Mais de 40 mil animais domésticos estão em situação de abandono em Passo Fundo. No Brasil, este número é de 30 milhões de cães e gatos. A estimativa de vida de um cão é de 10 a 15 anos, já nas ruas, eles vivem em média dois anos, podendo esta estimativa ser ainda menor por conta das situações de risco a que estão expostos. Apesar da estatística, nem todas as histórias são tristes. É o caso da Pâmela que adotou a Luna.
A estudante de 23 anos, Pâmela Barbosa já era dona de um cão, o Luke. Mas para ele não se sentir sozinho já que nem sempre ela pode estar em casa decidiu adotar mais um animal. Pâmela passou algumas semanas procurando um cachorro para adotar até que na metade de julho do ano passado se deparou com a história da Luna. Ao chegar à entidade Pelo Amigo, formada por protetores independentes de cães e gatos, foi apresentada a história da cachorrinha que ficou acorrentada em uma árvore por quatro anos, depois de ser abandonada pelos antigos donos em um terreno baldio. A entidade fez o resgate de Luna que estava toda machucada e colocou para adoção. Assim, Pâmela se comoveu com a história e decidiu ficar com Luna. “Quando li a história dela não tive dúvidas. Foi amor a primeira vista. Eles nos dão um amor sem explicação, recomendo que quem tiver condições adote um animal ao invés de comprar. A gente sente a gratidão nos olhos dela”, afirma.
A Prefeitura de Passo Fundo reconhecendo o abandono como um grande problema criou em 2014 o programa “É o Bicho” que se dedica ao bem-estar dos animais de rua do município. Através de uma unidade móvel que passa por todos os bairros da cidade, cães e gatos encontrados na rua são levados até clínicas veterinárias conveniadas com o programa para realizar o procedimento de castração cirúrgica. Segundo o secretário da Secretaria do Meio Ambiente, Rubens Astolfi, o programa já realizou 2.950 castrações e sua criação foi com o intuito de evitar a procriação descontrolada, que conforme ele é um dos principais motivos de existir tantos animais em situação de abandono. No caso de Vinícius, ele encontrou uma gata grávida na rua e ajudou a dar um destino feliz à ela e seus filhotes.
O estudante de 19 anos, Vinícius Quevedo Savi encontrou uma gata grávida abandonada na rua de sua casa. Segundo ele, o animal recebia todos os cuidados que precisava dos moradores que são vizinhos. “Quando a gata ganhou os filhotes, minha mãe que ajudava a cuidar dela me levou para conhecer os pequenos filhotes. Resolvi trazer um para casa e incentivei que os vizinhos também adotassem os outros gatinhos e a mãe para não ficar na rua. Dei o nome de Monalisa para a gatinha que adotei, então fiz a castração e ela já está comigo há dois anos. Adotar um animal de rua é muito gratificante, a gente sente a gratidão em cada gesto de carinho deles”, conta Vinícius.
A fiscalização também é uma parte importante do processo já que o abandono de animais é crime punível com multa. As medidas de fiscalização vêm sendo cumpridas em Passo Fundo. Conforme o vereador Rafael Colussi, foi solicitado recentemente um aumento na estrutura da Secretaria do Meio Ambiente para atender a fiscalização de animais em situação de maus-tratos. O abandono também é considerado uma forma de maus-tratos e segundo o secretário Rubens Astolfi são realizadas mais de 700 fiscalizações por ano. “É importante continuar investindo na castração, no programa É o Bicho e também estruturar as políticas públicas de bem-estar animal para diminuir esse número alarmante de animais nas ruas”, afirma o secretário. Apesar de toda a fiscalização, o abandono ainda é frequente, mas algumas pessoas se comovem e ajudam como é o caso da Andressa e da Nica.
A estudante de 19 anos, Andressa Wentz já adotou três cães de rua, mas há oito anos, uma história marcou sua vida. Andressa ainda era criança e muito apegada aos animais. Ela frequentava a loja que a mãe trabalhava todos os dias, até que foi avisada por um colega de trabalho de sua mãe que dois cachorros haviam sido abandonados na oficina mecânica que se localiza em frente à loja. Ela foi até o local para conferir a situação dos cães e neste meio tempo um dos animais já havia sido adotado, mas outro ainda estava lá em péssimas condições. Dias se passaram e os funcionários da oficina não conseguiam mais cuidar da cachorrinha, então Andressa decidiu adotar e deu a ela o nome de Nica. “Eu amo animais então sempre fico feliz em adotar, tirar um animal da rua é algo grandioso afinal você está dando lar para um bichinho abandonado, que não tem nada. Eu sinto como se ela tivesse me adotado e não o contrário”, afirma Andressa.
