As diferentes etapas da violência dentro de casa

Nesta sexta-feira (08), o projeto estará na Praça do Teixeirinha, a partir das 13h30min, para dialogar com a comunidade sobre a violência doméstica

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Casinha representa as etapas da violência domésticaCasinha representa as etapas da violência doméstica
Casinha representa as etapas da violência doméstica
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A ideia de representar e dialogar sobre o Dia da Mulher no local onde a violência doméstica mais ocorre, em casa. O projeto, desenvolvido pelas Promotoras Legais Populares de Passo Fundo, trabalhou com todos os alunos da Escola Monteiro Lobato, na tarde de ontem, (07). Um dos objetivos foi mostrar aos estudantes a realidade vivenciada por estas mulheres, que sofrem violência, em sua maioria, por parte de seus companheiros. A casinha, divida em dois cômodos, demonstra inicialmente o ambiente do lar de uma forma mais feliz e colorida. Posteriomente, as fotos em preto e branco na parede, remetem às mulheres com o rosto tapado e a dificuldade que muitas destas possuem em denunciar o agressor. A atividade foi desenvolvida com os alunos do 1º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio.

 

“É fantástico poder ter a simbologia da casa como o lar. Primeiro tem aquele sonho encantado de muitas mulheres, de possuir a sua casa, sua família e ser feliz, mas depois a gente passa para uma outra realidade, que é onde se tem a violência doméstica. Então retratamos isso com a foto de algumas mulheres com a boca tapada, que é a realidade de algumas famílias e lares, onde existe a violência doméstica e é onde existe o maior número de violência contra a mulher, dentro da sua própria casa. É uma meneira de representar o sufocamento, de não poder falar ou denunciar. Temos também a representação do quarto, um lugar que deveria ser de afeto e amor, mas infelizmente acaba sendo o lugar onde de fato a violência acontece, com armas e objetos que são comuns do ambiente”, pontua uma das responsáveis pelo projeto, a Promotora Legal Popular, Marinisa dos Santos.

 

A última fase na casinha é o da superação, onde a mulher consegue denunciar esta violência sofrida. “Se não for de total superação, que seja no qual a mulher consegue denunciar o agressor. Assim, ela já está um passo a frente. Infelizmente, muitas não conseguem chegar até aqui ou ficam no caminho sofrendo uma vida toda. A Lei Maria da Penha, apesar de muito consistente, talvez ainda não seja suficiente para freiar a violência, e precisa de ajustes. Por exemplo, eu sempre fui defensora de que quem tem que sair da casa é o agressor e não a agredida. As medidas protetivas são muitos importantes, as casas de acolhimento são muito importantes e são conquistas, mas ainda não são suficientes. Nem sempre as medias protetivas libertam, às vezes uma conversa é mais libertador”, ressalta a promotora.

 

Ainda de acordo com Marinisa, a ideia é levar o projeto para outras escolas do município e tratar a questão com cada público, pois os relatos advindos, inclusive dos filhos, ainda é constante. “Tudo isso que a gente vive tem muito a ver com a culura machista, e essa cultura se muda com a educação, ensinando desde pequeno o respeito um com o outro. Não adianta esperar se tornar um adulto, revoltado e violento, para então querer mudar. A base está na educação e na família. Nosso objetivo hoje foi dizer a esses alunos que se quiserem, se tiverem problema, eles podem chamar a professora do lado ou a melhor amiga e conversar, porque deixar isso para si machuca muito o psicológico de uma criança”, finaliza.

 

PLPs
A Associação das Promotorias Legais Populares (PLPs) de Passo Fundo existe há 19 anos. São cerca de 18 mulheres que trabalham com mulheres vítimas de violência. É realizado atividades mensais, reuniões, atendimentos, além de possuir o Serviço de Informação à Mulher (SIM). "Nosso papel é de ouvir as mulheres, conversar e possivelmente realizar os encaminhamentos necessários”, explica Marinisa.

 

Sonho!
Valda Maria Nunes Belitzki - coordenadora da associação das promotoras legais populares, traz questionamentos e apontamentos para a redução da violência contra mulher no município. 

Paro para pensar e vejo que hoje em dia tudo virou motivo para gerar violência, e a impressão que dá é que nada mais pode chocar tanto! Aí me pergunto o que posso fazer? Como posso combater a violência? Essas são as perguntas mais frequentes que me faço. Preciso entender porque ela é tão presente na nossa sociedade. Em geral, vem associada ao poder, poder esse em que a mulher se submete, por diversas situações.

 

Penso que é somente com a efetivação dos diretos básicos das pessoas, das mulheres, onde tenham condições de uma vida digna com moradia, com assistência na saúde, no trabalho com salário digno, na educação com ensino de qualidade, sei também que para a redução da violência tem que ter segurança pública. Quando conseguirmos, por exemplo: capacitação continuada e permanente aos profissionais no que se refere à violência contra a mulher.


Que as DEAMS tenham atendimento 24 horas e finais de semana, garantir infraestrutura adequada às mesmas. Torço para que isso tudo se concretize somente assim terei estimulo para continuar fazendo o meu trabalho voluntário com mulheres vítimas de violência, e seus familiares, terei ânimo para nunca desistir de olhar com carinho o meu semelhante, assim ver que cuidar não é somente um ato, é uma atitude aonde envolve a responsabilidade, e a preocupação com o outro.


Enfim sei que o trabalho que realizo é necessário parar para acolher, ouvir, partilhar uma palavra de conforto, de carinho, de amor e esperança, de envolvimento com o outro. Assim sigo sonhando com um mundo mais justo para minha filha e neta, um mundo sem violência para todas as mulheres que lutam por seus direitos.

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