Mortas e violentadas por homens do círculo familiar unicamente por serem mulheres: em um ano, o feminicídio vitimou 17 pessoas em Passo Fundo, e colocou a cidade no ranking dos cinco municípios gaúchos com as maiores taxas de assassinato de mulheres pela condição de gênero.
Em um cenário nacional, onde a cada duas horas uma mulher morre e nove são agredidas, Passo Fundo registrou, no ano passado, 1.019 ocorrências por ameaça; 479 vítimas femininas de lesão corporal e 40 estupros, de acordo com dados divulgados pela Secretaria de Segurança Pública do Rio Grande do Sul (SSP/RS).
As agressões físicas ou verbais partem dos companheiros, irmãos, pais, amigos ou tios próximos à vítima. Os assassinatos, no entanto, são cometidos, geralmente, por parceiros íntimos em um contexto de perda do controle ou posse em relação às vítimas femininas.
Nos três primeiros meses deste ano, 63 boletins de ocorrência foram registrados na Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (DEAM), em Passo Fundo. Esses graves indicadores de violência nos âmbitos psicológicos e físicos foram lembrados pelas passo-fundenses que se reuniram, durante a tarde de quinta-feira (14), na Marcha das Mulheres.
Caminhada
No dia em que completou um ano do assassinato da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL/RJ) e do motorista Anderson Gomes, aos poucos, elas começaram chegar à Praça Teixeirinha para dar início a mais uma mobilização.
Embora geograficamente distantes, a rotina de violência e a voz que se altera para denunciar essa realidade é o elo entre todas as mulheres, e mote da concentração que tomou as ruas em diferentes cidades do país. Entre palavras de ordem, cartazes e corpos pintados, os movimentos feministas de Passo Fundo criaram um espaço de escuta e debate. “Essa manifestação é mundial e acontece, geralmente, no dia 8 de março. Mas, esse ano, decidimos fazer nessa data para denunciar a execução da Marielle, possivelmente por motivos políticos, e o fato do crime ainda não ter sido resolvido. Além disso, é contra as reformas Trabalhista e da Previdência porque as mulheres trabalhadoras são as mais afetadas pelas propostas”, explica a artista visual, Mariah Teixeira.
Integrante de dois movimentos presentes na cidade – o Movimento Nacional de Mulheres Olga Benário e do Coletivo Maria, vem com as outras -, ela endossa a atenção para os elevados índices de violência doméstica. “Passo Fundo é um dos municípios do estado com as maiores taxas de violência contra a mulher. Os movimentos atuam de diferentes formas na elaboração de marchas, grupos de estudos feministas, palestras e atividades de formação contra a violência machista”, esclarece.
Feminismo não é o contrário de machismo
A artista visual lembra que, dentro dos movimentos feministas, existem diferentes vertentes. “Há as correntes próximas aos movimentos sindicais e, na cidade, também temos a Associação Cultural das Mulheres Negras. De certa forma, eles acabam se unificando dentro dessas organização de atos nacionais, como esse”, explicita.
Segundo a jornalista Ingra Costa e Silva, desde 2013, o pioneiro Coletivo Maria, vem com as outras, atua em Passo Fundo na pauta central do movimento, que é a busca por igualdade entre os gêneros masculino e feminino, e pela participação da mulher nos diversos setores da sociedade. “Houve a criação do grupo de estudos e, no decorrer do anos, ele foi ganhando uma nova roupagem. A ideia é que as mulheres ocupem todos os espaços que elas puderem ao trazer a pauta de demandas delas para conhecimento da comunidade”, esclarece.
Surgido na década de XIX, o conceito de feminismo se desenvolveu na qualidade filosófica, social e política. Para a jornalista e especialista em Ciências Sociais, Vanessa Lazzaretti, as manifestações contrárias ao movimento são explicadas pela natureza de criação da sociedade, fundamentada no patriarcalismo. “Tudo foi criado pelo olhar do homem e não da mulher porque elas eram impedidas de frequentar alguns espaços. Por isso, falamos que o patriarcado e o machismo são problemas estruturais, e essa aversão ao feminismo se deve pela tomada de consciência das mulheres em relação a tudo o que elas podem fazer e ocupar. Os homens se sentem ameaçados pelo medo de perder seus privilégios”, analisa.
Mulheres na linha de frente contra a violência
Além dos coletivos feministas, o Projur Mulher e Projur Mulher Cidadã realiza ações de acompanhamento jurídico processual e acom das mulheres vítimas de violência e seus filhos. O projeto, vinculado à Faculdade de Direito da Universidade de Passo Fundo (FD/UPF), fornece auxílio às vítimas acolhidas na Casa Maria da Penha e pode ser acionado através do telefone (54) 3316-8576 ou junto ao Campus III, na Avenida Brasil Oeste, nº 743, no Centro.
Canais direitos de denúncia
As diversas tipificações de violência contra a mulher devem ser denunciado aos órgãos de segurança pública. A Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher, em Passo Fundo, atua para o enfrentamento e registro das ocorrências. Além dela, a Central de Atendimento à Mulher é outro meio direto de comunicação, por meio do número 180.