Na câmara
A câmara de vereadores aprovou três medidas importantes em relação aos animais. Segundo o vereador Rafael Colussi, a primeira consiste em uma frente parlamentar mista de proteção e bem-estar animal que tem como objetivo diagnosticar as falhas em relação aos serviços prestados aos animais do município para que possam ser corrigidas. A frente tem participação da UPF, IMED, Associação dos Médicos Veterinários do Planalto, Batalhão Ambiental, Secretaria do Meio Ambiente, Ministério Público, Convidas, entidades de proteção e protetoras independentes.
Já a segunda, criou o fundo de proteção e bem-estar animal que possibilitará o recebimento de recursos financeiros oriundos de multas de maus-tratos, multas do Ministério Público do Trabalho, dedução fiscal de pessoas jurídicas (o direito de ser ressarcido por pagamentos que não são tributáveis, então o valor da dedução, que seria uma colaboração é abatido no imposto de renda), doações de pessoas físicas e medidas compensatórias. Os recursos serão usados para castrações e atendimentos de animais. O conselho diretor do fundo animal já está em formação, as inscrições encerraram no último dia 17 e no dia 10 de janeiro haverá a eleição para que sejam conhecidas as entidades responsáveis por zelar pelos recursos financeiros do fundo de proteção e bem-estar animal.
A terceira proposta aprovada é a regulamentação de venda de animais. Onde somente animais registrados, castrados e microchipados poderão ser comercializados. A proposta visa garantir a segurança e acomodação dos animais, que não poderão ser expostos em vitrines. A intensificação da fiscalização nos canis clandestinos é uma prioridade segundo Rafael, então somente os canis com registro nos órgãos competentes poderão comercializar animais. A regulamentação das feiras de adoção realizadas em espaços públicos também é uma pauta presente.
Em trâmite
Outro projeto, também do vereador Rafael Colussi, tramita na Câmara, prevendo que das 10h às 16h e das 21h às 6h, todos os dias, seja permitido o transporte de animais domésticos até 20 kg nos coletivos urbanos de Passo Fundo. Mas, para que possam utilizar os transportes existem algumas condições. O animal precisará estar limpo e preservado de problemas de saúde e doenças transmissíveis, sua carteira de vacinação deverá ser apresentada, constando a vacina antirrábica em dia, deve estar acomodado em um dispositivo apropriado para seu transporte. Conforme o vereador, o projeto é necessário uma vez que a população, por falta de amparo legal, é impedida de se deslocar junto ao animal de estimação, o que também pode vir a se tornar um motivo de abandono.
Dicas para adoção
A adoção de um animal de rua seja ela direta ou por meio de alguma entidade é uma atitude muito importante. A partir dela a triste estatística dos animais abandonados pelas cidades vai diminuindo, mas alguns cuidados precisam ser cuidados a partir do momento da adoção. Segundo o blog criado pelo Centro Clínico Veterinário de Passo Fundo, o primeiro passo é fazer uma visita ao veterinário para conhecer mais sobre o animal que está levando para casa e também se possa definir uma boa alimentação. Mudanças muito bruscas nos hábitos de um animal podem desencadear uma série de distúrbios. É recomendável fazer uma cama quente para o pet e caso optar por deixar fora de casa, deve-se priorizar uma casinha de madeira por ser mais aquecida, as casinhas de plástico também podem ser usadas, porém somente com muitos cobertores. Outra recomendação importante é o uso de tapetes higiênicos para ajudar a habituar, no caso dos cães, a fazer suas necessidades no local correto e no caso de gatos, fazer uso da caixa de areia, lembrando que cada animal deve ter o seu local de fazer as necessidades, sem compartilhar com outros.
AMPARA
Desde 2002 até o final do ano passado, os animais abandonados em Passo Fundo eram atendidos pelo CAPA (Clube dos Amigos e Protetores dos Animais). Porém, em decorrência da nova legislação federal vigente, o município precisou regular sua atividade, que agora prevê o chamamento público para definir a entidade responsável por algumas pastas, dentre elas, os animais abandonados. Quem venceu o chamamento foi a AMPARA (Associação Municipal de Proteção aos Animais em Risco ou Abandonados), única interessada no chamamento. Mais de 300 animais que ficavam na sede do CAPA foram realocados na sede da AMPARA, no distrito de Bela Vista. O auxílio financeiro do município no termo de cooperação combinado com a entidade foi de R$ 49,27 mensais por cada animal.
Como funciona o microchip
Um microchip eletrônico é minúsculo e fica dentro de um cilindro de ar que é do tamanho de um grão de arroz. O microchip é inserido com uma agulha hipodérmica abaixo da pele do pescoço do animal e é ativado quando um scanner passa pelo local. Quando ativado, o microchip emite uma frequência de rádio e o número de cadastro do animal aparece no scanner, a partir deste número é possível acessar no banco de dados da fabricante do produto todas as informações daquele animal e de seu responsável. O número de cada animal é único e intransferível. Ao adotar um animal microchipado o dono já fica ciente de todas as condições e cuidados que ele necessita e seu histórico, facilitando os cuidados.