Um cronista ou um projeto, como sou, tem alguns fãs que comentam meus dizeres; alguns dão palpites...um cronista que se leve a sério não deve abusar da inteligência alheia e estabelecer ditames concludentes sobre qualquer assunto porque suas conclusões se baseiam em vida vivida e perspectivas, além de insights do subconsciente aliado a um estado de coisa que não é mas que gostaríamos que fosse. Dessa salada saem nossas opiniões que em boa parte das vezes mudam, oscilam de acordo com ideias de outras pessoas. Confesso que em poucos dias não lembrar de que tema abordei.
Bem, uma médica morreu de câncer aos 40 e deixou postada mensagem poderosa sobre a vida que vale a pena e que nada tinha a ver com a que tinha vivido. Aconselha a seguir os instintos dionísicos de festas e contemplação do belo, do belo do cotidiano, do belo da chuva e do sol, das estrelas e da música, da arte e dos bons amigos, dos livros e poesias. Uma vida de qualidade é aquela em que dispomos o tempo para fazermos o prazeroso que em muitas vezes é uma graça, de graça, sem dinheiro na jogada. Assim, sobre esse assunto, abordou-me um camarada na casa espírita constatando que sua vida não tinha qualidade. Numa rápida análise percebi que suas atividades rotineiras eram repletas de momentos dos quais não restavam jactância. Em outras palavras, fazia coisas que não gostava e gastava muito tempo em desfavor de coisas que apreciava mas, que não dispunha de tempo para usufruí-las. Exemplos: apreciava ouvir músicas, mas não tinha tempo para isso; adorava caminhar com sua esposa, mas não tinha tempo disponível; fazia-lhe bem dançar,mas...Como reconhecer vida de qualidade se não tem qualidade de vida?
Outro disse-me curioso em saber o que havia sido em outra existência. E, antes de prosseguir, esclareço não suportar ideia de estar fazendo proselitismo sobre estado espiritual; apenas escrevo sobre meu desiderato...todos têm um - nada entendo sobre regressão ou terapia de vidas passada. Contei minha experiência pessoal, minha auto-hipnose espontânea ou não deliberadamente provocada. Em transe, sonambúlico, fui introduzido em uma sala onde havia uma grande mesa ocupada somente por uma menina de aproximadamente 25 anos; ele estava me aguardando e demonstrava ansiedade e nervosismo, eu também. O encontro estava agendado de comum acordo, mas eu não tinha consciência disso. Ela levantou e ficou me mapeando com seu olhar de curiosidade, eu nunca havia visto aquela pessoa e era-me tão familiar. Compreendi na contemplação e silêncio que estava diante do que havia sido em outra vida; sim, eu fora uma menina em outra existência e ela examinava seu futuro, ou seja, eu era seu futuro, era o que ela viria a ser em sua próxima existência. Ficamos à autoanálise em silêncio e percebi que ela havia morrido com aquela idade, 25 anos, de causa traumática, talvez mal atendida, talvez atendimento demorado e ineficiente. Disso tudo ficou-me a certeza da razão de ser médico do trauma e porque habitam em algumas virtudes, que imagino ter, as ressonâncias femininas, como a sensibilidade, romantismo e respeito à condição da mulher. Coisas minhas, de minhas escolhas pessoais. Na verdade, embora orgulhoso, não nasci para ser apenas médico. Ser médico é apenas minha profissão, devo ser maior do que ela, devo ser pessoa, devo ser gente.
Disseram-me gostar quando escrevo sobre músicas, filmes, políticas ou fatos históricos. Mas, alguém tão cândido, de olhar sofrido pediu-me e assenti...doutor, minha mãe gostaria que eu dissesse ao senhor pra falar da alma, fala da alma, doutor...