Em alusão ao Dia Internacional da Mulher, celebrado no dia 8 de março, o Instituto Libertarte convida a comunidade para participar de uma mesa redonda, que irá debater a violência e seus reflexos na juventude brasileira. O evento acontece nesta sexta-feira (22), às 18h30min, no Ministério Público Estadual (Rua Bento Gonçalves, 770), com o objetivo de promover a reflexão e o combate à violência contra a mulher, destacar o aumento do feminicídio no país e as graves consequências que este fenômeno tem imposto às famílias, às crianças, à juventude e à toda a sociedade. A entrada é gratuita.
Conforme explica uma das especialistas que integram a mesa, a doutora em Filosofia Patrícia Ketzer, promover e apoiar debates que tratam da violência contra a mulher é essencial para que as mulheres nadem contra a corrente e demonstrem o desejo de resistir. “Enquanto vemos que inclusive grandes figuras públicas, como a Marielle, estão sendo assassinadas, nós precisamos mostrar que isso não vai nos fazer retroceder. Não vamos voltar para a cozinha, não vamos nos fechar nos nossos lares, nós vamos resistir e continuar atuando politica e publicamente, ocupando nossos espaços. A nossa luta principal é por nos mantermos vivas. Isso precisa ser falado. Se a gente não verbaliza sobre as questões, elas caem no esquecimento”, defende.
Sobre o tema principal da mesa redonda, Ketzer elucida que o principal reflexo da violência na juventude é o ciclo que ela gera. “A criança que é criada a partir de uma lógica de violência e vivenciando a violência que o pai submete a mãe vai, na maioria das vezes, reproduzir essa violência, seja em casa, com a própria companheira ou na rua. É claro que a gente precisa considerar que o ser humano constitui a sua subjetividade de forma muito particular e que podem haver sujeitos que ao vivenciar a violência irão para o outro lado, porque vão tentar buscar serem mais amorosos e não reproduzirem a violência, mas na maioria das vezes o que acontece não é isso”. Nas palavras da filósofa, na maior parte dos casos, as pessoas que vivem em situação de violência desde a infância tendem a reproduzir esse comportamento em suas relações afetivas, familiares e interpessoais durante a vida adulta, associando até mesmo demonstrações de violência como atos de amor – o ciúme excessivo, por exemplo.
Daí a importância de expor tais questões para debate junto à comunidade e salientar as diferenças entre comportamentos amorosos e abusivos. “A gente precisa compreender que as palavras têm uma força e um poder incrível. Então, o que a gente fala, não é algo que vai ser esquecível ou que não vai ter reflexos. Inclusive, isso é algo importante de ser pensado quando a gente fala sobre a violência, porque ela não é só física, ela também é simbólica, e ela se dá através da verbalização e da reprodução de determinados estereótipos. Precisamos pensar em que contexto as crianças brasileiras estão sendo criadas. Essa ideia de que a gente pode resolver o problema da violência no país com mais violência é falsa. A violência é uma cadeia que vai acabar simplesmente se repetindo se a gente não parar e olhar profundamente para as causas disso”, esclarece.
Quem participa
Integram a mesa redonda figuras ligadas a movimentos de resistência das mulheres, como a educadora e militante dos Direitos Humanos, Edivânia Rodrigues da Silva; a professora da Universidade de Passo Fundo e doutora em Filosofia, Patrícia Ketzer; uma das coordenadoras da União Brasileira de Mulheres, Eliana Sardi Bortolon; a integrante do coletivo Maria Vem Com as Outras, Ingra Costa e Silva; e a doutora em Direito e professora da IMED, Tássia Gervasoni. Quem media a discussão é a reitora da UPF, Bernadete Dalmolin. Haverá ainda apresentação musical da Banda Libertarte.