Habituados aos dois aposentos que os divide para atendê-los conforme a necessidade, os idosos acolhidos pela Fundação Beneficente Lúcas Araújo compuseram, na tarde de quarta-feira (27) uma única ala durante a festa de Carnaval promovida pela entidade assistencial. O evento, presente há 10 anos no calendário da instituição como uma data fixa, busca celebrar a alegria daqueles que há muito tempo mantêm as marchinhas carnavalescas na memória. “Nós promovemos essas festas periodicamente porque, para eles, todo dia é dia de comemorar, e isso permite que o cotidiano não se torne ocioso”, comenta a assistente social da entidade, Denise Rossetto.
Com os passos cautelosos ritmados pelas baterias da escolas de samba de Passo Fundo, os cerca de 70 foliões divertiram-se dançando em par com os artistas do Grupo Ritornelo de Teatro, além de profissionais e voluntários que atuam para fortalecer os vínculos afetivos entre os idosos. “Um dos objetivos também foi trazer os jovens para colaborar para que eles comecem a criar um espírito de voluntariado e uma consciência sobre a própria velhice”, destaca o Coordenador Municipal da Juventude, Michel Oliveira.
Um entusiasmo de outros carnavais
As serpentinas e confetes que caíam sob os longevos foliões é uma sensação experimentada desde a juventude pela aposentada Lídia Dutra Granville. Aos 92 anos, dois deles como moradora da Fundação Lúcas Araújo, ela diverte-se ao recordar os velhos tempos. “Quando íamos aos bailes de Carnaval, pintávamos os nossos rostos com o carvão que encontrávamos nos fogões a lenha”, relata. Se, há décadas atrás essa era a única alternativa para se fantasiar, hoje ela aproveita o baile com um vestido de cores vibrantes e uma máscara que cobre parcialmente seu rosto, deixando visível apenas os olhos celestes. “O Carnaval agora tem mais liberdade”, analisa enquanto sinaliza com os dedos o comprimento de tecido permitido quando era jovem.
Viúva e sem filhos, após duas gravidezes ectópicas que resultaram em abortos, Lídia comemora a possibilidade de resgatar os momentos vividos, em um passado distante, na companhia de seus irmãos e amigas. “Sempre que eu ouço tocar alguma música, eu quero dançar. Quando eu era moça, aprendi a tocar teclado e tenho vontade de cantar, mas nem sempre eles [referindo-se aos outros idosos] querem acompanhar”, queixa-se.
A possibilidade de celebrar o Carnaval, para ela, significa a independência conquistada na terceira idade. “Depois que o meu marido morreu, eu até tive a opotunidade de namorar outra vez, mas ele não gostava tanto de sair como eu e meu primeiro companheiro. Então, decidi ficar sozinha”, relembra com um sorriso saudoso.
A fundação
A Fundação Beneficente Lúcas Araújo acolhe 70 idosos em caráter de moradia divididos nos abrigos São José e João XXIII, conforme as necessidades. Comparilhando aposentos, de acordo com o sexo, eles são motivados a realizar atividades recreativas com o apoio de uma equipe técnica composta por profissionais da saúde, como médicos, enfermeiros; assistentes sociais e voluntários. “Nós sempre levamos eles a eventos promovidos pela comunidade, porém a nossa maior dificuldade é o transporte – que muitas vezes precisa ser adaptado. Pra isso, contamos com a boa vontade de algumas empresas”, relata a assistente social da entidade, Denise Rossetto.