O término de um ano e o início de um outro revelam e não deixam dúvidas de que todos os seres vivos têm vida passageira neste mundo. O corpo vai dando sinais de declínio. Nós humanos temos clara consciência disto, o que pode gerar desencanto pelo viver, acomodação. Surge até a pergunta: faz sentido tanto esforço por tão breves anos?
O ensinamento cristão sobre a vida e a nossa existência no mundo parte desta realidade passageira e oferece um sentido para a vida. Em primeiro lugar, vale refletir sobre o significado do tempo. Podemos entendê-lo no sentido cronológico, que pode ser medido, sempre com a mesma duração, mecânico. Este sentido é muito útil e necessário para organizar a sociedade e os compromissos. Neste caso, o que vale é a longevidade.
Os ensinamentos de Jesus Cristo falam do tempo no sentido de kairós, isto é, o tempo como graça, como oportunidade, como possibilidade, como momento favorável. A simples soma dos anos vividos não é o mais importante, mas a maneira, a intensidade como foram vividos. Por isso, Jesus insistia tanto em falar de vigilância, estar despertos, preparados para viver qualquer situação. A preocupação vai, não na longevidade, mas na qualidade e na intensidade diária. Qualquer tempo já é uma graça, uma oportunidade, já é suficiente para fazer o bem e agradecer.
Jesus Cristo no ensinou que somos amados por Deus desde toda a eternidade. Já somos criados por Ele, mas nos quer tratar como filhos e com direito à herança. Não deseja que ninguém viva como órfão e deu a todos a capacidade de reconhecer a Deus como Pai. O amor é a relação mais profunda e total entre as pessoas. Da parte de Deus somos amados desde o primeiro segundo da vida até o último. Quem se sente amado também é capaz de amar.
Um outro aspecto do ensinamento cristão que dá sentido à vida é que todos somos uma missão. Isto é, todos temos uma tarefa insubstituível neste mundo, todos somos necessários e importantes. Isto é válido em qualquer idade e em qualquer condição de saúde. Quem não conhece alguém com doença grave ou deficiência e não fica tocado ou impressionado com o modo propositivo que vive? A missão que Jesus nos confiou foi a mesma que Ele teve: anunciar o Evangelho a todas as criaturas, passar pelo mundo fazendo bem, amar, promover a vida plena e abundante. Certamente, viver a vida como missão não faltarão as oportunidades.
O cristianismo responde à pergunta sobre a angústia humana do morrer. O desejo humano é ser eterno, mas neste mundo. A resposta de Jesus Cristo contrasta com o desejo humano, mas somente em parte. Sim confirma o desejo de vivermos eternamente, mas não no espaço e tempo restrito da materialidade. A eternidade é contemplar a face de Deus em um mundo que transcende as condições da matéria, do tempo e do espaço. “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que tenha morrido, viverá” (João 11,25).
Olhemos o ano que terminou com olhar de gratidão. Os erros e pecados também são oportunidades para direcionar a vida ao rumo certo. Não há motivos para se acomodar, perder a esperança. Temos motivos suficientes para olhar o ano que se inicia como um tempo de graça, uma oportunidade ímpar para realizar a missão. E quem sabe, a provocação do Papa Francisco se realize: “Será que depois de eu ter passado por este mundo ele será melhor do que quando nele entrei”?
Um abençoado ano de 2019!