Não soa descabida, ainda que aparente, a maneira como os britânicos costumam se referir ao Observatório Real de Greenwich, chamando-o de “A Casa do Tempo”. Esse estabelecimento, que, desde 1997, faz parte do patrimônio da humanidade da UNESCO, foi criado em 1675, sob os auspícios do Rei Charles II, ehospeda o primeiro meridiano do mundo, a longitude 0º (000º 00 00), que serviu (e ainda serve na prática) para as medições relativas de tempo e espaço no globo terrestre.
A corrida por riquezas e conquista de novas terras, uma vez consolidadaa era das grandes navegações iniciada no século XV, demandava, passados quase 200 anos, em pleno século XVII,que os navegantes contassem com um melhor sistema de posicionamento e contagem de tempo. O problema não era tão simples quanto aparenta hoje. Como medir o tamanho exato da Terra? Como estabelecer um sistema de plotagem e localização de cidades e outros marcos geográficos? Como um navegante poderia saber se estava a Leste ou a Oeste de um determinado ponto?
Os céus e os movimentos aparentes dos astros eram as referências. Os gregos haviam se debruçado sobre essa questão. Até mesmo, não se ignoravam certas coordenadas que mediam ângulos Norte e Sul, em relação ao Equador (linha imaginária que divide a Terra em dois hemisférios), que, hoje, chamamos de latitudes. Mas as medições Leste-Oeste se mostravam mais complexas e difíceis, uma vez que não havia um marco de referência como o Equador.Usavam-se uma série de pontos zeros arbitrários, tipo algumas cidades ou marcos geográficos naturais, que davam margem a confusão e não se prestavam bem ao fim destinado.
Foi nesse cenário que o Rei Charles II, visando a dar um melhor apoio aos seus navegadores, dotando-os de um sistema de posicionamento (tempo e espaço), comissionou a construção de um observatório onde o primeiro astrônomo real nomeado, John Flamsteed, pudesse, a partir da ligação com as estrelas, definir, com mais precisão, as posições de latitude e longitude terrestres. Ele começou pela retificação de tabelas de movimentos de astros e posições de estrelas fixas, disponibilizando novas cartas aos navegadores.No entanto, apesar do progresso, isso não foi suficiente para evitar o grande desastre de 1707, quando quatro navios da frota real da Inglaterra, naufragaram na costa da Sicília, deixando 1600 mortos. Essa tragédia incentivou os investimentos em Greenwich e novos estímulos na forma de premiação para quem conseguisse desenvolver um sistema de posicionamento global melhor para a marcação do tempo e do espaço, especialmente nos mares.
A consolidação do Observatório Real de Greenwich foi sendo feita aos poucos, com os novos prédios sendo construídos e os avanços sendo alcançados, à medida que se sucediam os astrônomos reais. Efetivamente, foi James Bradley, o terceiro astrônomo real, que, em 1749, recebeu dinheiro para construir um novoobservatório. e. posicionou a mira do novo telescópionaquele que seria definido como o meridiano de Longitude 0º, que apareceu no primeiro mapa publicado em 1º de janeirode 1801. Isso transformou Greenwich no “centro do mundo”, onde o Oriente (Leste) encontra o Ocidente (Oeste).
O tempo médio de Greenwich (GMT – Greenwich Mean Time), baseado no tempo solar médio no meridiano de Greenwich, trilhou um longo caminho até ser reconhecido oficialmente no mundo. Em 1884, houve a Conferência Internacional do Meridiano, em Washington D.C., quando adotou-se o dia solar médio, que contava 24 horas e iniciava a meia-noite em Greenwich. O meridiano de Greenwich foi ratificado como longitude 0º por 22 países, um contrário (San Domingos) e duas abstenções (Brasil e França).
Ainda se pode considerar o padrão GMT ou tempo Universal (TU), por ter boa aproximação para fins práticos. Mas, desde 1958, o mundo adotou o sistema UTC (Coordinated Universal Time), como forma de manter a variação do Tempo Universal (TU/GMT) e o Tempo Atômico Internacional (TAI, baseado no átomo de Césio 133)dentro de um décimo de segundo um do outro.