OPINIÃO

Laranja não é flor

Por
· 2 min de leitura
Você prefere ouvir essa matéria?
A- A+

O ministro Marcelo Álvaro Antônio (PSL) tentou foro privilegiado, que foi negado liminarmente pelo Supremo, em decisão do ministro Fux. É a segunda tentativa que não encontra respaldo judicial, considerando que na semana passada havia tentado censurar denúncias de suposta fraude eleitoral mediante desvio de verba através de candidaturas “laranja” em Minas Gerais. A pretendida blindagem falhou. A matéria vai ser investigada sob a égide judicial de primeira instância. Embora o ministro do Turismo seja depositário de expectativa eufórica, já se prenuncia na conta de desgaste sério para o primeiro escalão do governo Bolsonaro. O fato de não ser o único caso entre vários partidos apontados não é argumento favorável, pois se trata da versão do dinheiro público. Flor de laranjeira tem agradável aroma, mas laranja podre, não! Para quem ostenta cargo de ministro de governo, a gravidade é maior.

 

Multa ambiental
Como se sabe, grande parte de grandes proprietários rurais foram autuados pela fiscalização do IBAMA, por desmatamento ilegal, principalmente devastação de mata ciliar. O ex-presidente Temer expediu decreto oferecendo formas mais brandas de cumprimentos das penalidades impostas mediante negociação administrativa denominada conversão indireta. Bolsonaro tem alegado que as punições impostas são muito severas e que a destinação de 40% para ONGs ambientais são ideológicas. Agora, com o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, o governo pretende sediar negociações através de conselho, diferente do corpo fiscal ambiental para julgar (inclusive reduzir ou isentar as multas). O fato é que as penalidades se arrastam em milhares de processos e menos de 5% das multas estão sendo pagas. É uma fortuna que, certamente, será perdoada, principalmente a grandes proprietários, como quer a bancada ruralista. É bom lembrar que os efeitos pedagógicos de afrouxamento da fiscalização às novas leis encontram severa advertência por conta dos trágicos acontecimentos no âmbito ambiental e preservacionista.

 

Comida do lixo
As redes de TV têm mostrado que no Brasil há muita gente freqüentando os lixos, lixões, em várias periferias, reaproveitando descarte de alimentos, especialmente frutas e legumes desabilitados para o comércio. O desemprego na faixa mais pobre produz esse sinal. Nosso país, no entanto, é muito rico em alimentos e produz sobras abundantes. Além disso, não há censura à imprensa que mostrou cenas de tal miséria. Em qualquer cidade de médio porte vemos pessoas revirando lixo para pescar algo que mereça ser aproveitado como alimento.

 

Maduro provocante
A censura ao repórter estrangeiro na entrevista do presidente Maduro, em Caracas, é repudiável. Violou a liberdade de imprensa e deteve o jornalista, além da arbitrariedade de reter o material coletado. Lembrei de censura semelhante quando tive meu instrumento de trabalho confiscado pelo major Curió, na Fazenda Anoni, em reportagem com colonos acampados. É violência à liberdade de informação. A população venezuelana emagrece por falta de comida e Maduro faz provocações opulentas, inclusive abocanhando empanado, de um só golpe, defronte as câmeras. É muita provocação ao zombar da fome.

 

Carta de sabujo
Certamente a famigerada carta do ministro Ricardo Vélez Rodrigues não passou pelo olhar de aprovação do presidente, menos ainda pelo crivo do vice, Mourão. A atitude “cívico-pueril” do ministro pretendendo loas ao slogan de campanha eleitoral de Bolsonaro, inserindo num pacote de marketing o Hino Nacional, suscitou discordância geral. Quis dar uma de puxa saco, mas infringiu a lei ao dispensar o desvelo de imagem infantil. Além disso, a iniciativa fere o princípio da impessoalidade no exercício da função pública. Sabujo imprudente comete coisas esdrúxulas. Nosso hino merece melhor cuidado cívico e mais do que desculpas do ministro trapalhão.

 

Fala, Cabral!
O ex-governador Sérgio Cabral tentou uma guinada ao citar nomes de lideranças emedebistas neste saco sem fundo de corrupção. Falou fluente e tentou explicar que deflacionou a propina. E que, no final, “não fosse sua sagacidade de gestão”, o roubo seria muito maior. Conta outra!

Gostou? Compartilhe