Um espaço dentro da própria indústria que oferece aos trabalhadores a possibilidade de aproximação com os livros. Criado pelo Serviço Social da Indústria (SESI), o projeto SESI Imaginação é um expositor que disponibiliza uma estante com cerca de 50 livros variados, substituídos regularmente, onde os trabalhadores têm acesso no horário de expediente ou também para que possam levar para as suas casas. O projeto está incentivando os funcionários a ter o hábito da leitura, além de auxiliar na saúde mental. Das centenas de bibliotecas espalhadas pelo Estado, Passo Fundo possui seis indústrias com acervo em suas dependências - Belém Indústria e Comércio de Alimentos, Agromac, GSI, JBS, Kuhn e IC Usinagem Industrial.
Para o funcionário da empresa Kuhn, Jones Tibolla, os mais de 30 livros pegos através do projeto driblaram as dificuldades com a língua portuguesa e a falta do hábito da leitura. “A instalação desta pequena biblioteca aqui na empresa mudou muito minha vida, porque antes eu não tinha o hábito da leitura. Eu passei a gostar de contos e de histórias reais, aquelas que vejo que vou tirar um proveito. Com o livro a gente interpreta, imagina, relaxa e as histórias nos abrem um leque de pensamentos. Eu já cheguei a pegar uns seis livros na mesma semana e agora para 2019 quero aprender inglês para conseguir ler um livro na língua”, conta. Na lista para as próximas leituras de Tibolla, se encontram O Ladrão de Sorrisos e A Perseguição.
Contando com um grande leque de livros infantis e ilustrações disponibilizados pelo projeto, os funcionários das empresas aproveitam para incentivar também a leitura dentro de casa. Na família de Tibolla, a oportunidade foi fundamental para diminuir a tecnologia dos filhos de sete e 14 anos. “Eu inverti os valores dentro de casa. Meus filhos estão na fase do celular, televisão e videogames, mas agora estou tirando um pouco as redes sociais e dando mais espaço para a leitura, e eles aprovaram. A gente pega um livro para relaxar e lemos quase todas as noites. Agora eles até me ligam para lembrar de levar um livro para casa”, brinca Jones,que deseja ainda que o projeto possa ser levado para mais colaboradores e outros locais dentro da indústria.
Segundo o gerente de operações da região do SESI, Jairo Talarico, o objetivo principal era disponibilizar e ampliar o acesso à informação e à cultura, incentivando o hábito da leitura dentro das indústrias de forma gratuita, além de contribuir para melhorar os indicadores de leitura no Rio Grande do Sul. Agora, o órgão colhe resultados positivos. “O SESI sempre foi um indutor da cultura nas comunidades em que está instalado, especialmente em relação ao seu público focal - o trabalhador da Indústria e seus dependentes. Ao longo do tempo se sentiu a necessidade de estar ainda mais perto das indústrias e, a partir disto, foi desenvolvido o projeto. Sabemos que o acesso a livros se torna mais difícil para as pessoas que passam uma grande parte do seu dia, dentro do trabalho”, acrescenta.
Dentre os variados gêneros literários disponibilizados, estão os romances, suspense, contos, livros espíritas, histórias gerais, infantis e livros que intercalam o português com o inglês. E foi a gama de opções que atraiu o auxiliar de produção da empresa Agromac, Felipe Tronco de Brito, para o hábito da leitura. “Era meio difícil pegar um livro e tirar um tempo para ler. Ainda não é direto essa leitura que eu faço, mas quando eu posso vou ali na estante, e como tem várias opções, eu procuro ler uma coisa diferente, o que facilita ter aqui na empresa também, porque às vezes não temos tempo de ir até uma biblioteca e acabamos perdendo o contato com a leitura”. Brito, que prefere livros de ação e fantasia, já se encantou com histórias como a saga do Harry Potter e do Senhor dos Anéis, Marley e Eu e a Odisseia.
