Parar? Nem pensar! A meta é presidir o MTG

A coordenadora da 7ª Região Tradicionalista fez história ao ser a primeira mulher no comando de uma região e não quer parar por aí

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Após 18 anos, Gilda dá adeus a coordenadoria da 7ªRTApós 18 anos, Gilda dá adeus a coordenadoria da 7ªRT
Após 18 anos, Gilda dá adeus a coordenadoria da 7ªRT
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Quem disse que Gilda Galeazzi só voltaria a usar vestido de prenda em eventos sociais do MTG ao anunciar que está deixando a 7ª Região Tradicionalista? Ledo engano. Depois de fazer história ao ser a primeira mulher a comandar uma região tradicionalista, Gilda almeja o comando estadual do MTG. E foi na sala de estar da sua casa, que ela recebeu a equipe de O Nacional para contar sua história no movimento tradicionalista. No espaço, ela exibe com orgulho os mais de 30 troféus, certificados e homenagens que recebeu ao longo dos anos no comando da 7ª Região Tradicionalista. Foram 18 anos como a primeira mulher a ocupar um cargo eletivo em um movimento, considerado até então, muito conservador. Gilda coordenou a região no período 1996 a 2004. Depois de um tempo, voltou a ser candidata e desde 2011 lidera o tradicionalismo em 42 cidades do Norte do Rio Grande do Sul, com aproximadamente 100 entidades filiadas. Só em Passo Fundo, são 16 entidades. Agora, o próximo desafio é a candidatura para a presidência do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), em 2020.


Gilda começou a frequentar o CTG em 1968, participando da invernada mirim do Osório Porto. Na época, o marido havia sido patrão do CTG Fagundes dos Reis e foi a partir daí, como esposa de patrão, que ela começou a atuar no movimento. Quando convidada para ser coordenadora da 7ªRT, conta que o cargo foi inesperado. A formação acadêmica em administração auxiliou Gilda a colocar em prática uma agenda de gestão na entidade tradicionalista, mesmo enfrentando uma série de obstáculo. Como explica Gilda, naquele tempo o papel da mulher seria de prenda do lar e dos serviços de recepção, já que os cargos administrativos eram liderados apenas por homens. Foi então com essa quebra de paradigma que possibilitou a mulher crescer dentro do movimento tradicionalista, com respeito por parte de todas as entidades.


“No primeiro momento eu tive um certo receio, até de como a gente ia ter essa afinidade já que a liderança do processo era majoritariamente masculina e, principalmente, a parte campeira. O homem ia para a atividade de lazer e nós, como mulheres de patrão, éramos mais encarregadas de receber as pessoas, liderar o processo da cozinha e da ornamentação do CTG. Então no início da coordenadoria foi bem difícil, no primeiro e segundo ano em especial até nós visitarmos todos os municípios, com umas 90 entidades na época, tinha muita restrição. Hoje já temos um número bem significativo e expressivo de mulheres que estão na atividade campeira, mas na época não era normal”, ressalta. No ano passado, oito mulheres ocuparam cargo de coordenadora da região no Estado.


Para o próximo ano, Gilda colocou o nome à disposição para a presidência do MTG. “Eu fico ainda esse ano como coordenadora, mas agora vou tentar o comando estadual. Não é fácil, esse ano nós já tivemos uma mulher como candidata à presidência e ela acabou não sendo eleita. Além disso,aqui nós somos o miolo da região norte do Estado que é diferente do que administrar todo o Rio Grande do Sul. Nós ainda temos um pouco de dificuldade de relação com as outras regiões e queremos com isso mais crescimento do movimento, para que possamos debater e achar mais soluções para as questões. Mas o que estamos sentindo é que as pessoas já querem mudança e, por exemplo, desejam que a minha sucessora seja também uma mulher. Isso é um sinal de respeitabilidade”, pontua.


Desafios enquanto coordenadora
A coordenadoria era vista até então como uma secretaria para ordenar as demais entidades. A construção de uma relação de afinidade foi um processo lento, já que os CTGs eram mais fechados e não havia um conceito de comunidade. Segundo Gilda, esse processo foi se invertendo nas atividades e eventos realizados, já que independente do segmento que fosse, a coordenadoria procurava estar sempre presente. “Foi nesse sentido que nós conseguimos fazer com que as entidades saíssem de dentro das quatro paredes também, fosse para a rua e fosse visto o movimento tradicionalista gaúcho como um segmento da sociedade civil organizada”. Além disso, Gilda afirma que as entidades ainda passam por dificuldades por não se sujeitaram a ser como uma empresa, já que todo o trabalho é voluntário e se tem apenas um CTG na cidade que possui secretária remunerada.


