O que Deus fez em seis dias, segundo o Gênesis, a natureza parece ter levado entre 10 e 20 bilhões de anos (aceitando-se uma idade do universo estimada em 15 bilhões de anos). Afinal houve um começo, até porque termodinamicamente não poderia ter sido de outra forma, e quer seja este o “no princípio, Deus criou os céus e a terra...” ou o Big Bang, tudo teria transcorrido num lapso de tempo de seis dias de 24h ou em 15 bilhões de 365 dias? Não vale simplificar, admitindo que um dia do Gênesis corresponda a mais ou menos uns três bilhões de anos e que, portanto, o universo teria por volta de 18 bilhões de anos (bingo!).
Para aqueles que se limitam ao literalismo dos textos bíblicos, a idade do universo seria de uns 57 séculos (5700 anos, desde Adão). Pelas estimativas cosmológicas, do Big Bang até os tempos atuais, já se passaram uns 15 bilhões de anos. E o que poderia ser uma contradição de tirar o sono de muita gente, pode ter uma explicação cientifica racional, como a intentada por Gerald L. Schroeder, Ph. D. em física pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), cuja sua ânsia por descobrir a harmonia entre a ciência moderna e a bíblia, resultou no livro Genesis and the Big Bang, publicado em 1990.
Encontrar uma justificativa para a discrepância entre os 5700 anos bíblicos e os 15 bilhões de anos do Universo, mesmo não sendo fácil não é algo impossível. Há que se usar a sabedoria da tradição e o conhecimento da ciência, afirma Gerald L. Schroeder. Ou unificamos o sagrado e o profano ou, alternativamente, nos resignamos em escolher entre a compreensão da história cósmica pela via da ciência ou pela interpretação da bíblia.
A ciência e a religião buscam a mesma coisa: a verdade. Mas, para interpretar o que há (em comum ou diferente) entre o Divino e o natural, precisamos ir além dos textos sagrados. Buscar a origem do universo exige, sem necessariamente a exclusão do Gênesis, que se dê um passo a mais do que está contido na bíblia. Ignorando os ensinamentos científicos sobre a natureza corremos o risco de retroceder a Galileu Galilei e, sem alternativas, admitirmos que a Terra é o centro do universo. O entendimento de coisas como o princípio da incerteza de Heisenberg, do conceito de entropia e de alguns aspectos básicos da teoria da relatividade de Einstein ainda é necessário para uma compreensão do dia a dia dos encarnados.
Ninguém minimamente informado pode desconhecer os 15 bilhões de anos que são presumidos como a idade do universo. Tampouco que habitamos um planeta chamado Terra que data de 4,5 bilhões de anos atrás, que viu surgir, entre 3,5 e 4,0 bilhões de anos, os primeiros organismos vivos, na forma de bactérias e algas azuis, e que, mesmo sendo contestada, não se conhece explicação melhor que a teoria da evolução das espécies para a criação de toda a diversidade das formas de vida dos tempos atuais.
Um literalista radical (ou um leitor superficial do Gênesis) entende que não existiu um homem pré-histórico. O primeiro homem, na sua visão de mundo, foi Adão e ponto final. Para esses, os 60 mil anos do homem de Neanderthal não são mais que um erro de 54.300 anos. Biblicamente falando, o conceito de homem seria aplicável a Adão e seus descendentes. A validade desse tipo de interpretação não necessita de prova. Aceita-se, meramente, por rejeição das teses científicas ou por uma questão de fé.
Gerald L. Schroeder, mesmo consciente de que a humanidade, fisicamente, não é o centro do universo, achou um jeito para que os seis dias da criação (do nada até Adão) não pareçam excludentes em relação aos achados científicos. Começou abandando o literalismo do texto bíblico e os ensinamentos de Sir Isaac Newton, que impregnado pelo determinismo, nos legou um conjunto de leis naturais previsíveis. Adotou o referencial de espaço-tempo, da relatividade de Einstein, e os seis dias ou os 15 bilhões de anos, com tudo começando e finalizando no mesmo instante, puderam ser harmonizados.
De uma coisa eu não duvido: o mundo já era muito velho quando Adão, eu e você, caro leitor, chegamos por aqui.