noel do outro lado do oceano

Entre tantos representantes do bom velhinho, encontramos um imigrante ganes que cruzou o oceano para encontrar melhores condições de vida e descobriu uma forma de distribuir esperança para crianças e adultos

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Nas atividades do dia-a-dia, Alli cuida da organização dos carrinhos de comprasNas atividades do dia-a-dia, Alli cuida da organização dos carrinhos de compras
Nas atividades do dia-a-dia, Alli cuida da organização dos carrinhos de compras
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Há quem acredite no Papai Noel e quem garante que ele nunca existiu. Há quem defenda que o bom velhinho que distribui presentes na noite de Natal é um exemplo de solidariedade e quem afirme que ele é só uma invenção do capitalismo. O fato é que nesta época do ano as lojas e os comerciais exibem sua figura exaustivamente. Mas nem todo Papai Noel é igual. Alguns mais simpáticos, outros que veem na data uma oportunidade de garantir uma renda extra para a família, e alguns que usam a roupa por prazer. E não é difícil diferenciar uns dos outros.

 

No Brasil, o Papai Noel é uma figura conhecida das crianças, mas não é assim em todos os lugares do mundo. Alli Abdulai está no Brasil há três anos. Natural de Gana, um país africano, ele veio para cá em busca de oportunidades profissionais a fim de poder ajudar a família que ficou no país de origem. Lá ele era mecânico, aqui, já teve diferentes trabalhos e morou em diferentes cidades: Criciúma, Caxias do Sul e Marau.


Hoje ele tem 35 anos e trabalha no Stock Center organizando os carrinhos de compras e fazendo outras tarefas. Ele lembra que quando era criança não havia Papai Noel onde ele morava. Ele só via mesmo era pela televisão quando a programação era americana. Foi assim que ele conheceu o bom velhinho.


Só depois de adulto, já no Brasil, que ele conheceu pessoalmente a figura icônica do Natal. Foi em Passo Fundo que, no ano passado, ele foi convidado a usar a tradicional roupa vermelha para alegrar as crianças, e também adultos, que faziam compras na loja da Petrópolis.


O que seria só mais uma tarefa de trabalho se transformou em uma paixão. Tanto que neste ano ele quis repetir por conta própria. “Gosto muito de crianças, este é o segundo ano que eu me visto. Todos me dizem: ‘Papai Noel, Papai Noel’, e pedem bala”, conta sem esconder o orgulho. Nas atividades normais, o olhar é mais sério, não há espaço para muitas brincadeiras. Mas quando ele começa a se vestir com a roupa vermelha é no olhar que se percebe a maior diferença.


Não há treinamento para interpretar o personagem, nem por isso há menos desenvoltura. Ou, talvez por isso haja tanta desenvoltura. É só ver ele andando pela loja. O tradicional “ho ho ho” acompanhado de um sonoro Feliz Natal chamam a atenção das crianças e não são poucos os que se aproximam para ganhar uma bala ou um pirulito, mas também para abraçar, espontaneamente, o Papai Noel.


“Muitos dizem: ‘eu nunca vi um Papai Noel negro’. E eu digo para eles: ‘hoje vocês viram’”, conta Alli sem perder o bom humor. O personagem é tão marcante que quando ele não se veste com o traje de Natal as pessoas perguntam se ele não vai usá-la. Quando fala da família é no olhar que se percebe a saudade. O pai já é falecido e a mãe e os irmãos ficaram na África quando ele resolveu cruzar o Atlântico. É com o trabalho no Stock Center que ele consegue enviar dinheiro para ajudá-los. Lá, a tradição de Natal é diferente. Ele conta que as pessoas geralmente se presenteiam com bolachas e vizinhos e amigos se reúnem e cada um leva um prato que é compartilhado. “Lá eu nunca me vesti de Papai Noel, só quando eu vim para o Brasil”, lembra.


Neste Natal, apesar de estar longe da família, é com os amigos que ele dividirá a data. Mas não só com eles, também com cada uma das crianças que o abraçam e com cada pai ou mãe que fazem da figura dele um exemplo de esperança.

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