Uma quase tragédia que se transformou em negócio. Esse poderia ser o resumo da história de empreendedorismo do engenheiro elétricoTiago Cherobin, que a partir de um episódio que aconteceu na infância desenvolveu uma tomada que evita choques elétricos. A chamada Safeplug funciona com um sistema de encaixar, girar e plugar. O produto, fabricado em Passo Fundo, está no mercado desde janeiro deste ano e já é comercializado para outros estados como Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Piauí, além de venda online.
Uma das inovações, além do sistema encaixar, girar e plugar, é que após retirar o plugue, a tomada volta sozinha à posição de origem. Isso porque as pessoas poderiam se esquecer de girar a tomada de volta e o objetivo é justamente evitar acidentes domésticos, em especial com crianças, como o que aconteceu com Tiago.
“A gente tinha aqueles televisores antigos. Eu tinha curiosidade porque o pai colocava na tomada e saia uma imagem daquilo. Eu queria saber que imagem saia de mim se eu colocasse na tomada. O pai estava deitado no sofá descansando depois do almoço, a irmã e a mãe estavam na cozinha e eu fui e peguei um prego que estava em cima da cômoda e coloquei na tomada. Fiquei grudado e roxo”, relembra. Tinha em torno de cinco anos à época do choque. Ele e a família moravam no interior de Xaxim, Santa Catarina.
Depois disso, de tanto relembrar a história e contá-la a conhecidos e amigos, o engenheiro decidiu criar um sistema de proteção para que outras famílias não vivenciem situações parecidas e evitem acidentes, que podem ser fatais. Foram dois de insistência só desenvolvendo o sistema giratório. Mas a ideia vem sendo desenvolvida há mais de sete anos, desde á época de faculdade.
A partir de um prêmio de inovação que conquistou com a ideia e de incentivos financeiros do pai, a família Cherobin investiu no negócio. As atividades da empresa iniciaram em 2015. Durante esses quatro anos, passaram por processos de desenvolvimento do produto, certificações e patentes. As principais dificuldades do período foram conseguir recursos e alinhar o projeto. “No computador é tudo perfeito. Quando transforma nos moldes de injeção, a gente começa a ver interferências que antes não tinha. Ai começa de novo, faz alterações, testa”, explica Tiago.
Com o produto testado e funcionando, conquistaram o certificado da tomada de 10 amperes em dezembro. O certificado da tomada de 20 amperes deve sair neste mês. Na empresa, trabalharam, além de Tiago, o pai Zilmar e a irmã Tatiane. Os homens ficam na montagem e teste do produto e Tatiane comanda o setor administrativo. A capacidade de produção é de 500 tomadas por dia. O produtoé testado de três em três meses pelo Inmetro. São realizados mais de 190 testes.A escolha por Passo Fundo foi em função da posição geográfica e da proximidade com fornecedores.
A ideia agora é produzir a tomada em outras cores. No momento, há o produto nas cores azul, rosa e verde. Em testes, há as cores black piano, preto fosco e um tom de cinza. “Estamos fazendo testes com pigmentos porque são dois materiais distintos, então é difícil conseguir o mesmo tom de cor nos dois materiais”, complementa o engenheiro.
E a parte de trás da tomada?
Uma das dúvidas mais frequentes é com relação aos fios que ficam atrás da tomada, afinal, se ela gira, os terminais devem girar junto, correto? Errado. Os terminais que recebem os fios ficam fixos. O sistema de giro fica restrito a uma pequena caixinha central da tomada.
Acidentes aumentam durante o período de férias
A Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade (Abracopel) alerta que é no período de férias escolares que crescem acidentes envolvendo eletricidade, principalmente na faixa etária entre 0 até 15 anos: em 2015 foram 63 crianças que morreram devido a acidentes envolvendo a eletricidade, em 2016, a boa notícia é que este número caiu para 48 mortes. Em 2017 o número subiu muito, passou para 75 mortes.
O contato com tomadas sem proteção, extensões com fios desencapados, eletrodomésticos energizados, fios partidos dentro de casa são apenas alguns dos motivos que levaram 42 crianças e adolescentes à morte. Em 2016, foram 30 mortes nestas condições e em 2017, subiu novamente para 40 mortes.
No primeiro semestre de 2018, 38 crianças morreram por choque elétrico, conforme dados disponibilizados previamente pela Associação. Se a tendência se mantiver, a entidade prevê um novo aumento em relação a 2017. Os acidentes não ocorreram somente no mês das férias, eles se sucederam ao longo de todo o ano, porém é certo que o maior tempo livre oferece também maiores possiblidades de acidentes, conforme a Abracopel.