OPINIÃO

O crime nos presídios

Por
· 2 min de leitura
Você prefere ouvir essa matéria?
A- A+

O combate às fontes inteligentes da criminalidade deveria começar no sistema prisional. A regularização da posse de armas é anunciada pelo governo Bolsonaro como cumprimento de promessa de campanha, considerando o sufrágio das urnas como desejo popular. As opiniões que balizam a eficiência do desarmamento, contrapondo a idéia de liberação da posse ou porte de arma não oferecem conclusão segura. Nem a liberação do uso de armas, nem a funcionalidade do desarmamento proposto comprovam resultados claros de redução da criminalidade. O que queremos dizer é que o anúncio do governo, mesmo aceito como compreensão de meio para a defesa pessoal e patrimonial, não se comprova como eficácia para acudir a maioria da população. O crime organizado, este sim, é causa evidente de insegurança. E está homiziado no sistema guarnecido (e caro) pelo estado. É realidade paradoxal chocante.

 

População carcerária
O Brasil apresenta a terceira maior população carcerária do mundo, com 720 mil apenados. Outros milhares estão aguardando vaga na cadeia. O controle dessa população apenada apresenta aspectos caóticos. Apenas 12% dos presos têm acesso a programas educacionais e 15% ao trabalho. A missão indeclinável de recuperação do condenado prevê basicamente trabalho e escolaridade básica. A taxa de recaída varia entre 40% a 70% considerando diferentes formas de benefício ao detento. Especialmente os dependentes de tóxico são presas fáceis que se submetem aos comandos das facções. A falta de recursos e o poder instalado do crime geram conivência da própria vigilância. As revistas internas, quando acontecem, mostram muitas armas e centenas de telefones para o uso das facções. Ali estão segregados os chefes do crime que agem com extraordinária facilidade e precisão no planejamento.


Poder do comando
Até os condenados por crimes de menor potencial ofensivo se rendem ao comando das facções, tornando a estrutura, inteligência para o terror dos assassinatos, inclusive em planos de eliminação de autoridades. Em vez de redimir encarcerados, o sistema fortalece as hostes do mal. Os cálculos de investimento de ampliação e correção preconizam a casa dos 50 bilhões. A situação está séria demais para se imaginar que facilitação legal na posse de armas ao povo tenha significação na redução da criminalidade.

 

Armas
Reiteramos que o decreto presidencial apenas desburocratiza a posse de arma. Parece plausível que se construa melhor entendimento quanto à criminalização da posse e porte de arma de fogo, especialmente na zona rural. Não é justo dizer ao povo que agora as pessoas podem defender-se. Além do mais, quem realmente poderá obter legalmente uma arma? Os pobres, não!

 

Paulo Farina

O jovem sacerdote que conheci, ainda no final da década de 50, percorria as ruas desta cidade pedalando uma bicicleta. Acompanhava movimentos jovens e logo assumiu a direção do então Asilo Lucas Araújo, sucedendo Modesta Vanzo, no cuidado de idosos. A Mitra Diocesana recebeu a incumbência de gerir e desenvolver a instituição que passou a ser Fundação Beneficente Lucas Araújo. O nome é em memória ao benfeitor desta cidade que deixou respeitável patrimônio para abrigar idosos e crianças desamparadas. O jovem padre Paulo Augusto Ferina começou cheio de vida e vontade solícita nesta missão. A instituição foi crescendo e ampliando atendimento a desamparados. Foram 60 anos de dedicação, com olhar humano pleno de compreensão. Teve papel importante de conselheiro e amigo de uma geração angustiada de jovens da comunicação, ao dirigir a Rádio Planalto, da qual foi fundador. Sabia como acreditar nas pessoas, oportunizando emprego e sobrevivência digna a muitas famílias. Olhava com apreço aos mais humildes. Paulo Farina deixou sua caminhada de dedicação percebida por centenas e milhares de pessoas. Nunca abdicou de fazer o bem. Sem discriminar pessoas foi um curador de gerações. Faleceu aos 89 anos e deixou luz de uma vida de coragem, às vezes silenciosa, numa inesquecível convivência de grandeza.

Gostou? Compartilhe