OPINIÃO

Contradições e Esperanças

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Não haveria melhor época do que essa de final de ano, para você reparar na contradição entre o otimismo que impregna as mensagens de boas festas que ora lotam as suas caixas postais eletrônicas – WhatsApp, E-mail, etc. –e o pessimismo que exala das conversações pessoais com algumas dessas mesmas pessoasque lhe enviaram felicitações natalinas e votos de próspero ano novo. E, por precaução, adianto que isso não tem nada ver com Dilma, Temmer e Bolsonaro, por essas bandas, ou Donald Trump, Kim Jong-un ou Emmanuel Macron, por outras paragens. Mas, sim, tem tudo a ver com a necessidade de retomarmos, com mais veemência e menos crítica, alguns ideais e valores que trouxeram a humanidade até aqui. Que ideais são esses, você deve estar se perguntando? Por favor, não se surpreenda (e nem se exalte) se eu lhe disser, e depois fundamentar, que precisamos mesmo, urgentemente, é de reafirmação dos ideais do Iluminismo: razão, ciência, humanismo e progresso.


Não vai ser disseminando pessimismo (e muito menos otimismo de ocasião) que a humanidade vai encontrar a solução para os seus males. Evidentemente, que muitos dos nossos problemas são de difícil solução. Mas, por mais complexas que sejam as soluções de casos concretos, não podemos ceder à tentação e aceitar, passivamente, a falácia de que há problemas insolúveis. Soluções podem ser difíceis ou demoradas, mas sempre existirão. Desde que não se perca de vista a razão, a ciência, o humanismo e o progresso; reitero.


Steven Pinker, o laureado professor do departamento de psicologia da Universidade Harvard, é o autor dessa tese de que o que mais a humanidade precisa, hoje, é afastar essa visão de mundo como um vale de lágrimas, sendo muito mais sensato, se quiser almejar tempos melhores, tomar a defesa da razão, da ciência, do humanismo e do progresso como meta.O novo iluminismo, o livro de Pinker, recentemente publicado no Brasil (2018), é uma espécie de manifesto em defesa dos valores involucrados na razão, na ciência e no humanismo para o atingimento do progresso da humanidade.Ao longo de 686 páginas, Pinker, com a verve que lhe é peculiar, defende a tese, fundamentada em dados, que, se houve progresso no mundo, devemos tudo o que alcançamos graças ao Iluminismo. E, mais do que nunca, precisamos retomar os ideais do Iluminismo, que, em tempos de populismo, politico e religioso, exacerbado, andam meio esmaecidos. Afinal, desde o último quartil do século XVIII, quando a humanidade recebeu as primeiras luzes desse movimento, são passados praticamente 250 anos. E, frise-se, nunca foram e ainda não são poucas, as criticas ao Iluminismo, pois, como realça Steven Pinker, nem bem as pessoas saíram à luz e já vieram lhes dizer que a escuridão não era tão ruim assim, afinal de contas. Não caia, como muitos, nessa tentação!


Os princípios do Iluminismo, expressos ou implícitos,dão forma às democracias modernas. Entenda que, em qualquer circunstância, a razão é sempre inegociável. Por mais tentadora que pareça a proposta, não abdique da racionalidade em nome de um deus antropomórfico e atento aos assuntos humanos. Não, não há outra forma, de se chegar ao conhecimento confiável, que não seja pelo método científico. Em caso de dúvida, compara o teu conhecimento e acesso à tecnologia frente a um antepassado teu. Não ignore que foigraças ao humanismo que teve fim práticas bárbaras como a escravidão. E que progresso não significa reengenharia da sociedade, devendo, sempre, ser norteado pelo humanismo.


Se você lamenta ter nascido nos tempos atuais, talvez seja oportuno rememorar a antológica fala de Barack Obama, de 2016, reproduzida por Steven Pinker, quando ele destacou que se você tivesse de escolher um momento da história para nascer e não soubesse de antemão quem você seria – não soubesse se iria nascer em uma família rica ou em uma família pobre, em que país nasceria, se seria homem ou mulher –, se tivesse que escolher cegamente o momento em que gostaria de nascer, você escolheria AGORA. Isso graças ao Iluminismo!

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