A acústica do ambiente é outro desafio da coordenadoria e que precisa ser levado para um debate mais amplo. “Os nossos CTGs aqui da cidade foram construídos na época em que não se tinha vizinhança no entorno, mas hoje as casas estão encostadas, como é o caso do Osório Porto e do Dom Felipe de Nadal. Então, ocorre ainda denúncias dos vizinhos de poluição sonora. Quando as entidades fazem os eventos com música gaúcha não tem problema nenhum, mas quando alugam os CTGs nós temos dificuldade. O União Campeira, que havia sido interditado, nós conseguimos manter as atividades de novo, mas só durante o dia. O Tropel de Caudilhos, que é a entidade mais longe, nós já estamos tendo dificuldades por causa dos ensaios da invernada”, lamenta Gilda.

 

O amor pela indumentária gaúcha
Em um cantinho especial da casa, Gilda mostra a coleção com mais de 25 vestidos de prenda, além das inúmeras saias de armação, casacos próprios da indumentária gaúcha e bombachas femininas. Para a coordenadora, preservar os vestidos não é nada complicado. “A gente já compra tecido que não precisa passar, então eu lavo tudo na máquina. Eu mesmo monto os meus modelitos, e sempre tem que ter alguns mais sociais. Dificilmente há um fim de semana que eu não use uns dois ou três vestidos, já que nós temos muitos eventos. Como eu estou quase sempre de vestido de prenda, tem muitas pessoas que não me reconhecem com roupa do dia-a-dia”, brinca.


A origem das roupas usadas pelas mulheres nos dias de hoje tem um história antiga. O vestido de prendaé formatado com modelos da moda europeia, quando as filhas dos estanceiros costumavam ir estudar na Europa e importaram essa referência. Os primeiros vestidos eram confeccionados com muitos babado e acessórios, depois a própria comodidade e praticidade foi tirando esses detalhes e os tecidos, que eram produtos caros, fomos se transformando em tecido sintético. Para manter o orçamento, são feitos de dois a três vestidos a cada ano.

 

Adesão ao movimento tradicionalista
Em Passo Fundo, há cerca de 20 mil pessoas que frequentam um dos 16 CTGs. Entre dançarinos praticantes do movimentos tradicionalista gaúcho são 1.5 mil, desde crianças dos quatro anos até as invernas de 50 e 60 anos. Só de jovens no Rio Grande do Sul, são 400 mil que participam dos Centros. Segundo Gilda, a adesão ao movimento tradicionalista está maior, especialmente por parte dos jovens, porque ainda que se tenha regras, a abertura dos CTGs está maior, já que também não é obrigatório o uso do traje típico.

 

Ambiente familiar
Seja nas atividades, almoços, jantares ou fandangos, os Centros de Tradição Gaúcha são ambientes em que as pessoas apreciam o momento em família. “A família hoje é a principal estrutura dos CTGs. Nesse local, não têm restrição, e tudo por causa da família. Nós temos crianças, jovens, adultos e idosos todos reunidos. Outro detalhe é que nesse espaço nenhum tradicionalista tem uma conduta que não seja ética. A cultura gaúcha é copiada pelos outros 26 estados da Federação. Nós temos 45% do PIB de Turismo que são referentes a cultura gaúcha. Somo um exemplo, e sempre envolve a nossa família. Os próprios centros se tornaram uma família só”, ressalta a coordenadora.


Geração de renda
“Hoje nós temos em torno de 1.500 cavalos nas hospedarias da cidade, quantas agropecuárias que vieram a se criar e quantas hospedarias que estão dando oportunidade para as pessoas. Manter um cavalo custa em torno de mil reais/mês, pois tem hospedaria, alimentação, medicação e a parte das encilhas. Os próprios grupos de dança - quantos costureiros temos, hoje tem cerca de cinco lojas que vendem tecidos especializados naindumentária. O tradicionalismo gaúcho também é geração de emprego e renda em outras áreas”.

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