OPINIÃO

Amplidão do medo

Por
· 2 min de leitura
Você prefere ouvir essa matéria?
A- A+

Quando se ouvia, há poucos anos, a fala sobre globalização moderna, a grande maioria dos observadores eminentes firmavam expressões adesistas. Ai de quem não concordasse com as conclusões sumárias de que essa seria a onda redentora inapelavelmente propícia ao desenvolvimento econômico, social e humano. E assim, com a disparada simultânea dos meios de comunicação eletrônica passou-se ao banimento de toda a força naturalizada do cidadão. O ciclo dos últimos trinta anos foi de brutal equívoco em relação a valores. Por qualquer motivo, relegava-se a nacionalidade, língua, religião, cultura atávica, meio ambiente, liberdades, cooperação, ou desejos de compreensão. A globalização se projetou como idéia seletiva de lucros e castas. A marcha das novas oligarquias ganhou impulso. A aparente facilidade moderna e tecnológica que deveria ampliar o convívio dos humanos instalou-se alheia à solidariedade. O rumo inexorável desta onda global varreu os motes de tolerância, e instalou o medo coletivo. O desemprego, a falta de segurança, e a iminência de novas guerras saíram do alcance político ou ético. A estrutura atual do mundo não é mais confiável sob a ótica da paz.

 

O estado que se exime
O brilhante pensador moderno, Zygmunt Bauman, que faleceu aos 92 anos, (em 2017) versa sobre os medos acumulados no cotidiano do cidadão comum, como o envenenamento de nosso ar, de nossa comida, além da abundância de atrocidades, o crime etc. Menciona que o estado rebaixa a luta contra os medos para o domínio da política de vida, ao mesmo tempo em que adquire suprimento de armas no mercado de consumo. O estado se exime da responsabilidade, como observa Thomas Matiesen. Em sua obra Medo Líquido, Bauman comenta Jean-Pierre Dupuy. Compara o assassinato por ação individual intencional, a um assassinato em resultado de cidadãos egoístas de países ricos que concentram suas preocupações no seu próprio bem-estar, enquanto os outros morrem de fome. Nesse foco, não nos podemos perder em discussão sobre esquerda ou direita, menos ainda pensar em extrair conteúdos de solidariedade do alucinante modelo conservador dominante. O problema é que assim vamos nos matar uns aos outros.

 

Ilusões
Todas as catástrofes que assolam o Brasil urbano e rural tiveram o período de previsibilidade. Seria contradição absurda imaginar que os deslizamentos, rompimento de barragens e falta de água não fossem do conhecimento técnico das instituições. As concentrações das cidades formam bomba-relógio em todos os quadrantes. É claro, especialmente nas periferias. Tudo previsível, mas tratado com subterfúgios pelas gestões institucionais. Os meios técnicos modernos são instrumental preciso que nunca é usado preventivamente. A cidade deveria ser a concentração de facilidades, mas se torna ilusão! Pensar a cidade é prevenir com força solidária, mas isso é tido como ingenuidade.

 

Indústria efêmera
A Volkswagen vai fechar sua montadora. Antes foram os anúncios da Ford e GM. Com a inevitável concorrência mundial entre as marcas famosas, a indústria chinesa chaga fazendo estrago. A indústria automobilística que até agora era idolatrada pelos gestores de governo, vai se tornando efêmera.

 

Produção rural
A mais genuína produção nacional tem sido o sucesso mais perseverante de nossa economia. As grandes propriedades carregam fielmente as melhores e mais seguras conquistas econômicas. Importante, porém, é sabermos que as propriedades familiares são verdadeiras mantenedoras de postos de trabalho direto, além de imprescindíveis para a produção e segurança alimentar.

 

Marielle
Com a prisão de (PM) Ronnie Lessa e o ex-policial Elcio Vieira de Queiroz, acusados de terem assassinado Marielle Franco e Anderson Gomes, no ano passado, no Rio, a polícia apresenta o primeiro resultado das investigações. O fato de Ronnie revelar obsessão contra líderes da esquerda não esgota a investigação. Acontece que ele foi vítima de tentativa de morte logo após o crime. Isso sugere queima de arquivo. E pode significar que tem muito mais coisa a ser contado. Quem foi o mandante, ou mandantes?

Gostou? Compartilhe