Saúde mental
O SESI Imaginação tornou-se também um grande aliado aos chamados fatores psicossociais – tendo a depressão como mais comum, e que interferem diretamente na qualidade de vida das pessoas e é uma das maiores causas de afastamento dos trabalhadores. A Organização Mundial da Saúde (OMS) fez um alerta sobre a depressão. De acordo com o documento, a doença será o maior motivo de afastamento do trabalho no mundo, até 2020. Nos últimos cinco anos, transtornos mentais e comportamentais, como altos níveis de estresse, foram a terceira maior causa de afastamento dos trabalhadores brasileiros. Para a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o estresse pode causar alterações agudas e crônicas no comportamento dos empregados, principalmente se o corpo e a mente não conseguem descansar e se recuperar das atividades trabalhistas.
Segundo o gerente, Talarico, é notável que um indivíduo que lê regularmente, além de se tornar um sujeito mais culto, tem uma melhora significativa na qualidade de vida. “O acesso aos livros permite que as pessoas viagem sem sair do lugar, façam parte de uma narrativa e até construam a sua própria narrativa. Este movimento, por si só, atua na prevenção primária, pois, oferta ao trabalhador uma outra ocupação, além do própria atividade laboral. Hoje todas as ações que possam auxiliar os trabalhadores a terem uma vida mais saudável, no sentido mais amplo - físico, mental, social, espiritual e até financeiro, devem ser buscadas, pois, ele será muito mais contributivo para o meio onde está inserido”, disse.
Como ter o programa na sua indústria
O produto é gratuito e para implantá-lo na indústria é preciso um contrato assinado entre o SESI e a empresa pelo prazo de 12 meses. Para isso, basta entrar em contato com o SESI da região e solicitar uma visita dos responsáveis pela Educação.
“A leitura ajuda muito na fala, na escrita e tem situações que usamos palavras fora do nosso cotidiano, e aprendemos elas através da leitura. Eu sempre gostei de ler e de fugir do tradicional, gosto desde romance até assuntos variados e tenho o costume de contar histórias infantis para o meu irmão, justamente para que ele pegue esse gosto pela leitura. Se eu sei que vou passar o período do almoço na empresa, sempre me programo para ler um livro. É sensacional, os livros nos levam para outra dimensão, abrem a mente e, por exemplo, eu imagino a história na cabeça e fico pensando o que eu faria se fosse comigo”, expressa Mariana Müller da Silva, que trabalha na Agromac há seis meses e já leu três livros disponibilizados pelo projeto.
O projeto na Kuhn
Para a indústria de implementos agrícolas Kuhn, o SESI Imaginação faz parte da rotina dos trabalhadores desde 2015. Com a mudança de localização das duas estantes de livros para a área de descanso e refeitório, o acesso se tornou mais constante. “É um espaço que tem circulação dos funcionários durante o intervalo, então alguns lêem aqui, pegam e devolvem o livro durante esse período, tem o espaço da grama e embaixo das árvores que também são utilizados para esse momento. Incluímos uma atividade cultural nas horas de lazer, que é um tempo ocioso. Tivemos uma boa aceitação”, explica Vanessa Serafin, do setor de direitos humanos.
O projeto na Agromac
A Agromac – indústria e comércio de equipamentos agrícolas, tem o projeto SESI Imaginação desde 2014. Há um ano, o local em que ficavam os livros foram repensados para uma área em que todos os colaboradores circulam, próximo ao ponto e da produção. “Hoje, vemos a leitura como algo crucial para a aprendizagem do ser humano, pois é através dela que se enriquece o vocabulário, se obtém conhecimento, dinamiza o raciocínio e a interpretação. Muitas pessoas dizem não ter paciência para ler um livro, no entanto isso acontece por falta de hábito e é justamente isso que queremos para todos, incentivar a leitura”, explica Cristina da Silva, através do departamento de comunicação.
Bibliotecas SESI
No Estado, o SESI possui 26 bibliotecas fixas na qual todas as pessoas da comunidade podem ter acesso ao acervo para consultas, pesquisas, leitura no próprio local ou levar para casa. “Os espaços físicos auxiliam na difusão da informação e da cultura, incentivando a leitura e a produção do conhecimento e de competências, ainda como objetivo transversal, as bibliotecas do SESI buscam a elevação da escolaridade, do capital cultural e o desenvolvimento contínuo e pleno da cidadania”, ressalta Talarico. Para ter acesso aos livros, basta comparecer em uma das unidades do SESI com um documento de identificação.