Nos tempos da Revisteira
Há dias em que sinto muita falta dos finais de tarde na Revisteira Central. Bate saudades dos encontros com os amigos em meio aos jornais e às revistas. Desde 1962, o local foi ponto de convergência de muitas gerações que se deliciavam com o aroma do material impresso. Ingressei nesta confraria a partir de 1979, quando a segunda geração da família Ramires já comandava a Revisteira, através do Aldrian. Criei uma rotina e, mesmo recebendo em casa O Nacional e o Correio do Povo, batia ponto por lá. Minhas encomendas eram O Pasquim, Jornal do Brasil de domingo, algumas edições do Estadão e, claro, a revista Flap. Também chegavam publicações sobre cozinha, depois transformada em culinária e, hoje, ai de quem não usar a expressão gastronomia. Pois bem, essas raridades da época, além de algumas dedicadas senhoras, só tinham outros dois compradores: Douglas Pedroso e eu. E quando vinha algo diferente e sobrava apenas um exemplar, a Lorena se desdobrava para não magoar nenhum desses dois apaixonados pela boa mesa. O encanto para os meus olhos era a variedade das prateleiras, com parada obrigatória nos exemplares sobre eletrônica. Autodidata, levava os mais elementares. Os mais sofisticados eram encomendas exclusivas para o Antoninho Ferri.
Ainda a Revisteira
A Ramires era, de fato, bem central. Um corredor com prateleiras atrativas. O Maurício, com muita timidez, às vezes mostrava seus desenhos. Era fera e já conhecia tudo sobre HQ. O Augusto descarregava energia correndo em um lado para o outro, enquanto a Fernanda ainda nem estava na prancheta. Ali fortalecemos uma amizade familiar que culminou com o bacalhau das Sextas-Feiras Santas, uma tradição de quase 40 anos. As manhãs de domingo eram concorridíssimas. Mas aos finais das tardes de sábado havia uma turma cativa que batia o ponto na Revisteira. Fardado de atleta, o professor Dárcio Vieira Marques chegava para pegar O Estadão. Contava que tinha jogado uma baita partida de futebol. Educados, acreditávamos, é claro. Por ali tínhamos um autêntico perfil dos passo-fundenses. Era um desfile eclético da intelectualidade, com destaque para cabeças privilegiadas de todas as idades. Encontrava o Homerich em busca de revistas sobre tênis. Cruzava com a discrição elegante do Dr. Sérgio Lângaro ou a divertida espontaneidade da Tânia Rösing. Marcavam presença o Osvandré e o Osmar Teixeira, com direito a uma prosa na calçada. Aliás, a Céia Giongo após 20 minutinhos de Revisteira, estava com as cartucheiras carregadas para mais uma coluna social. Páginas que nos próximos dias estariam ali mesmo nas concorridas pilhas do jornal O Nacional. Porém, seguindo a metamorfose da própria sociedade, a Revisteira fechou em 2013. Foi um baque, ficamos muito tristes. E, hoje, para compensarmos essa imensa saudade, sorrimos com tão deliciosas lembranças.
Cortina de fumaça
Assim como nas previsões de Pai Magno, o ano de Xangô e Iansã está bastante movimentado. Eu diria conturbado e fora de foco. Somos envolvidos por fatos lamentáveis e impactantes. Lá fora caíram aviões, aqui tivemos a tragédia da barragem, a chacina na escola, um júri pelo assassinato de uma criança ou a prisão dos assassinos de uma voz que se erguia pelas minorias. Não bastasse esse cenário catastrófico, a classe política vem dedicando-se com esmero ao mais profundo besteirol. Até seria uma criativa produção humorística, se não fosse o trato da idiotice com a vida pública. Porém, independente do significado, isso tudo produz uma fumaça espessa que encobre atos e fatos muito importantes. É o caso de um decreto que extingue cargos em instituições federais de ensino. Seria um desmanche silencioso da universidade pública? Ao que parece, a educação pode ser definida como uma expressão abstrata utilizada apenas eleitoreiramente. E, em meio à fumaça, ficamos sonhando com a concretização efetiva do ensino.
Atualização do sistema
Não bastassem as atualizações do Windows, agora também chegam as do Android. Seriam evoluções cheias de inovações. Mas para mim são apenas confusões repletas de complicações.
Trilha sonora
Num clima nostálgico, apenas para lembrar que houve uma época em que havia música instrumental no dial. Nino Portelli: Schwarz Is Die Nacht
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