Muitas pessoas, nesta época do ano, têm a oportunidade de fazer as suas merecidas férias. Interromper a rotina de trabalho, de estudos e de outras atividades é salutar. Porém, férias não significa fazer nada, mas fazer coisas diferentes que o cotidiano nos obriga a fazer apressadamente. O que fazer nas férias? Como vivenciá-las? O merecido descanso para não se tornar vazio nem fonte de tédio, deve gerar enriquecimento espiritual, maior liberdade, possibilidade de contemplação e comunhão fraterna, é preciso escolher, dentre os meios da cultura humana e as diversões que a sociedade proporciona, aqueles que ajudam a alcançar os objetivos. Um planejamento, com alguns pequenos objetivos, qualifica a vivência das férias. Não existe um caminho único, pelo simples fato das pessoas exerceram atividades diferentes, terem habilidades e gostos diferentes.
O ritmo da vida é intercalado de atividades e descanso, dividido em ritmo diário, semanal e anual. Trabalha-se algumas horas do dia e depois se descansa; trabalha-se uma semana com um descanso maior; trabalha-se um ano com um descanso de vários dias. O repouso é uma necessidade humana para realizar com mais eficácia e produtividade as atividades cotidianas e cultivar as outras dimensões humanas. Sendo uma necessidade, é um direito fundamental da pessoa. Na tradição judaico-cristã o descanso semanal adquire uma aura “sagrada”, o mesmo pode ser dito das férias anuais.
Graças ao descanso, as preocupações e afazeres cotidianos podem reencontrar a sua justa dimensão. Por mais importante e necessário seja aquilo que fazemos, se deixamos de trabalhar por alguns dias, percebemos que a vida continua, pois outros realizaram as nossas tarefas. Ajuda-nos a perceber que não somos insubstituíveis e que a vida tem outras dimensões fundamentais que necessitam de grande cuidado para ter uma vida equilibrada e harmoniosa: os valores da vida espiritual; o encontro e diálogo mais tranquilo com as pessoas próximas; a contemplação das belezas da natureza.
Não tendo a rotina diária, com os horários e compromissos fixos, nas férias é possível gozar a presença dos familiares, amigos e de outras pessoas que encontramos. As relações têm a marca da gratuidade e não do trabalho ou outros interesses. Muda o diálogo e seus temas. Não interessam tanto as palavras, mas a convivência mais prolongada. Estar presente, ser presença, é a prioridade. É uma escolha consciente. Neste contexto, administrar a presença onipresente dos diferentes meios de comunicação virtuais exige bom senso e sabedoria. A qualquer momento alguém de fora pode invadir e interferir gerando distanciamento ou indiferença.
Muitas férias são realizadas em contato mais próximo com ambientes naturais: a imensidão do mar, uma mata nativa com sua riqueza de águas, flora e fauna. Simplesmente estar nestes ambientes provoca uma série de reações e nos faz lembrar que somos natureza e somos uma parte dela. Simplesmente contemplar e experimentar.
Tempo de férias é tempo propício para cultivar a espiritualidade. Não somos só seres racionais, seres do fazer e da ação. Somos também seres espirituais. Para o cristão a espiritualidade é mover-se e viver em Deus. Comungar com o Seu modo de pensar o mundo e as pessoas. É compartilhar os mesmos sentimentos de misericórdia, de solidariedade, de justiça e fraternidade. É ter compaixão com a dor alheia. É ver as pessoas além das aparências e das suas capacidades. É colocar-se em oração e diálogo de amor. É abrir-se ao espírito divino. É dar tempo para estar com Deus.