Seu brilho era como estrela no breu da noite. Ricardo Boechat, jornalista estudioso da vida e dos fatos, morreu tragicamente em acidente. Sua trajetória profissional foi de emoção e compreensão acerca dos fatos cotidianos num momento de aceleração nas informações, momento a momento. Singrou a noite sem medo de dizer (o que foi seu ofício), empunhando a ardentia do argumento e das razões. Seu jeito de abordar as questões nem sempre gerava a simpatia fácil ou fictícia, sempre argumentando numa busca implacável da verdade. Acreditou no diálogo franco e às vezes severo, com a palavra escrita e falada. A grande estrela do jornalismo brasileiro deixa a convivência de longos anos de luta, mas também deixa um rasto de luzes, dessas que não se apagam.
Pobres humanos
Os tempos de modernidade não alteram os fatores da violência. Convenhamos que os crimes dolosos, assassinatos na rua ou dentro das casas crescem assustadoramente. Ao mesmo tempo parece que a indignação dos justos, ou pessoas de bem, estacionou perigosamente. Há um misto de cansaço e omissão perante as causas escancaradas desse assombro criminoso. Este silêncio banaliza. Além da opressão cruenta, avoluma-se o processo de desrespeito às condições de vida do trabalhador. A tragédia de Brumadinho revela a nudez da concepção das oligarquias em relação às metas de lucro. Tudo isso vem de longe. Mais recentemente, como já abordamos, tivemos explorações desumanas, de verdadeira escravidão, a exemplo das mortes nas minas de Potosí, na Bolívia. No Brasil as escavações, especialmente no século XVII eram feitas por escravos, que morriam aos milhares escavando montanhas. As grandes explorações que enriquecem dominadores pouco consideram o pobre ser humano. O lucro das mineradoras é altíssimo, mas a vida das pessoas, da terra, dos rios e dos animais, pouco importa. E mais! Estes grupos de exploração têm pleno conhecimento das consquências. Sabem que a desgraça ronda extensas áreas próximas, onde vivem pessoas, especialmente trabalhadores. E pouco importa que a morte os leve na devastação de um desastre previsível. Assim era no tempo da escravidão. E o pobre ser humano só é visto pelo lucro que seu trabalho representa.
Pena pecuniária
Não devemos imaginar que eventual condenação criminal de gestores da Vale seja suficiente. O que vale realmente é a imposição de pena pecuniária, que atinja o bolso dessa gente.
Chico Mendes
O ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente, ainda que venha desculpar-se, mostrou que a política de governo de Bolsonaro quer reduzir valores de preservação. Ao se manifestar de modo prepotente em relação ao herói e mártir Chico Mendes, liderança reconhecida mundialmente, de fato representa a ascendência da bancada ruralista em relação aos rumos políticos do Brasil. A idéia é desconstituir verdadeiros heróis de nossa história. Tudo para facilitar o lucro dos predadores de nossas reservas ambientais.
Mourão
A iniciativa de transferir a embaixada brasileira de Tel-Aviv para Jerusalém, anunciada por Bolsonaro, não parou de pé. O vice-presidente Hamilton Mourão percebeu que seria uma burrada econômica ao provocar a ira árabe que importa frango do Brasil em grande quantidade. Embora seja militar e conservador rijo, Mourão adverte contra esse fundamentalismo religioso recomendado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Aproximar-se de Israel para troca de tecnologia e comércio é bom. Refestelar-se não é recomendável. Em manifestação recente, Mourão salienta que Chico Mendes, assassinado em 1988, é parte de nossa história na defesa de valores do Brasil. Com inteligência democrática alerta os alucinados que se sentem donos do poder para desmerecer lutas populares.
Joãozinho
O presidente de honra do PSB de Passo Fundo João Luiz Rodrigues Soares, falecido nesta terça-feira deixa saudade entre familiares e amigos. Foi importante também na militância política pela sua capacidade intelectual e virtude de liderança. Descanse em paz, Joãozinho, como era chamado.